Maurício Noriega: A humanidade no desabafo de Breno Lopes
Quem nunca errou, quem nunca rebateu críticas e perseguição com raiva? Uma pisada de bola não pode apagar a trajetória de Breno Lopes
Tenho visto muitas críticas e cobranças exigindo inclusive a demissão do atacante Breno Lopes, herói e vilão da vitória dramática do Palmeiras sobre o Goiás pelo Brasileirão. Torcedores e até jornalistas apontando dedos inquisidores e exigindo punição sumária ao atleta.
Breno errou? Sim. Mas quem nunca errou na vida? Quem nunca deixou a emoção aflorar num momento de desabafo? Quem nunca mandou um “chupa” ou um “cala a boca”?
Escrevo por experiência própria. Já me excedi e errei no exercício de minha profissão por perder a cabeça em situação de perseguição, ameaça etc. Errei, assumi, me desculpei e sigo a vida trabalhando, aprendendo a cada dia para não errar mais.
Breno Lopes é um profissional esforçado e dedicado. Entrou para a história do Palmeiras como herói improvável do segundo título do clube na Libertadores. Em mais de uma ocasião anotou gols salvadores na última volta do ponteiro.
Claro que o comportamento de um atleta profissional não deve ser comparado ao dos torcedores, movidos a paixão e emoção. Mas alguém duvida que se Breno Lopes tivesse comemorado em frente à torcida do Goiás seu desabafo seria festejado pelos palmeirenses? Eu tenho certeza.
O ambiente de pressão no futebol está insuportável.
A cada jogo os torcedores mais radicais e muitos dos analistas também radicais cobram atuações perfeitas. Exigem de atletas com perfil de Breno Lopes desempenho de Erling Haaland.
O atacante palmeirense vinha sendo cobrado por ter perdido um gol no último lance do clássico contra o Corinthians. A cobrança atualmente é cruel, insana. Extrapola uma vaia numa arquibancada e invade redes sociais, até mesmo momentos de lazer dos atletas e seus familiares. Mais de uma vez o profissional Breno Lopes saiu do banco para dar três pontos ao Palmeiras, para fazer uma recomposição providencial. Seu perfil é de um atleta profissional dedicado, sério e trabalhador.
Ao defender seu atleta usando o argumento de que ele, o chefe, também erra, Abel Ferreira mostra porque é um líder, além do que um excelente treinador. Os grandes líderes não empurram subalternos para a condenação pública. Os grandes líderes reconhecem seus erros e exaltam as virtudes dos comandados, sabendo criticar na hora certa e em ambiente apropriado.
Por mais que eu entenda a revolta de uma parcela de palmeirenses contra o gesto – errado, repito – de Breno Lopes, cobrar a saída do jogador me parece um ato extremo.
Quantos torcedores não prejudicam seus clubes com atos violentos, agressões, invasões, ameaças? Alguém já viu um jogador ou dirigente pedindo que um torcedor seja excluído do quadro de apaixonados? Quantos torcedores pedem desculpas por seus atos impensados, muitos deles violentos e até mortais?
O Palmeiras tem um comando de futebol experiente e preparado. Provavelmente organizará um ato oficial no qual Breno Lopes se desculpará publicamente.
Ainda que não seja um craque insubstituível, Breno Lopes tem crédito profissional e histórico para ser perdoado pela torcida que canta e vibra.