Libertadores

Da tristeza ao Dinizismo, Fluminense tem decisão para voltar à semi da Libertadores após 15 anos

Desde 2008, quando foi vice-campeão, Fluminense não chega às semifinais da Libertadores. De lá para cá, muita coisa mudou

Apenas noventa minutos separam o Fluminense de reencontrar as semifinais da Libertadores. Basta passar pelo Olimpia, no Defensores del Chaco, às 21h30 (de Brasília) desta quinta-feira (31). Nos 15 anos que se passaram, muita coisa aconteceu. O clube mudou, a competição se tornou diferente. Mas uma está intacta: a glória eterna segue sendo uma obsessão nas Laranjeiras — e agora também no CT Carlos Castilho.

O “novo” centro de treinamentos do Flu é uma das novidades no hiato entre o vice-campeonato de 2008 e o ano atual. Os primeiros anos foram os mais intensos. Como devem ser os próximos noventa minutos. Na cabeça dos tricolores, a nova decisão no Maracanã, disponível pela primeira vez desde então, é um dos motivos para a crença e a fé.

Fluminense tem esperanças de jogar nova final da Libertadores no Maracanã em 2023 - Foto: LEONARDO BRASIL / FLUMINENSE FC
Fluminense tem esperanças de jogar nova final da Libertadores no Maracanã em 2023 – Foto: LEONARDO BRASIL / FLUMINENSE FC

No ano seguinte, o Tricolor sairia de uma situação terrível com uma arrancada histórica, por pouco não vingou a decisão no mesmo Maracanã, e ainda seria duas vezes campeão brasileiro.

O Fluminense do jeito que era em 2008 não existe mais. O clube que bateu na trave naquela Libertadores não teria mais aquele mecenas — que voltaria ao clube anos depois sem sucesso — ou um patrocinador tão forte. Tentou voltar à já fracassada política dos anos 1990 do “bom, bonito e barato”. Mais uma vez, não deu certo.

Dessa vez, entretanto, o clube teria “de onde tirar”. Vieram as apostas em Xerém. Boas contratações. Times que não honraram os melhores tempos do clube, é verdade, e outros que também levaram só azar — ou foi o Sobrenatural de Almeida?

Com “a vocação da eternidade” de Nelson Rodrigues, a ajuda do Gravatinha e também muito trabalho, quase tudo é diferente. A Libertadores, entretanto, ainda não é uma das taças da sala de troféus. E por isso é obsessão.

31/08/23 - 21:30

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Olimpia Asuncion - Fluminense

Copa Libertadores - Manuel Ferreira

3rd Turno

Da tristeza de 2008 ao ‘Dinizismo' de 2023

O Tricolor deixou as suas Laranjeiras. Mudou para a zona oeste do Rio de Janeiro. O dia a dia deixou de ter os braços do Cristo Redentor abertos no horizonte em uma tentativa de trocar o passado pelo futuro. Muita gente passou por ali. Seria impossível registrar todos.

Um deles, entretanto, marcou a todos desde o primeiro dia. Do porteiro ao então presidente Pedro Abad — que no mesmo ano renunciaria e deixaria os sócios escolherem o atual mandatário Mario Bittencourt. Era Fernando. A Era Fernando. A primeira durou pouco. Fernando Diniz chegou como aposta pessoal do diretor Paulo Angioni.

Fernando Diniz em sua primeira passagem pelo Fluminense, em 2019: técnico encantou, mas não conseguiu resultados - Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC
Fernando Diniz em sua primeira passagem pelo Fluminense, em 2019: técnico encantou, mas não conseguiu resultados – Foto: Lucas Merçon/Fluminense FC

Ninguém passou ou passa batido por ele. O técnico dividia opiniões em uma campanha de poucos resultados em 2019. Mesmo assim, voltou em 2022 em um momento de crise. Dessa vez, a bola começou a entrar. E o seu time encantou o país até o fim do primeiro semestre. Tanto que, hoje, é ele o técnico da seleção brasileira, que demitiu Tite após a Copa do Mundo.

Na Libertadores de 2023, Diniz foi exaltado por todos os treinadores rivais. Tiago Nunes (Sporting Cristal), Martin Demichelis (River Plate), Ismael Rescalvo (The Strongest), Gabriel Milito (Argentinos Juniors) e Francisco Arce (Olimpia) se derreteram em elogios ao trabalho, ao sistema de jogo e às variações do Fluminense.

Fernando Diniz nos braços da torcida do Fluminense. Desde 2022, uma cena normal - Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC
Fernando Diniz nos braços da torcida do Fluminense. Desde 2022, uma cena normal – Foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense FC

A América do Sul conheceu e reconheceu o Dinizismo. Também por isso, o Fluminense de 2023 é diferente. E pode alcançar — ou ultrapassar — o de 2008.

Adversário é pedra no sapato

Os noventa minutos, entretanto, serão com uma pedra no sapato na história recente do Tricolor. Outro personagem que não mudou nos 15 anos que separam 2008 de 2023 foi o Olimpia, que eliminou o Flu da Libertadores em 2013 e 2022.

Os paraguaios estão novamente em desvantagem, mas já provaram no ano passado — e neste ano contra o arquirrival Flamengo — que isto não é problema. Na capital Assunção, o discurso é um só.

— É um time que sempre dá um jeito de reverter o cenário quando as coisas estão ruins — disse o motorista de aplicativo Mathias Josué, de 23 anos, torcedor do Decano, que não ouviu, mas teve a concordância de um “xará”:

— A torcida está menos confiante do que nas oitavas de final, mas amanhã (quinta), tenho certeza que o clima irá mudar. Os torcedores sempre acreditam no Olimpia, o estádio estará lotado e será um fator importante. O Fluminense é diferente do Flamengo, tem uma “bagunça organizada”, mas vamos ver como será o confronto. Não está decidido — opinou o radialista Matías Lugo, da Radio La Unión.

O técnico Arce foi mais um a repetir como um mantra o respeito do Flu ao Olimpia.

— É impossível prever tudo. Vai ser um jogo dinâmico, contra uma grande equipe, que se preparou muito bem para esta partida de volta e não jogaram no fim de semana, chegam bem e descansados. Vai ser uma partida vibrante. É diferente, mas é um jogo único em que teremos que fazer o melhor que podemos. Teremos que ser taticamente perfeitos porque já vimos que na partida de ida o time não teve os movimentos certos… Temos que estar atentos e voltar a pressionar. Em alguns momentos também teremos que defender porque é assim, a essa instância o rival também respeita o que temos e sabemos o que temos que estar atentos.

Desta vez, o Olimpia precisará tirar os dois gols de vantagem do Fluminense no Maracanã. O Tricolor nunca se classificou em um mata-mata de Libertadores decidindo fora de casa. Mas tem motivos para crer que será desta vez.

Diniz segue com dúvidas no time titular

Com o treino fechado à imprensa em Assunção — os veículos que viajaram ao Paraguai só tiveram janelas para entrevistas no embarque no Rio de Janeiro e no desembarque na capital paraguaia —, as dúvidas de Fernando Diniz para o time titular seguem.

Nem mesmo Arce tem ideia do que o técnico do Flu está preparando. Ele pode manter o esquema com quatro atacantes, com a permanência de John Kennedy no time titular, ou voltar com um volante ao onze inicial. Alexsander, Lima e Martinelli são as opções para a vaga.

O Fluminense nunca esteve tão perto de uma semifinal de Libertadores desde 2008. E se sua torcida acredita que este é o ano, muito passa pela confiança no trabalho de Fernando Diniz.

Fluminense na Libertadores 2023

 

Foto de Caio Blois

Caio Blois

Caio Blois nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e se formou em Jornalismo na UFRJ em 2017. É pós-graduado em Comunicação e cursa mestrado em Gestão do Desporto na Universidade de Lisboa. Antes de escrever para Trivela, passou por O Globo, UOL, O Estado de S. Paulo, GE, ESPN Brasil e TNT Sports.
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