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Derrota automática em casos de racismo é (finalmente) uma boa ideia do presidente da Fifa

A sucessão de casos de racismo registrados nos mais variados torneios de futebol pelo mundo exige uma resposta dura da entidade máxima do esporte

Confesso que não sou nem um pouco fã da gestão de Gianni Infantino à frente da Fifa. Considero a atuação do presidente exageradamente comercial, quase mercantilista. Infantino parece ver o jogador de futebol como um patrimônio da entidade que dirige. Mas há uma sugestão do presidente da Fifa que precisa ser analisada com urgência: a de se decretar a derrota automática em casos de racismo no futebol.

A sucessão de casos de racismo registrados nos mais variados torneios de futebol pelo mundo exige uma resposta dura da entidade máxima do esporte. As multas em dinheiro em nada contribuem, a não ser para os cofres das entidades envolvidas. Como a Conmebol, que parece crer que multas em dólar resolvem qualquer problema. Medida ineficaz, que gera receitas para uma entidade organizadora e nada faz pela vítima do racismo. De que forma se promove justiça pela vítima pagando indenização para a organização do torneio?

O caso mais recente de racismo no futebol foi registrado durante o Torneio Pré-Olímpico Sul-americano, que está sendo disputado na Venezuela. Torcedores venezuelanos foram filmados fazendo gestos racistas em direção ao pai do jogador Endrick, do Palmeiras e da Seleção Brasileira, na partida contra a equipe da Venezuela.

Segundo o estudo de opinião pública Latinobarómetro, com dados de 2020 e 2021, 11,6% dos venezuelanos se declaram negros e 7,9% negros de pele clara.

A ocorrência de casos racistas em estádios de futebol não tem padrão geográfico. Vini Jr. é vítima frequente na Espanha, jogadores brasileiros são ofendidos em países vizinhos da América do Sul, e o goleiro francês Magnan em um jogo na Itália.

A reação firme dos atletas tem sido determinante para uma mobilização mundial de torcedores e dirigentes.

Alguns podem achar exagerada uma medida que decrete a derrota de uma equipe cujos torcedores, dirigentes ou atletas cometem atos de racismo. Um argumento que pode surgir é o de que não se pode punir uma instituição pelos atos de uma pessoa ou um grupo. Situações comprovadamente extremas exigem medidas extremas para erradicá-las. Cobrar uma multa dos torcedores que cometam atos racistas e de seus times em nada reduzirá a dor das vítimas. A ofensa e a humilhação não podem ser pautadas em valores monetários.

Quando propõe a derrota automática em casos de racismo, Infantino quer, no fundo, provocar a reação e o debate. Creio que seu incômodo seja genuíno.

A mesma medida deveria ser proposta para casos de violência, invasão de campo e agressões.

Assim como a Conmebol aplica multas em dinheiro, os clubes deveriam fazer o mesmo caso venham a ser punidos pelo mau comportamento de torcedores. Imagine um time que seja eliminado de uma competição por causa de uma atitude criminosa de racismo de um simpatizante e deixe de arrecadar, digamos, R$ 2 milhões em premiação e outros R$ 2 milhões em bilheteria – sem falar nos prejuízos para a imagem da instituição.

Duvido que se o clube cobrar esses valores em ações cíveis e for vitorioso o impacto não seja sentido. Caso não aprendam respeito e civilidade por bem, talvez os criminosos racistas sintam em condenações que os privem da liberdade e os façam pagar caro, literalmente, não sirvam de exemplo.

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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