Infantino defende derrota automática em partidas abandonadas por racismo depois de novos casos
Após episódios de racismo em jogos de Milan e Coventry City, o presidente da Fifa foi às redes sociais defender a derrota automática para os times cujos os torcedores causaram abandono de campo
Infelizmente, o sábado (20) foi marcado por novos casos de racismo no futebol. Na Inglaterra, torcedores do Sheffield Wednesday fizeram gestos e sons remetendo a macacos nos minutos finais da derrota por 2 a 1 para o Coventry City, pela 28ª rodada da Championship, na direção do meio-campista Kasey Palmer. Horas depois, fãs da Udinese insultaram racialmente o goleiro Mike Maignan ainda no primeiro tempo do revés por 3 a 2 para o Milan, pela 21ª rodada da Serie A. Obviamente, os tristes e repugnantes episódios em Hillsborough e no Estádio Friuli foram condenados ao redor do mundo, inclusive por Gianni Infantino, presidente da Fifa.
Em comunicado oficial nas redes sociais, Infantino manifestou seu apoio aos jogadores vítimas do abuso racial e lamentou o que aconteceu em Sheffield e Udine. Tudo indicava que seria somente mais uma das tantas notas contra o racismo que tem pouquíssima efetividade prática e são quase diariamente publicadas pelas federações e clubes em situações do tipo, mas o dirigente da principal entidade do futebol mundial elevou o tom contra a discriminação e defendeu a derrota automática das equipes cujos torcedores causarem o abandono de partidas.
— Além do processo de três etapas (partida interrompida, partida interrompida novamente e partida abandonada), nós temos que implementar a derrota automática para o time cujos torcedores cometeram racismo e causaram abandono da partida, bem como banimento mundial de estádios e acusações criminais para racistas — publicou o presidente da Fifa no Instagram.
Gianni Infantino, presidente da FIFA, defende que seja imposta derrota automática à equipa cujos adeptos entoem insultos racistas e provoquem o abandono de um jogo. pic.twitter.com/X5eOtHwlQT
— B24 (@B24PT) January 21, 2024
Gianni Infantino ainda pediu que medidas sejam tomadas pelas “partes interessadas” — o que é um tanto quanto irônico considerando que é ele quem comanda a principal federação de futebol no planeta Terra — e destacou a importância da educação nas escolas para que o repúdio ao racismo enfim vire consenso para as futuras gerações.
— Precisamos que todas as partes interessadas tomem medidas, começando pela educação nas escolas, para que as gerações futuras entendam que isso não faz parte do futebol ou da sociedade — pontuou Infantino.
As declarações de Palmer e Maignan
Kasey Palmer e Mike Maignan não se calaram diante dos casos de racismo. O meio-campista do Coventry City dirigiu-se imediatamente ao árbitro Anthony Backhouse depois de ouvir e ver os insultos racistas, e o jogo foi interrompido brevemente. Já o goleiro do Milan relatou ter escutado xingamentos racistas ao juiz Fabio Maresca, que também parou a partida e fez com que os alto-falantes do Estádio Friuli solicitassem o fim dos cânticos. Não adiantou, e o arqueiro retirou-se ao túnel dos vestiários. Após conversar com funcionários da liga italiana, o francês retornou ao gramado e o confronto foi retomado depois de cinco minutos de paralisação, mas o comportamento hostil por parte dos torcedores contra o jogador reaparecia sempre que ele tocava na bola.
Ambas as vítimas se manifestaram publicamente depois dos episódios. Palmer foi às redes sociais condenar o abuso sofrido e agradecer pelo apoio que recebeu posteriormente, mas também desabafou ao dizer que “parece que as coisas nunca vão mudar”.
— Decepcionado por ter que vir aqui e escrever isso. O racismo é uma vergonha… não tem lugar no mundo, muito menos no futebol. Sou negro e me orgulho, estou criando meus três filhos para serem exatamente iguais. Serei honesto, parece que as coisas nunca vão mudar, não importa o quanto tentemos. Alguns fãs fazendo cânticos de macacos não definem uma torcida. Agradeço todo o amor e apoio que recebi — publicou o meia jamaicano.
— #KP45 (@kaseypalmer45) January 20, 2024
Maignan, por sua vez, explicou o que aconteceu à Sky Sports. Além de relatar o ocorrido, o goleiro destacou a importância de passar uma mensagem relevante em casos do tipo, pediu punições aos racistas e declarou que a vitória de virada do Milan nos acréscimos foi a resposta certa.
— No primeiro tempo, quando fui buscar a bola atrás do gol, ouvi os barulhos do macaco e não falei nada. Então eles fizeram isso de novo, então virei para o quarto árbitro e expliquei o que havia acontecido. Você não pode jogar assim. Não é a primeira vez, temos que passar uma mensagem importante — disse Maignan
— Neste momento não gostaria de falar com as pessoas que fizeram isto, seria inútil. Para ajudar todos os jogadores que sofrem o que sofri, precisamos de punição. Eles são ignorantes, devem permanecer em casa. Torcedores de verdade vêm ao estádio para torcer, essas coisas não podem acontecer no futebol. Eu não queria voltar, (mas) nosso clube é gigante e temos um ótimo grupo. Todos vieram até mim, e então nós entremos em campo para vencer a partida. A resposta certa foi somar os três pontos — completou.
🗣️ Mike Maignan também falou sobre o incidente de hoje. Estamos com você, @mmseize 📽👇🏿#SempreMilan #UdineseMilan pic.twitter.com/pr6NI18QFo
— AC Milan BR (@acmilanbr) January 21, 2024
Por fim, Mike Maignan fez um apelo ao Ministério Público, mas ainda cutucou o órgão pela costumeira passividade em casos de racismo no futebol.
— O Ministério Público deveria tomar decisões muito fortes. Está sempre atento às nossas palavras depois dos jogos, mas aqui nunca fazem nada — concluiu.