Leste Europeu

Riznyk é titular no Shakhtar, mas é a guerra que ocupa sua mente: ‘Futebol não é minha prioridade’

Titular no principal clube ucraniano, goleiro Dmytro Riznyk perdeu irmão no conflito entre Rússia e Ucrânia

Já perdura um ano e quase nove meses a guerra entre Ucrânia e Rússia, iniciada em fevereiro de 2022, quando os russos invadiram o território vizinho. Nas regiões onde não há conflito, a vida segue uma específica de “normalidade” e algumas práticas continuam, como o futebol. Mas o sentimento de uma rotina normal não segue na cabeça dos jogadores, com dificuldades em focar apenas no esporte, sonhando que a guerra termine logo. Isso, pelo menos, é o que foi transmitido por Dmytro Riznyk, goleiro de 24 anos titular do Shakhtar Donetsk, time que disputa a Champions League jogando longe de solo ucraniano, em entrevista ao site francês So Foot.

– Só tenho um sonho: que a guerra acabe. Quero que a Ucrânia se desenvolva e quero viver num país seguro. Quero que a Ucrânia faça parte da Europa, que seja útil para a Europa. Hoje, o futebol realmente não é mais minha prioridade – revelou Riznyk.

A guerra faz parte da história do goleiro e estará para sempre em suas memórias. O único filho de Dmytro nasceu justamente em 22 de fevereiro do ano passado, quando iniciou o conflito, motivo que o fez desistir de lutar contra a Rússia, além da esposa.

– Eu pensei sobre isso, sim [se lutaria na guerra]. Mas foi uma escolha difícil. Se eu não tivesse família, talvez… Ainda mais agora, dada a situação do país, eu teria muita dificuldade em desistir. Mas tenho um filho e uma esposa e preciso cuidar deles. Apesar de tudo, a minha vida está muito ligada à guerra, pois o meu filho que vai comemorar o seu segundo aniversário nasceu no dia 24 de fevereiro de 2022. No mesmo dia do início da invasão russa de toda a Ucrânia – detalhou o ucraniano.

Riznyk perdeu irmão, morto ao pisar em mina

Outra razão para a guerra Ucrânia-Russia marcar Dmytro Riznyk foi a morte de seu irmão, Serhiy Riznyk, em 7 setembro de 2023, quando se feriu ao pisar em uma mina na cidade de Luhansk, uma das mais afetadas pelo conflito.

– Meu irmão se ofereceu. Foi escolha dele. A partir daí todos sabíamos o que poderia acontecer… Mas foi muito difícil para mim perdê-lo, para minha família. Hoje tenho que seguir em frente, não posso ficar preso. Tenho que trabalhar ainda mais e ganhar dinheiro para o resto da minha família. Sem mim, não há futuro. Jogar para ele hoje me motiva, rezo por ele antes de entrar em campo, e de onde ele está me ajuda, isso é certo.

Shakhtar é exemplo de resistência em meio à guerra na Ucrânia

O Shakhtar de Riznyk é um exemplo de resistência em meio aos conflitos com a Rússia. Há oito anos, o clube ucraniano não joga em seu estádio, a Donbass Arena, por conta da Guerra em Donbas, conflito no qual separatistas pró-Russia tomaram o poder em Luhansk e Donetsk.

Por anos, o Shakhtar atuou em Lviv e agora manda seus jogos em Kiev. No último ano, durante a Liga Europa, era mandante em Varsóvia, na Polônia, e na atual Champions League sua casa é em Hamburgo, na Alemanha – local, inclusive, do confronto contra o Barcelona nesta terça-feira (7).

– Todos conhecem a nossa situação, estamos em guerra. É muito difícil. Desde 2014, o Shakhtar joga todas as temporadas mudando de residência, de Lviv para Kiev. Não estamos habituados a jogar fora da Ucrânia e seria muito melhor se não tivéssemos que viajar 11 horas para jogar 'em casa'. Mas a situação é assim e devemos aceitá-la – disse Riznyk, antes de desabafar como é jogar na capital ucraniana:

– A vida é muito mais tranquila lá [em Kiev]. Quase nos sentimos 'em paz' em Kiev agora, graças ao trabalho do nosso exército. Mas é difícil conviver com essa lacuna. Às vezes há sirenes, você realmente não entende o que está acontecendo. Nunca se sabe o que pode acontecer a seguir, se poderemos jogar futebol ou se teremos de nos esconder em bunkers. Mas mesmo estando longe da frente, é impossível esquecer a guerra. Pensamos nisso todos os dias – completou.

Riznyk atuou como titular em 15 dos 16 jogos do Shakhtar Donetsk nesta temporada. Ele chegou ao clube em fevereiro desse ano para substituir o promissor Anatoliy Trubin, agora no Benfica, e o aposentado Andriy Pyatov. Antes, o jovem goleiro defendeu as cores do Vorskla Poltava, clube de sua cidade natal que o revelou para o futebol.

Na Premier League Ucraniana 2023/24, o Shakhtar ocupa a quarta colocação com 24 pontos somados em 11 jogos. Está atrás de Polessya, Dnipro-1 e Kryvbas, mas conta com dois jogos a menos em comparação aos rivais a frente. Já na Copa da Ucrânia está nas semifinais e busca o 14º título, que o tornaria o maior campeão, um a mais que o Dínamo Kiev.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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