Serie A

Roma é uma grande chance e, pelas limitações, o maior desafio da carreira de Mourinho

Depois de trabalhos contestados no Manchester United e Tottenham, técnico terá a chance de voltar a um país onde teve sucesso e ainda tem moral, mas com dificuldades maiores do que está acostumado

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O que é mais difícil, levar o Tottenham aos títulos ou levar a Roma de volta a disputa das taças? É uma pergunta que gera debate, mas a posição que os italianos estão no momento é certamente pior, em termos esportivos, do que estava o Tottenham quando José Mourinho assumiu como técnico. Por isso, a contratação de Mourinho, anunciada nesta semana, traz, ao mesmo tempo, uma grande chance e um imenso desafio.

Ainda gerando muita expectativa, Mourinho terá menos recursos do que teve em todos os trabalhos anteriores desde o Porto, em 2004. Só que aquele Mourinho do Porto ainda não era o Special One, aquele que ganhou a Inglaterra

Adorado pela torcida da Internazionale pela Tríplice Coroa de 2010, Mourinho tem muita moral na Itália. O seu trabalho pela Inter foi consistente, em um time que era completo: sólido na defesa e mortal no ataque. Com ele, Wesley Sneijder atingiu um nível que poderia (e diria até que deveria) ter ganhado a Bola de Ouro naquele ano, ainda mais com a boa campanha da Holanda na Copa do Mundo, quando foi vice-campeã.

Mourinho fez jogadores como Samuel Eto’o, conhecido por ser difícil de trabalhar (não é, Guardiola?) a não só jogar aberto quase como um ponta direita, mas também a defender praticamente como um lateral em alguns momentos (sim, aquele jogo no Camp Nou é um exemplo).

Tudo isso dá a Mourinho um cartaz grande pelo seu trabalho. Mas quando ele deixou a Itália, o ano era 2010. De lá para cá, muita coisa aconteceu e é difícil esperar o que o treinador poderá fazer em Trigoria. Certamente não será fácil. O treinador está acostumado com superclubes. Desde que assumiu o Chelsea, em 2004, tornou-se um treinador muito badalado na Europa, considerado um dos melhores. Passou pela Internazionale, depois Real Madrid, voltou ao Chelsea, então Manchester United e Tottenham. Sua demissão dos Spurs, em abril, gerou dúvidas: qual seria o próximo passo do português?

Na Roma, encontrará algo mais perto do Tottenham do que o que viu nos outros times, mas a situação é ainda pior do que era nos Spurs. Ter sucesso com os giallorossi será um feito, especialmente se resultar em título, porque há menos dinheiro, um elenco menos qualificado e a concorrência parece estar bem à frente. O treinador precisará fazer muito mais do que fez nos seus últimos trabalhos e com menos recursos – financeiros e técnicos, aliás. Há alguns pontos que o treinador precisará atacar logo de cara para começar a resolver.

Fechar o buraco na defesa

Um deles é a defesa. Em tese, algo que Mourinho faz bem, mas que tanto no Tottenham quanto no Manchester United teve problemas. A defesa dos giallorossi não é das mais confiáveis e nem seguras em jogos importantes, o que torna possível, por exemplo, tomar um 6 a 2 do Manchester United.

A defesa do time na atual temporada já sofreu 53 gols e ainda há quatro jogos a serem disputados até o fim da temporada. É uma média de mais de 1,5 gol por partida, e isso só em jogos da Serie A. Somando as duas temporadas sob o comando de Paulo Fonseca, o time sofreu mais de 100 gols. No mesmo período, a Inter de Antonio Conte, campeã da temporada, 65 gols sofridos apenas.

Será preciso consertar esse imenso rombo nos gialorrossi. Mourinho tem uma abordagem defensiva bastante estruturada e um pensamento bastante pragmático na forma de se posicionar em campo. O português certamente terá trabalho e precisará mostrar que ainda consegue montar uma boa defesa.

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Ganhar jogos grandes

Parece meio básico, mas a Roma não consegue ganhar jogos contra adversários grandes. Ser um osso duro de roer é o primeiro passo para ser competitivo contra os adversários mais duros, mas a Roma não é isso. Ao menos nos dois últimos anos sob o comando de Paulo Fonseca.

Em todo o período sob o comando do ex-treinador do Shakhtar, apenas uma vitória contra os principais clubes do país: 3 a 1 sobre a Juventus em 2019/20, quando a Velha Senhora levou a campo vários reservas.

A falta de competitividade pesa contra esses grandes adversários tem um custo, que vai além dos três pontos: é problemático também em termos anímicos. Ganhar jogos grandes é um grande combustível aos jogadores, dentro do clube e faz os adversários te temerem.

A Roma não consegue vencer um duelo contra um dos oito primeiros há 12 jogos. São seis empates e seis derrotas, além de um saldo negativo de 15 gols. Pesadíssimo para um clube que quer ficar entre os quatro primeiros e, quem sabe, ao menos competir pelo scudetto. Além de não vencer, a Roma tomou goleadas recentes da rival Lazio, do Napoli e da Atalanta.

Será preciso começar a ser um time mais encorpado, que funcione bem também contra esses adversários. Sem isso, o meio da tabela continuará sendo o lugar da Roma. E, bom, Mourinho teve problemas com isso no Tottenham…

Reformulação no elenco

Será preciso reforçar o time para melhorar a abordagem em relação aos jogos. Antes de pensar nos reforços, é preciso entender quais jogadores poderão ou deverão sair. Jogadores como Federico Fazio, Bruno Peres e Javier Pastore estão sobrando no elenco.

Há também os nomes especulados para chegar. Andrea Belotti, Mauro Icardi e Renato Sanches estão entre os especulados para a lista de reforços do novo treinador. Belotti, ainda que tenha sofrido queda de desempenho nos últimos anos, seria uma opção confiável. Mauro Icardi é um artilheiro que brilhou muito pela Inter e parece capaz de continuar a fazer isso na Serie A, ainda que sua fase no PSG não seja boa.

Renato Sanches é um jogador que faz ótima campanha pelo Lille na Ligue 1, e recuperou o prestígio de outros tempos. É sempre bom lembrar que o jogador é empresariado por Jorge Mendes, empresário de relação próxima a Mourinho.

Outro nome especulado pode resolver um problema do time: David De Gea, que não vive a melhor das fases no Manchester United, já com uma concorrência de Dean Henderson. O goleiro de 30 anos seria uma contratação de peso para os romanistas.

Os nomes de atacantes não são por acaso. Edin Dzeko já quis deixar a Roma e é especulado que vá sair do clube ao final da temporada atual. Aos 35 anos, o jogador, que já foi capitão do time – a braçadeira agora está com Lorenzo Pellegrini –, pode acabar buscando outro lugar para trabalhar. Ainda é preciso saber o que pensa Mourinho, já que, se ele quiser, pode tentar convencer o bósnio a permanecer no clube.

Além dos problemas internos, será preciso lidar com os adversários. Ninguém contrata Mourinho para ficar fora da Champions League, então a ideia tem que ser, no mínimo, estar entre os quatro primeiros. Para isso, terá que disputar com Atalanta, Lazio, Milan, Napoli, Juventus e Inter, no mínimo. Todos eles têm problemas, maiores ou menos, dos mais diversos. Mas hoje, a Roma é o pior deles, ao menos na tabela. Em sétimo lugar, todos esses clubes estão à frente.

Mourinho gastará o seu último cartucho onde ainda tem prestígio. Na Inglaterra, ele dificilmente voltará a dirigir um dos chamados big six. Na Espanha, ele se queimou o bastante para não voltar a dirigir o Real Madrid, e muito menos voltar ao Barcelona, onde foi tradutor e assistente no início da carreira. Talvez o Atlético de Madrid, se um dia Diego Simeone quiser sair de lá. E olhe lá.

Mourinho terá um bom time em mãos, mas um desafio duríssimo pela frente. Veremos como ele conseguirá lidar com isso. O que não dá para ter dúvida é que será muito divertido ver Mourinho novamente na Serie A. É um grande personagem e tornará a Roma ainda mais falada. Evitar as romadas será um bom primeiro passo.

FUORICLASSE

A Superliga morreu em 48h, mas os detalhes sobre os pagamentos revelados pela revista alemã Der Spiegel deixam ainda mais claro como a ideia era ruim, especialmente para os clubes italianos. Milan e Inter (junto com Atlético de Madrid e Borussia Dortmund) receberiam 3,8% do faturamento, enquanto os outros clubes (incluindo a Juventus) receberiam 7,7%. Barcelona e Real Madrid ainda teriam um privilégio adicional: € 30 milhões nos primeiros dois anos, além das porcentagens. Incrível como os dirigentes aceitaram.

– A Copa da Itália mudou de uma forma elitista e estúpida: incluirá apenas os 20 clubes da Serie A e os 20 da Serie B, totalizando 40. É claro que os clubes da Serie C não gostaram nada e ainda tentam reverter a decisão, que, teoricamente, já começa a valer na próxima temporada.

– O jornal La Repubblica noticiou nesta quinta-feira que há uma ideia de reduzir o número de clubes na Serie A de 20 para 18. A ideia seria para liberar mais espaço no calendário diante da reforma da Champions League, que aumenta de seis para dez o número de jogos da primeira fase.

– Tempos de austeridade: a campeã Internazionale terá que cortar custos na próxima temporada, segundo a Sky Sports Italia. O presidente, Steven Zhang, já informou que os planos incluem reduzir os gastos do time. Ainda não se sabe sobre o futuro do clube, já que o grupo Suning planeja ter mais injeção de capital com a venda parcial ou total do clube para novos investidores. Isso deve significar um mercado onde só poderá ser gasto aquilo que também for arrecadado.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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