Tottenham preferiu não esperar o fim da temporada para dar adeus a José Mourinho
A seis dias da final da Copa da Liga Inglesa, Spurs anunciam a demissão do técnico português

Mesmo em meio a um trabalho e uma temporada decepcionantes, a notícia da demissão de José Mourinho chega de forma meio abrupta. O Tottenham anunciou o desligamento nesta segunda-feira (19), a seis dias da final da Copa da Liga Inglesa, em que os Spurs enfrentarão o Manchester City. Se, por um lado, a continuidade do português no clube do norte de Londres parecia insustentável, por outro, o curso mais natural seria a rescisão ao fim da temporada.
No mesmo comunicado em que anunciou a saída de José Mourinho, o Tottenham já apontou o substituto imediato, até o fim da campanha: Ryan Mason, ex-jogador dos Spurs de apenas 29 anos e que encerrou prematuramente sua carreira após fraturar o crânio em partida contra o Chelsea em janeiro de 2017, enquanto defendia o Hull City. Sem perspectivas de melhora sob o comando de Mourinho, talvez a decisão seja uma tentativa de tirar proveito de um possível impulso mental que, convenhamos, não é raro no rescaldo da demissão de um treinador. Mason retornou ao Tottenham como parte da comissão técnica em abril de 2018, assumiu o comando do time Sub-19 em julho de 2019 e, desde agosto de 2020, era o diretor das categorias de base do clube.
É importante ressaltar que, segundo a imprensa especializada que cobre os bastidores do Tottenham, a demissão em nada teve a ver com a decisão do Tottenham de se juntar à Superliga Europeia, rumor lançado por uma conta “troll” no Twitter e que passou a se espalhar logo após o anúncio da saída do treinador. Jornalistas de Sky Sports, Goal e de jornais locais apontam que a razão é simples: maus resultados e deterioração do relacionamento entre Mourinho e o elenco.
José Mourinho foi contratado pelo Tottenham em novembro de 2019, após a demissão de Mauricio Pochettino. O argentino havia tido um trabalho de destaque no clube ao longo de cinco anos, fazendo a equipe saltar de patamar. A falta de conquistas, no entanto, pesou mais forte na balança, e Daniel Levy, presidente dos Spurs, via Mourinho como o nome certo para o cargo, dado seu longo histórico vencedor por onde passou – mesmo que seu trabalho já desse sinais claros de obsolescência.
Com o português, a expectativa era atualizar a sala de troféus e, é claro, manter classificações constantes à Champions League. Hoje a cinco pontos do atual quarto colocado, o West Ham, o Tottenham ocupa a sétima colocação, e a ida ao torneio da Uefa na próxima temporada parece bastante improvável. Isso certamente deve ter pesado na decisão anunciada nesta segunda-feira – e a situação só foi piorada pela fase recente dos Spurs e pela personalidade conflituosa do treinador, que não se abstém de criticar seus próprios jogadores publicamente.
Em um momento da temporada, no entanto, tudo corria bem, e a discussão na imprensa girava em torno de uma ponderação: Mourinho havia recuperado sua magia? Em novembro de 2020, o Tottenham chegou a liderar a Premier League, tendo goleado o Manchester United em pleno Old Trafford por 6 a 1.
Desde então, no entanto, a coisa degringolou. Sem consistência, a equipe caiu na tabela, e o time passou a colecionar tropeços em vários duelos em que saiu à frente. Nas últimas cinco rodadas, conseguiu apenas uma vitória, sendo derrotado por Arsenal e Manchester United no período. A nível continental, a eliminação para Dinamo Zagreb nas oitavas de final da Liga Europa após vencer a partida de ida por 2 a 0 foi talvez o fracasso mais emblemático da temporada até aqui – e uma representação da dificuldade dos Spurs de manter um resultado favorável.
Ultimamente, Mourinho já estava naquele seu estágio clássico em que começa a desviar a atenção de suas derrotas para outros cantos, chegando a se envolver em uma troca de farpas anedótica com Ole Gunnar Solskjaer, do Manchester United, ao hiperdimensionar uma fala do norueguês em crítica a Heung-min Son.
Mesmo com o enorme crédito que conquistou ao longo de sua carreira, a sensação é de que Mourinho pode ter desperdiçado sua última grande oportunidade em um grande palco da elite do futebol europeu.
Ao Tottenham, a missão agora é coletar os cacos do colapso dos últimos meses, buscar o melhor fim de temporada possível e já planejar a campanha seguinte, atento aos nomes que possam se disponibilizar no mercado.