Do Livorno ao topo do futebol italiano: Chiellini encerra carreira vencedora
Foram 23 anos dedicados ao futebol, chegou a hora de Giorgio Chiellini dizer adeus dos gramados
Nas duas últimas décadas, Giorgio Chiellini foi a cara de uma das defesas mais sólidas do futebol europeu com a Juventus. Foram 17 anos dedicados à Vecchia Segnora, antes passando por Livorno e Fiorentina e partindo rumo aos Estados Unidos para as últimas temporadas da carreira. A trajetória de 23 anos como profissional com a bola nos pés (também na cabeça com as disputas aéreas e no chão a partir dos carrinhos precisos) foi finalizada nesta terça-feira (12), quando o zagueiro, que iniciou como lateral-esquerdo, anunciou a aposentadoria em um post nas redes sociais.
– Você [futebol] tem sido a jornada mais linda e intensa da minha vida. Você tem sido meu tudo. Com você percorri um caminho único e inesquecível. Mas agora é hora de começar novos capítulos, enfrentar novos desafios e escrever mais páginas importantes e emocionantes da vida – se despediu Chiellini aos 39 anos.
A última partida do zagueiro foi no último sábado (9), quando atuou os 90 minutos na derrota de seu clube, o Los Angeles FC, pela final da Major League Soccer contra o Columbus Crew. Poderia ter sido o impressionante 25º título da carreira do jogador, mas Giorgio parou nos 24. Duas taças foram justamente nos Estados Unidos, onde chegou no meio do ano passado para agregar ao time que seria campeão nacional.
Apesar de algumas questões físicas que o tiraram da final vencida pelo LAFC por 3 x 0, o jogador participar de 13 dos 19 jogos possíveis quando chegou em julho de 2022. Além da MLS, conquistou a Supporter's Chield, dada ao time com melhor campanha na temporada regular.
Neste ano, também teve lesões, e participou de 32 das 53 partidas do clube. Marcou o único gol defendendo o Los Angeles em março, reforçando sua principal característica: o jogo aéreo, se aproveitando de sobra na pequena área. O vice da MLS não foi o único, pois a equipe americana sucumbiu ao León na final da Champions League da Concacaf.
A passagem vencedora nos EUA reforça a gigante carreira desse zagueiro histórico. Relembre os momentos de Chiellini na Itália, seja brilhando no Livorno, na Fiorentina, Juventus ou na Seleção Italiana.
Livorno: a primeira casa e o primeiro título
Chiellini nasceu em Pisa, onde seu pai trabalhava, mas ele foi criado no bairro de Ardenza, em Livorno. O clube homônimo ao da cidade italiana foi onde deu seus primeiros chutes na bola, aos cinco anos, mas não é aquele time tradicional e centenário que já jogou a Série A Italiana, e sim o amador Centro Esportivo Livorno 9. O verdadeiro Livorno, grená, levou o jogador quando tinha 12 anos.
Durante seu período base do Livorno, defendeu pontualmente o Milan e a Roma em torneios específicos da categoria aos 16 anos, mas os clubes não o contrataram em definitivo, apesar de impressionar de Fábio Capello, então técnico da Roma, e se aproximar de uma negociação que no fim deu errado.
A estreia no profissional do clube grená veio na Série C de 2000, competição que venceria duas temporadas depois. O destaque e a virada de chave veio em 2003/04, disputando a segunda divisão como lateral-esquerdo e finalmente tendo uma sequência como titular. Terminou com 40 partidas e quatro gols, desempenho que ajudou o Livorno a subir de divisão e causou boa impressão no futebol italiano, permitindo um passo maior na carreira.
Juventus comprou e emprestou Chiellini para dar rodagem na Série A
Sabendo do potencial do garoto, a Juventus o comprou após a boa temporada pelo Livorno e o emprestou em seguida à Fiorentina. A estreia na Série A Italiana, competição que ganharia nove vezes depois, veio em 12 de setembro de 2004. Essa foi a primeira de 42 partidas pela Viola, onde marcou três vezes, inclusive, contra a própria Juve, em um empate em 3 x 3. Aos 20 anos, Chiellini seguia atuando como lateral-esquerdo e poderia, enfim, vestir a camisa bianconeri em 2005.
Importante citar que o período na Fiorentina garantiu sua primeira convocação à Seleção Italiana, mas este é um tópico a ser abordar mais para frente e mais aprofundado pela história que marcou defendendo o país.
Chegada a Juve, onde ficou 17 anos e venceu quase tudo
O período na Viola deu a primeira experiência do garoto na Série A e estava pronto para começar a trajetória na gigante Juventus. Não imaginaria Chiellini que precisaria voltar a segunda divisão, a mesma que se destacou com o Livorno em 2004, com apenas um ano nos Bianconeri devido ao Calciopoli, escandâlo de manipulação de resultados que tirou o título da Juve da temporada 2005/06 e rebaixou o clube a segunda divisão.
Jovem e promissor, seguiu na equipe mesmo em um dos capítulos mais difíceis da história, venceu a Série B e retornou a elite italiana. Dentro de campo, ele jogou todas as vezes como lateral-esquerdo na temporada inaugural, só que no ano seguinte, na segunda divisão, o técnico Didier Deschamps passou a utilizá-lo como zagueiro. A partir daí, largaria cada vez mais o lado do campo e passaria a consolidar na zaga, ajudando a Juventus a gradualmente retomar o protagonismo na Itália, voltando à Champions League em 2008, dois anos após o escandâlo.
Quem vê o supercampeão Chiellini, não imagina que, além da segunda divisão, ele não venceu nenhum outro título nos primeiros sete anos de Juve. A mudança no time veio quando Antonio Conte tornou-se o treinador e levou a primeira Série A do clube de Turim desde o Calciopoli. Giorgio esteve em campo em 34 das 38 rodadas deste título, vencido invicto, sendo o primeiro dos nove seguidos que viriam nos próximos anos. Conte saiu com mais dois Campeonatos Italianos, Maximiliano Allegri manteve o legado levando outros cinco e Maurizio Sarri fechou a hegemonia da Juventus com mais um.
Nenhum jogador na história da Juventus levou nove Séries A seguidas, apenas Chiellini. Ele foi o líder do vestiário nesse período, praticamente o dono da zaga em todas as campanhas – apesar de problemas na panturrilha que o acompanharam por toda carreira – e completou no mínimo 24 jogos em todos temporadas dos títulos, com exceção da última, em 2019/20, quando sofreu uma grave lesão ligamentar que o tirou dos gramados por quase seis meses.
O oitavo Campeonato Italiano teve um fator especial para Chiellini por ser o primeiro que ele foi capitão e pôde levantar a taça, pois Gianluigi Buffon, dono da faixa nos sete anteriores, saiu em 2018/19 para aquela esquecível temporada pelo Paris Saint-Germain.
O período hegemônico na Itália, levando também cinco Copas da Itálias e outras cinco Supercopas, marcou a formação de um histórico trio de zaga que todo fã de futebol tem de cabeça: o BCC com Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci e Chiellini, além de ter “apenas” um Buffon no gol.
Canhoto, Giorgio atuava pela esquerda, Bonucci era o zagueiro da sobra e Barzagli se posicionava à direita, cada um se completando a sua maneira.
A despedida de um dos maiores jogadores da história da Juventus para torcida bianconeri aconteceu 16 de maio de 2022, no empate em 2 x 2 com a Lazio. Cinco dias depois, ainda teria uma partida final, fora de casa, derrota para Fiorentina – justamente o clube antes de chegar na Juve.
Quem diria que aquele garoto que chegou em 2005, aos 21 anos, defenderia os Bianconeri por 17 anos, atuaria em 561 partidas (terceiro com mais jogos, só atrás de Alessandro Del Piero e Buffon), marcaria 56 gols e conquistaria 20 taças diferentes
O futuro pode guardar novos capítulos do ex-zagueiro na Juventus. Chiellini é formado em Economia e Comércio e concluiu um mestrado em Administração de Empresa, quem sabe será um futuro executivo de futebol da Juve?
Só faltou a Champions para Chiellini
Chiellini levou quase tudo que teve em seu alcance com a camisa alvinegra. Só não completou a taça de troféus, porque, a tão cobiçada Champions League não quis se render ao charme do zagueiro e ficou no quase duas vezes. A primeira das 75 partidas pela principal competição de clubes na Europa aconteceu em 18 de outubro de 2005, na derrota frente ao Bayern de Munique.
Desde debutar, demorou e muito para chegar próximo do título da Champions. Quase 10 anos depois, em maio de 2015, Chiellini teve a chance de ganhar, só não contava com uma lesão muscular que o tirou da final contra o Barcelona. Allegri teve que desfazer a linha com três zagueiros para montar uma linha com quatro defensores.
No fim, o trio lembrado daquela Champions de 2014/15 não foi o de zagueiros BBC e sim os atacantes do MSN, Messi, Suárez e Neymar, campeões pela vitória de 3 x 1.
Foi uma ausência dolorida para Giorgio, ainda mais porque, na semifinal contra o Real Madrid, entregou tudo que poderia – até seu sangue. Ele sofreu um choque na cabeça, ensanguentou toda a camisa e jogou um curativo enorme na cabeça. Um exemplo para demonstrar a raça que sempre defendeu a Juventus.
O zagueiro voltou a decisão da Champions em 2017. Agora poderia jogar, formar o trio com os amigos Barzagli e Bonnuci. No entanto, isso não foi capaz de parar o super Real Madrid de Cristiano Ronaldo, autor dos dois primeiros gols da vitória por 4 x 1.
Chiellini e a Seleção Italiana: quase duas décadas, fechadas com maior glória do país nos últimos anos
A história de Chiellini com a camisa italiana não começou com a estreia pelo selecionado principal em 2004. Veio muito antes disso, passando por todas as categorias de base desde os 15 anos. E a história vencedora começou a ser trilhada ali, com o título europeu sub-19 sendo um dos titulares do time e uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, no mesmo ano quando debutou pela Itália profissional.
Apesar de estrear em 2004, ele não foi levado a Copa de 2006, vencida pelos italianos. Os Mundiais não causam amores em Chiellini e deve ser algo que quer evitar lembrar. São duas eliminações na fase de grupos (2010 e 2014) e uma queda na repescagem para edição de 2018. A coisa mais lembrada por Chiellini em Copas, na verdade, não é nem algo que ele fez e sim sofreu: a marcante mordida de Luís Suárez no ombro do defensor, em jogo contra o Uruguai.
A consolidação de Chiellini como a cara da zaga italiana aconteceu a partir da Eurocopa de 2008, ao lado de Christian Panucci, quando caíram nas quartas de final. Na edição seguinte, em 2012, sofreriam um duro golpe ao perder a decisão para Espanha de goleada. Uma geração abaixo surpreendeu na Euro de 2016, mas as quartas foram o teto para aquele elenco comandado por Conte.
A carreira do zagueiro canhoto guarda muitas coincidências, como a despedida da Juve frente a Fiorentina, e na seleção não foi diferente. A Euro, que conquistou na base e no selecionado principal quase levou em 2012, seria sua lembraça mais marcante nos 117 jogos com a Azzurra.
A edição de 2020, disputada em 2021, marcou o primeiro e único título de Chiellini com a Itália. Aos 36 anos, o defensor foi o pilar do time vencedor, sagrando-se campeão em cima da Inglaterra em pleno Wembley.
A despedida com a Azzurra aconteceu quase um ano depois, justamente por causa da Euro, pois o vencedor daquele edição disputaria a Finalíssima contra o campeão da Copa América. Em 6 de junho de 2022, Chiellini defendeu pela última vez a Itália, na derrota de 3 x 0 para Argentina.