Inglaterra

O que a Inglaterra tem de potencial, falta de personalidade

O primeiro amistoso da Inglaterra depois da decepcionante campanha na Copa mostrou um time com alguns nomes diferentes, uma formação nova, sem seus medalhões e com Wayne Rooney como capitão. A expectativa não era muito alta, tanto que “só” 40 mil pessoas compraram ingressos antecipados para Wembley, e o futebol realmente não foi empolgante. A vitória inglesa por 1 a 0 foi bem sem graça, com um time que esteve longe de arrancar suspiros dos torcedores. O time tem muitos jogadores com potencial, mas falta personalidade. Falta à Inglaterra ser um pouco Uruguai. Falta entrar com a faca nos dentes (não literalmente, por favor), que os jogadores assumam o papel de protagonistas. O problema é que o time não tem quem sejam esses jogadores. Pelo menos não por enquanto.

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Aliás, esse foi um problema já na Copa do Mundo. Contra o Uruguai, por exemplo, o time foi engolido pelos sul-americanos e ficou com cara de criança que teve o pirulito tomado por um menino mais velho. Com Luis Suárez voando depois de voltar de lesão, os charruas venceram e praticamente eliminaram os Three Lions – que na Copa foram só uns inofensivos gatinhos. Só que é bom dizer também que o elenco de Roy Hodgson é muito jovem e isso pesa. O time titular escalado nesta quarta-feira tinha média de idade de 24,2 anos, tendo só cinco jogadores acima com ao menos 25 anos e nenhum com 30 ou mais.

Idade do time titular da Inglaterra
Joe Hart (27 anos); John Stones (22), Gary Cahill (28), Phil Jones (22) e Leighton Baines (29); Alex-Oxlade Chamberlain (21), Jordan Henderson (24), Jack Wilshere (22) e Raheem Sterling (19); Wayne Rooney (28) e Daniel Sturridge (25).

A formação que o técnico da Inglaterra escolheu é um 4-4-2 tradicional sem a bola, mas que com a bola se torna um 4-2-2-2. Algo muito parecido com o que o São Paulo vem jogando com Ganso, Kaká, Pato e Kardec. Há bons jogadores, mas nenhum deles parece ser de fato um jogador de decisão. Daniel Sturridge é um ótimo jogador, pode ser bastante importante, fazer boas partidas e gols, mas, até aqui, ainda não é o cara que decide jogos grandes pela seleção, como é pelo Liverpool. Leighton Baines é um ótimo lateral, mas não é quem decidirá jogos pela Inglaterra. Jordan Henderson mostra potencial de liderança, além de ser muito trabalhador. Pode ser, um dia, um líder desse time, mas por enquanto é só um bom coadjuvante. Quem mais mostrou potencial para mudar o jogo foi Sterling, o melhor da partida. Se movimenta, sai da ponta para o meio, dá opção e é habilidoso. Mas ainda é muito novo e com 19 anos, só sendo um craque para liderar um país com tanta pressão quanto a Inglaterra. E isso ele não é, ao menos por enquanto.

Só um tem esse perfil: justamente o novo capitão do time, Wayne Rooney. Aos 28 anos, o jogador precisará mostrar que é o craque de nível mundial pelo qual é pago no Manchester United e que se espera que ele seja na Inglaterra. O gol contra a Noruega, no amistoso desta quarta, foi de pênalti, o que não conta exatamente como decidir o jogo, ainda que a responsabilidade de cobrar a penalidade seja sempre importante. Mas em um amistoso, o peso não é tão grande assim. Só que o gol teve uma importância histórica. Com ele, Rooney chegou a 41 gols, deixou para trás Michael Owen e é, sozinho, o quarto colocado na lista de maiores artilheiros da seleção da Inglaterra. Fica atrás apenas de Bobby Charlton (49), Gary Lineker (48) e Jimmy Greaves (44). Pela idade que tem, Rooney tem potencial para passar todos eles, e isso não é pouca coisa.

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Outros jogadores mais experientes, como James Milner, mostraram que não serão eles a mudar alguma coisa para dar personalidade ao time. Milner errou uma virada de jogo absolutamente ridícula e pouco fez quando entrou em campo. Rickie Lambert é um jogador cheio de carisma, boas qualidades técnicas, mas está longe de ser um jogador de alto nível internacional. Aos 32 anos, ajudará na transição de gerações, mas não pode ser a referência. Não há quem seja, a não ser Rooney. E por isso que o papel dele é tão importante.

Em um país onde ser capitão é mais que ostentar uma braçadeira, é um cargo, Rooney tem que ser mais do que um jogador importante. Tem que ser o cara para quem os demais jogadores ingleses olhem e vejam uma referência técnica em campo, que seja a liderança que o time precisará. Joe Hart e Gary Cahill são outros jogadores que podem dar experiência e ajudar na liderança. Rooney precisa assumir o papel de craque inglês pelo qual ele é tão falado e que o leva a ser um dos maiores salários da milionária Premier League. Um papel, aliás, que ele também precisa assumir no seu clube, o Manchester United.

O time inglês tem muito potencial para ser competitivo. Na Eurocopa de 2016, já deve ter mais rodagem para ser competitivo. Se o trabalho for bem feito e os jogadores se desenvolverem, pode ser um time competitivo em 2018, na Copa do Mundo. Mas precisará, mais do que nunca, que Rooney seja o que sempre se esperou dele. Futebol não falta a ele. Nem personalidade. Só que ele precisará mostrar tudo isso com constância. Porque agora ele deixou de ser o garoto prodígio de 2006. É o grande jogador da geração.

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Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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