São Paulo de Muricy vai se moldando à inglesa: um 4-4-2 como raramente se vê

A individualidade sem conjunto que o São Paulo vinha apresentando nas últimas rodadas não entrou em campo ontem. Contra o Internacional, um dos melhores times do Brasileirão, e jogando no estádio Beira-Rio, o São Paulo que foi ao gramado foi outro. Organizado, bem posicionado, com uma ideia de jogo clara. Poderia não ter vencido, o futebol tem dessas coisas, mas venceu, porque trabalhou bem para isso e, assim, as chances de sucesso são maiores. Venceu por 1 a 0, gol de Ganso, em uma jogada que seus dois meias, Kaká e Ganso, estavam dentro da área. O São Paulo de Muricy mostrou um 4-4-2 que lembra os times ingleses de antigamente, mas com a aplicação tática que tanto se vê atualmente. E cheio de talento no ataque capaz de dar qualidade quanto o time tem a bola. Uma ideia de jogo que vai ficando mais clara.
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Ninguém mais joga no 4-2-2-2, como era habitual nos anos 1990. Dois volantes, dois meias, dois atacantes. O São Paulo parecia ter se armado assim com a volta de Kaká, com o camisa 8 ao lado de Ganso. Na teoria, porque na prática o time era uma bagunça em campo, sem saber bem o que fazer sem a bola e tentando resolver quanto a tinha nos pés. No clássico com o Palmeiras, houve um esboço de plano de jogo, que não funcionou a contento, mas já estava ali. A vitória não veio por isso, mas veio. E o time foi a Porto Alegre com essa ideia mais clara. Muito porque Ganso e principalmente Kaká tiveram uma atuação taticamente precisa. Fecharam os espaços sem a bola, souberam se movimentar com ela, dificultando a marcação.

Sem a bola, o São Paulo marca com duas linhas de quatro. Hudson e Denilson marcavam pelo meio, Ganso e Kaká fechavam os lados do campo, Kardec e Pato na frente atrapalhavam a saída de bola do adversário, no ataque. Com isso, o São Paulo dava poucos espaços ao adversário e, com a bola, dava liberdade tanto a Kaká quanto a Ganso para entrarem no meio e se movimentarem. Foi com a pressão no ataque que o time roubou a bola que surgiu o gol, com Juan errando o passe, Paulo Miranda tomando a bola e a participação de Kaká, Álvaro Pereira e acabou com a finalização de Ganso. Ajudou muito que o time teve uma boa atuação dos dois volantes, com Hudson e Denilson fazendo muitos desarmes no meio (7 e 9, respectivamente, segundo a Footstats).
O que talvez mais tenha surpreendido no São Paulo tenha sido a atuação defensiva. Paulo Miranda errou muito quando estava com a bola, mas sem ela, na marcação e no posicionamento defensivo, ele foi muito bem. Fez cinco desarmes, segundo no quesito no jogo, atrás só de Hudson. Fez ainda cinco interceptações e só uma falta. Seis vezes ele afastou a bola da defesa, quem mais fez isso no jogo também.
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No posicionamento, o São Paulo mudou no segundo tempo, quando o Inter começou a pressionar mais. Kaká veio para o meio, Kardec foi recuado e o time mudou do 4-4-2 para 4-2-3-1, com Ganso na direita, Kaká pelo meio e Kardec pela esquerda. Pato ficou mais à frente. Todos fechando os espaços. Depois, quando Ganso cansou e pediu para sair, São Paulo mudou de novo: Michel Bastos entrou para fechar o lado esquerdo, Ademilson entrou no lugar de Pato no lado direito, Kaká ficou mais pelo meio, mas também marcando, e Kardec mais avançado. Todos os jogadores se posicionando para fechar os espaços.

O Inter teve 60% de posse de bola, segundo dados do Who Scored. D’Alessandro foi quem mais tocou na bola no jogo, 98 vezes, seguido por Fabrício (92) e Wellington Silva (84). Só então aparece um jogador do São Paulo, Denilson (81). Foi D’Alessandro quem mais fez passes no jogo também, 72. Só que o Inter pouco conseguiu fazer no ataque, criou poucas chances, porque os espaços que o São Paulo deu foram muitos escassos. Sem sete chutes a gol do Colorado, dois acertaram o gol. O São Paulo teve cinco chutes, acertou um: o gol. Mesmo assim, foi mais perigoso no segundo tempo e por pouco não matou o jogo em lances de contra-ataque com Pato e Kaká.
O São Paulo de muito talento e sem organização teve um plano de jogo contra o Inter e foi taticamente muito bem. Se contra o Palmeiras foi um esboço mal desenhado e executado sem grande primor, contra o Inter o time foi preciso. Considerando que o adversário é mais forte, foi um ótimo teste. Resta saber se o São Paulo conseguirá vencer a sua própria instabilidade técnica e manter a consistência tática. Os sinais dados no Beira-Rio indicam que o time tem força para ficar no grupo de cima da tabela.
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