Inglaterra

Jim Ratcliffe faz proposta minoritária pelo Manchester United, mas quer controle do futebol

Com saída da concorrência de banqueiro do Catar, dono da INEOS quer comprar 25% do clube, desde que tenha controle sobre a operação no futebol

O bilionário britânico Jim Ratcliffe, principal acionista da gigante petroquímica INEOS, está perto de comprar uma parcela significativa das ações do Manchester United, segundo informações de fontes por dentro do negócio. O negócio é avaliado em 1,3 bilhão de libras por 25% das ações do clube, mas o grupo INEOS quer controle da operação de futebol para que o negócio vá adiante. Algo incomum, já que os Glazers continuariam como acionistas majoritários.

Ratcliffe se tornou o favorito para entrar no United desde que o seu principal concorrente, o catariano Jassim bin Hamad Al-Thani, desistiu do negócio. Membro da família real do Catar, o catariano só aceitava o negócio se comprasse 100% das ações do clube. Sua proposta foi rejeitada pelos sócios majoritários do clube, a família Glazer, e Jassim bin Hamad Al-Thani desistiu do negócio.

Segundo a BBC, o bilionário britânico está confiante que irá garantir o primeiro estágio de uma eventual compra do clube. Tanto o dono da INEOS quanto seu concorrente, o Jassim Al-Thani, fizeram proposta na casa dos cinco bilhões de libras para a compra do clube. O catariano queria comprar 100% das ações, incluindo aquelas que estão na bola de valores. Ratcliffe queria comprar inicialmente os 69% que pertencem à família Glazer.

As duas partes chegaram a um acordo em princípio, ainda sujeito à aprovação da diretoria do clube, que votará o caso. A votação sobre a aceitação da proposta deve acontecer nos próximos dias e, segundo as fontes consultadas pelo The Athletic, o acordo está perto de ser ratificado.

Ratcliffe teria controle esportivo sobre o clube, caso sua proposta seja aceita, mas os torcedores não conseguiriam se livrar dos Glazers, que continuam sendo muito criticados e permaneceriam como principais acionistas.

Flexibilidade de Ratcliffe pode fazer a diferença

Jim Ratcliffe, dono da INEOS (Icon Sport)

Desde que viu que a proposta de compra de todas as ações dos Glazers não agradou aos donos, Jim Ratcliffe se mostrou mais flexível que seu concorrente para adaptar a proposta aquilo que os donos querem.

Em vez de propor comprar 69% das ações que pertencem à família, o dono da INEOS passou a considerar comprar uma parcela minoritária, desde que com poderes para participar ativamente da gestão do clube. Esse é um ponto crucial para Ratcliffe, mesmo que a sua parte das ações não o colocasse como majoritário no grupo de proprietários.

A INEOS, empresa pela qual Ratcliffe faria o investimento, já é dono do Nice, da França, do Lausanne-Sport, da Suíça, e tem um terço das ações da equipe Mercedes na Fórmula 1 (o grupo Mercedes Benz tem um terço, enquanto Toto Wolff, CEO da equipe, tem um terço).

A relação de Ratcliffe com o Manchester United pesa para que o empresário tenha paciência para comprar o clube. Ele cresceu em Manchester, a menos de 20 quilômetros de onde fica o estádio Old Trafford, e é um torcedor do clube.

A proposta de Ratcliffe contempla melhor os planos dos Glazer, especialmente porque os irmãos Joel e Avram querem continuar no clube. Outros irmãos pretendem vender ou diminuir a sua participação no clube. Ratcliffe não teve problemas em redesenhar a proposta a estruturar o pagamento, de forma a contemplar o que os Glazers queriam.

Glazers e Manchester United: uma relação conturbada

Faixa pede saída dos Glazers do Manchester United (Icon Sport)

A família Glazer, que também é dona do Tamba Bay Buccaneers, da NFL, comprou o Manchester United em 2005, em uma operação que foi muito criticada. A compra foi feita pagando 790 milhões de libras, mas todo o capital era proveniente de empréstimos que foram feitos usando propriedades do clube como garantia.

Assim, os Glazers compraram o clube, mas a dívida pelo pagamento ficou com o próprio clube no processo de alavancagem. Esse tipo de manobra não é mais permitido atualmente para comprar clubes no Reino Unido. Em parte, por culpa de como os Glazers fizeram.

Desde o começo, a relação com os torcedores foi ruim. Uma parte menor se recusou a aceitar a venda e fundou o United of Manchester, um clube gerido pelos torcedores. Atualmente, o clube está na Northern Premier League, equivalente à sétima divisão da Inglaterra.

Os protestos contra os Glazers se tornaram constantes ao longo dos anos no Manchester United. Faixas com “Glazers OUT” são comuns e já eram mesmo antes do clube entrar em uma crise esportiva. Se tornou ainda pior com o clube em uma seca de títulos da Premier League (o último foi em 2012/13, ainda com Alex Ferguson).

A relação entre o clube e seus donos, que já era péssima, piorou ainda mais com a tentativa de criação da Superliga Europeia, que ruiu em 48 horas. Os Glazers estavam na iniciativa como parte dos 12 homens que tentaram acabar com o futebol europeu. Os protestos contra os donos aumentaram, com pedidos constantes que eles vendessem o clube.

Em novembro de 2022, a família Glazer divulgou um comunicado dizendo que ouviria propostas para vender o Manchester United. Foi um dia agitado para os Red Devils, porque foi naquele mesmo dia, 22 de novembro, que o clube anunciou a rescisão de contrato com o astro Cristiano Ronaldo.

Desde o primeiro momento, o catariano Jassim bin Hamad Al-Thani, banqueiro dono do Qatar Ismalic Bank, além de ser filho do ex-Primeiro-Ministro do Catar. Seu pai esteve envolvido na compra do PSG.

O outro concorrente era o bilionário Jim Ratcliffe, acionista majoritário da INEOS. Os dois grupos concorreram pela compra do clube desde o começo e o processo foi moroso nesses últimos meses.

O catariano tinha fundos mais robustos para subsidiar uma compra, mas a avaliação alta demais dos Glazers e a recusa em vender o clube por cinco bilhões de libras afastaram o banqueiro do negócio. Restou Ratcliffe, mais disposto a flexibilizar a sua proposta.

Resta saber se a proposta de Ratcliffe será, de fato, aceita e, em um segundo momento, se isso vai significar que este é mesmo um processo para que ele compre o clube um dia dos Glazers. Como diria o meme, vamos ver o que vem por aí, não dá para saber ainda.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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