Inglaterra

Guardiola critica milhões investidos por Arsenal e Manchester United: ‘Não vira notícia’

Técnico do Manchester City aponta um peso e duas medidas da imprensa quando o assunto é dinheiro gasto por clubes na Inglaterra

Praticamente desde o início da trajetória de Pep Guardiola no Manchester City, em 2016, o técnico e o clube são questionados pelos altos investimentos em contratações, bancadas pela família real de Abu Dhabi.

O catalão nunca lidou bem com esse assunto, sempre mostrando irritação porque, no futebol atual, é impossível trabalhar e ganhar sem dinheiro.

Nesta sexta-feira (9), deu uma nova mostra de como lida mal com a pauta em entrevista coletiva prévia à decisão da Supercopa da Inglaterra contra o Manchester United.

Inicialmente questionado se o elenco atual está mais enfraquecido por saídas e poucas chegadas, Guardiola assumiu que pode contratar mais alguém.

Na sequência, um repórter trouxe que o rival United e o Arsenal, principal concorrente na Premier League nos últimos anos, investiram muito já nesta janela de transferências, motivo para críticas de Pep.

— Há muitos anos que eles [United e Arsenal] fazem isso [gastar muito dinheiro em contratações]. Muitos anos. Mas não é notícia… É notícia apenas quando o Manchester City gasta dinheiro — disse, com um sorriso irônico no rosto, emendando:

— Claro que estou preocupado há muitos anos como eles são bons, porque a cada ano estão cada vez melhores. Então vemos o Arsenal jogando no mesmo nível [que o City] na temporada passada. O amistoso contra o Leverkusen [vencido por 4 a 1]. Eles estão ‘on fire'. O United estará de volta, você conhece os jogadores — completou.

Claro que a fala do técnico de 53 anos também serve como uma provocação e jogar a pressão para os rivais. No fim da declaração, aproveitou para ostentar o pentacampeonato inédito na história do Campeonato Inglês.

— Todos querem a coroa que nós temos há quatro anos. É simples, eles entendem. E nós temos que saber como defendemos esta coroa, como temos que fazer — provocou.

Até o momento, o único investimento do Manchester City nesta janela foi a chegada de Savinho, do Troyes (parte do Grupo City), por 25 milhões de euros.

Enquanto isso, os Red Devils trouxeram o zagueiro Leny Yoro e o atacante Joshua Zirkzee, transferências que totalizam 104 milhões.

Já o Arsenal contratou em definitivo David Raya por 31 e adquiriu o zagueiro Riccardo Calafiori por 45.

No recorte dos últimos cinco anos, desconsiderando a temporada atual, o Manchester United lidera entre os três, seguido por City e Gunners.

Quantia investida por Arsenal, City e United nas últimas 5 temporadas

Fonte: Transfermarkt; valores em euros

Dados mostram que, em parte, Guardiola está certo

Um levantamento do Observatório do Futebol (CIES Football Observatory, em inglês) dá certa razão ao técnico do City.

Dois rivais locais, Chelsea e United, lideram dentre os times que mais gastaram do que lucraram em negociação de jogadores na última década, seguidos por PSG e Arsenal.

Os azuis de Manchester só estão em quinto, mesmo que com saldo ainda altamente negativo.

Piores saldos em contratações da última década, segundo o CIES:

  1. Manchester United – 1,3 bilhão de euros negativos
  2. Chelsea – 1 bilhão de euros negativos
  3. Paris Saint-Germain – 959 milhões de euros negativos
  4. Arsenal – 867 milhões de euros negativos
  5. Manchester City – 826 milhões de euros negativos

Isso, no entanto, não tira os questionamentos que envolvem o modelo de negócio dos Citizens e a origem do dinheiro.

Pela influência de Abu Dhabi, eles ganham o nome de “clube estado”, como acontece com PSG e o Catar.

O sheik Mansour Bin Zayed Al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi e dono do Manchester City, nas tribunas do Etihad Stadium
O sheik Mansour Bin Zayed Al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi e dono do Manchester City, nas tribunas do Etihad Stadium (Foto: Icon Sport)

A nação dos Emirados Árabes Unidos, dona do clube inglês, tem um histórico deplorável na temática de liberdade de expressão, perseguição política e direitos humanos.

Pessoas LGBTQIA+, por exemplo, são perseguidas e podem sofrer sanções, como reclusão, multa ou chicoteamento — há pena de morte prevista pela lei islâmica de Xaria, mas nunca foi relatado uma execução.

Este é outro assunto que Guardiola, normalmente com posicionamentos progressistas por conta da influência catalã, também nunca lidou bem e, certa vez, disse que cada país que decide como quer viver.

Cada país decide de que forma quer viver. Eu sou de um país [Espanha] com uma democracia estabelecida há anos e trato de proteger essa situação. — disse, em referência à prisão de presos políticos da Catalunha na Espanha, em 2018.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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