Futebol feminino

Quatro a cada cinco treinadoras revelam episódios de sexismo no futebol inglês

Cultura machista no futebol tem cansado profissionais mulheres, que brigam por um esporte mais igual e respeitoso

A cultura machista no futebol cria um ambiente cada vez mais tóxico às profissionais femininas, que estão cansadas de experimentar casos constrangedores de sexismo nos últimos anos. Mesmo com o aumento do público feminino no meio futebolístico e o próprio futebol das mulheres aumentando o seu espaço cada vez mais, ao invés de isso representar um espaço mais democrático, empático e respeitoso, na Inglaterra, por exemplo, quatro a cada cinco treinadoras passam por algum tipo de preconceito.

O portal Kick It Out conduziu uma pesquisa com 115 treinadoras do Reino Unido e apurou que 80% das profissionais entrevistadas sofreram algum tipo de preconceito no ambiente futebolístico e 60% afirmaram ter deixado as suas funções no esporte por conta de seu sexo. Hollie Varney, diretora de operações da Kick It Out, afirmou em entrevista ao The Guardian que as participantes da pesquisa amam o futebol e o que esta modalidade mudou em suas vidas, mas também reiterou a exaustão mental sofrida pelas profissionais com os casos de sexismo vividos frequentemente por elas.

“Muitas das mulheres com quem conversamos compartilharam sua paixão e amor pela função de treinadora, mas também falaram sobre a exaustão que as acompanhavam regularmente por conta deste preconceito, o que era questionada e negligenciada no ambiente de trabalho”, disse Hollie Varney.

Sexismo no futebol deve ser tratado como algo sério

Claro que para muitas pessoas, principalmente homens, a reivindicação de um ambiente mais empático e respeitoso com as mulheres pode ser ironizado, principalmente na internet, aonde boa parte dos usuários da rede, se sentem no direito de desrespeitar ou mesmo menosprezar o esforço das mulheres em trabalhar no futebol. Contudo, é necessário tratar o machismo no ambiente esportivo de forma séria e coibir duramente quem acha que o público feminino não tem o direito de acompanhar ou mesmo trabalhar no esporte.

Hollie Varney considera que o sexismo no futebol deve ser levado a sério para que mais mulheres se sintam encorajadas a trabalhar na função de treinadoras. A diretora de operações da Kick It Out espera que o resultado desta pesquisa possa iniciar um trabalho intenso de inibição a este tipo de preconceito contra as mulheres e fazer do esporte bretão um espaço cada vez mais acolhedor ao público feminino.

— O futebol precisa levar o machismo a sério se quisermos aumentar o número de mulheres no treinamento e esperamos que os resultados desta pesquisa possam ser um catalisador para tornar o treinamento um espaço mais acolhedor para as mulheres — pondera Hollie Varney.

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Treinadoras relatam censura em ambiente de trabalho

Boa parte das treinadoras entrevistadas na pesquisa da Kick It Out trabalha nas categorias de base de clubes do Reino Unido. Quase todas as participantes da pesquisa, 86%, relataram que possuem um curso espacializado para executar suas funções como treinadora de futebol. Das profissionais que afirmaram ter sofrido algum tipo de ação sexista, boa parte revelaram que tal demonstração de preconceito aconteceu no próprio ambiente de trabalho, com colegas de comissão técnica.

Indo mais a fundo na pesquisa, 55% das entrevistadas disseram que tiveram as suas opiniões questionadas de forma mais incisiva ou negligenciadas, enquanto 48%, quase metade, tiveram a sua capacidade de conhecimento das regras do futebol colocadas em cheque. Outro dado preocupante sobre a entrevista é que 35% relatou que se sentiram indesejadas por seus próprios companheiros de trabalho.

As treinadoras criticaram a falta de normas ou medidas nos clubes para coibir práticas de sexismo. Sem amparo dentro de seu local de trabalho, 71% das entrevistadas também afirmaram que não se sentiram dispostas a denunciar, seja por medo de perder o emprego, ou por considerar que tal denúncia poderia causar um constrangimento ainda maior.

Os clubes foram criticados pelos entrevistados por não terem sistemas adequados para lidar com denúncias de machismo. Essa falta de confiança no sistema talvez explique a constatação de que 71% das pessoas que experimentaram o machismo em um curso de coaching não se sentiram dispostas a denunciá-lo.

Uma profissional que não quis se identificar para a reportagem do The Guardian, afirmou que ama o futebol e como o esporte ajudou a mudar a vida de muitas meninas, mas que desistiu do esporte neste momento por conta dos abusos e preconceitos que recebeu ao longo de sua carreira. A treinadora ainda afirmou que nunca quis levar isso mais adiante pelo receio de ser colocada como alvo de outros profissionais e ainda reiterou sobre a importância dos clubes demonstrarem maior cuidado com suas profissionais, oferecendo mecanismos de denúncia em casos como este

“Eu amo treinar e inspirar meninas a jogar futebol e treinadoras são modelos importantes. Infelizmente os últimos anos foram muito difíceis pessoalmente com o machismo dos meus colegas treinadores. Eu nunca quis levar isso adiante porque não quero ser colocada na lista negra por isso, mas não estou mais treinando por causa do machismo que vivi. Os clubes precisam fazer melhor para apoiar as treinadoras que têm e ter uma política em vigor onde medidas serão tomadas se o sexismo for relatado a elas”, disse uma treinadora ao The Guardian.

 

Foto de Lucas de Souza

Lucas de SouzaRedator

Lucas de Souza é jornalista formado pela Universidade São Judas em São Paulo. Possui especialização em Marketing Digital pela Digital House, e passagens pelos sites Futebol na Veia e Futebol Interior.
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