Futebol feminino

Em mais uma prova do descaso com o futebol feminino, Atlético-MG encerra base e tem apenas seis atletas no elenco

O descaso que o Atlético teve com o futebol feminino em 2023 parece que seguirá em 2024, tomando rumos ainda piores com o encerramento da base e a falta de planejamento

Depois de ter demonstrado total descaso com o futebol feminino em 2023, o Atlético-MG está tentando se superar em 2024 e fazer algo ainda pior com a categoria. Há dois meses do início do Campeonato Brasileiro, o time feminino do Galo não tem coordenador(a), treinador(a) e nem mesmo um elenco, já que conta com apenas seis jogadoras com contrato vigente. Para piorar, encerrou as atividades da base, que teve boas participações e tinha jogadoras de seleção no elenco.

Com o descaso em 2023, o Atlético só não foi rebaixado no Brasileiro pois haviam times que tratavam ainda pior seu time feminino ou realmente não tinham condição/estrutura para jogar a competição. Além disso, depois de três anos vencendo o Mineiro, em uma sequência que parecia demonstrar uma crescente da modalidade no clube, o Galo perdeu para o Cruzeiro, que passou por cima das Vingadoras no quesito estrutura e importância dada ao futebol feminino desde a entrada da SAF.

No Atlético, a SAF preferiu adotar um caminho bem diferente no futebol feminino. Depois de praticamente tudo errado em 2023, terminando com denúncias das jogadoras ao GE sobre descaso, falta de estrutura e materiais. O Galo também decidiu encerrar as atividades da base, que tinha o Sub-17 e o Sub-20. As meninas do clube haviam disputado o Brasileiro Sub-17, a primeira Copinha Feminina da história e competições internacionais, como a Copa Nike, que terminaram vice-campeãs. Além disso, algumas jogadoras ganharam chances na Seleção Brasileira de suas categorias.

A informação do fim da base feminina do Galo partiu do agora ex-treinador das categorias, Eduardo Serafini, que fez um longo texto em uma rede social anunciando a decisão da SAF do clube e, consequentemente, sua saída: “Termina hoje minha segunda passagem pelo Galo Feminino. Infelizmente a S.A.F. do Clube Atlético Mineiro decidiu encerrar as atividades das categorias de base do Galo Feminino. Mas este não será um post para lamentar a falta de apoio ao futebol feminino de base em nossa cidade e estado. Este é um post de agradecimento”, iniciou o treinador sua despedida. Confira:

A Trivela procurou o Atlético para comentar as decisões sobre a base e qual o projeto para o futebol feminino em 2024 e recebeu o seguinte posicionamento: “O Galo reconhece a importância do futebol feminino, que cresce no mundo inteiro. Infelizmente, a realidade em nosso estado é muito diferente da vivida por times europeus e até de outros estados brasileiros. O momento, portanto, é de reestruturação na modalidade. O Clube busca um(a) profissional para geri-la com dedicação exclusiva, de modo a torná-la sustentável, e ampliar a qualidade do trabalho”. A assessoria do clube afirma que até a próxima semana deverá haver informações sobre os planos para a temporada. Uma outra fonte do clube garantiu ainda que as categorias de base do feminino não foram completamente extintas.

Atlético não tem elenco, treinadora ou quem cuide do feminino

Há pouco mais de dois meses da estreia do Atlético no Campeonato Brasileiro Feminino Série A1, o clube não tem ninguém para coordenar o projeto, não possui treinador(a) e muitos menos um elenco. No momento, apenas seis jogadoras possuem contrato com o Galo Feminino: Layza (zagueira), Leidiane (lateral), Dyana (meia), Camila (meia), Gabi Arcanjo (meia) e Milena (atacante). Todas as outras jogadoras tinham contrato apenas até o fim de 2023 e não tiveram seus vínculos renovados.

Muitas jogadoras que deixaram o Atlético já estão sendo anunciadas em outros clubes da elite do futebol brasileiro. Diferente do Galo, praticamente todos os clubes estão se movimentando no mercado. A goleira Nicole Ramos, por exemplo, foi para o multicampeão Corinthians. A também goleira Raíssa foi para a Ferroviária, que contratou ainda a lateral Katielle e a atacante Neném, todas oriundas do Alvinegro. Fluminense, Botafogo, Grêmio e América-MG também se acertaram com jogadoras que deixaram o time atleticano.

No fim de 2023, na última coletiva do ano, o presidente Sérgio Coelho, reeleito para estar à frente do clube nos próximos três anos, não sabia informar o orçamento para o feminino e demonstrou total desinteresse em tocar a modalidade.

Para 2024, o presidente atleticano já prometeu que, a partir de março, as jogadoras vão passar a treinar na Vila Olímpica, antigo centro de treinamento do Atlético, antes da Cidade do Galo existir. Elas treinaram boa parte de 2023 em um campo público de Belo Horizonte, que não tinha condições de receber um clube profissional. Sérgio Coelho afirmou que a gestão dele dá a devida atenção ao futebol feminino: “A gente deu muita atenção, nossa gestão assumiu o clube com elas na Série B. Elas foram para a Série A. Fomos campeões mineiros, né? Em três anos tivemos dois títulos. Então é isso. A gente está dando atenção”. O diretor de futebol do clube, Rodrigo Caetano, afirmou que o Galo está em busca de patrocinadores e parceiros para deixar “o feminino mais forte”.

No entanto, um clube que há dois meses de sua estreia na temporada não tem nada, nem jogadoras, não parece que está tão focado assim em fazer um futebol feminino mais forte. Encerrando a categoria de base então, passa menos ainda essa visão.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
Botão Voltar ao topo