Europa

Oito vezes Messi: obrigado pelo privilégio de nos deixar te assistir, Mágico

Tive a honra de testemunhar, muitas vezes de perto, a consolidação de um dos maiores gênios da história do futebol. Obrigado, Messi!

A conquista da oitava Bola de Ouro provavelmente encerra o ciclo de um dos maiores gênios do futebol. Longe dos holofotes da Europa, Lionel Messi dificilmente chegará a nove prêmios. O que não fará diferença alguma na avaliação em sua biografia.

Tive a honra de testemunhar, profissionalmente, a transformação de promessa em mito de Messi. Sou grato aos deuses da bola por isso.

Os momentos brilhantes – e outros, nem tanto – de Messi

Na Copa de 2006 comentei, ao lado do mestre Jota Júnior, a vitória da Argentina sobre o México por 2 a 1. Messi, que completava 19 anos naquele dia, entrou no lugar de Saviola. Meses mais tarde eu estava no Japão, vendo o Inter superar o Barcelona no Mundial de Clubes. Messi, machucado, não pôde ajudar o Barça contra Gabiru e cia.

A grande rivalidade que impulsionaria o futebol mundial e transformaria a Liga dos Campeões da Europa no maior torneio do planeta estava começando a ser desenhada: Messi e Cristiano Ronaldo. A era mágica do futebol no século XXI.

Ainda uma promessa, Messi estava em campo na calorenta Maracaibo em 15 de julho de 2007, quando o Brasil de Dunga sapecou 3 a 0 na Argentina, vencendo a Copa América. Ver de perto aquele chocolate não foi abonador para o jovem argentino, que ainda era coadjuvante diante de estrelas como Tévez e Riquelme.

Em 2009, novamente ao lado de Jota Júnior, estava no Centenário quando Messi e a Argentina, com um gol improvável de Bolatti, carimbaram o passaporte para a Copa do Mundo de 2010. Vejam, só, Messi em campo e Maradona no banco, como treinador! Foi o dia em que Dieguito soltou o famoso “que la chupen!” para meus colegas argentinos que o criticavam como técnico. Colegas que estavam certos, registre-se. Porque quiseram o destino e a escala que eu estivesse na Cidade do Cabo em 3 de julho de 2010, com Milton Leite, quando a Alemanha aplicou um baile na Argentina de Maradona e Messi, vencendo por 4 a 0 e despachando os então bicampeões mundiais.

Messi ainda era visto com desconfiança pelos argentinos. Motoristas de táxi em Buenos Aires são grandes comentaristas de futebol. Certa vez, um deles desancou Messi para mim, após desfilar conhecimento sobre a história do futebol brasileiro que faria corar alguns especialistas. Disse que era um “garoto espanhol que não sentia a camisa”. A vida do gênio ficaria ainda mais difícil em 16 de julho de 2011. Eu, Luiz Carlos Júnior e Casagrande testemunhamos a vitória do Uruguai sobre a Argentina nos pênaltis, pela Copa América. Nada mais sugestivo que o local do jogo ter sido o estádio Estanislao López, em Santa Fé, conhecido como o Cemitério de Elefantes (vários gigantes caíram ali). Messi foi vaiado e seus pais, que estavam na arquibancada (ele nasceu em Rosário, que fica na província de Santa Fé), foram hostilizados.

A essa altura do campeonato, Messi caminhava para sua terceira Bola de Ouro.

Ainda em 2011, novo encontro com o gênio. Era 18 de dezembro de 2011, Milton Leite e eu vimos, assombrados como o mundo, uma exibição de gala quando o Barcelona triturou o Santos por 4 a 0, no Mundial de Clubes. Messi marcou duas vezes.

Minha memória aponta agora para 21 de junho de 2014, numa tarde ensolarada no Mineirão entupido de argentinos. No lance derradeiro de um jogo dificílimo contra o Irã, Messi tira da cartola um golaço que valeu a vitória. Ele e sua seleção ainda não se entendiam perfeitamente. Tanto que pouco fez na classificação para a final, conseguida nos pênaltis contra a Holanda, que vi em São Paulo. Na final, perdeu um gol imperdível até para os gênios, e a Alemanha levou a taça.

A contagem do argentino marcava quatro Bolas de Ouro. Mas a Argentina ainda contava com ele para outras glórias que ainda demorariam a chegar.

Antes da ganhar quinta Bola de Ouro, Messi perdeu, nos pênaltis, a final da Copa América para o Chile, em 4 de julho de 2015, no estádio Nacional de Santiago pulsando como se fosse uma decisão de Copa do Mundo.

Um ano depois, nada de Bola de Ouro e muito menos de Copa América. Luiz Carlos Júnior narrou perplexo para meus comentários idem, no Met Life Stadium, em Nova Jérsei, o pênalti que Messi chutou na lua em nova derrota para o Chile, na final da Copa América Centenário. Após o jogo, o craque anunciou sua aposentadoria da seleção argentina. Tive tempo de vê-lo treinar no Barcelona ainda em 2016. Graças a uma gentileza de Neymar, meu filho Rafael, que é messista juramentado, pôde tirar uma foto com seu grande ídolo.  

Felizmente ele reconsiderou. Mas seu calvário com a seleção argentina ainda seria longo. Na Copa da Rússia testemunhei, em Nizny-Novgorod, uma aula de futebol da Croácia sobre a Argentina, na qual quem foi ver Messi viu Modric. Em 2019, a Copa América e Messi voltaram ao Brasil. O final do argentino foi melancólico, expulso com o chileno Medel na disputa do terceiro lugar. Para compensar, viria nova Bola de Ouro para sua coleção.

Copa do Mundo e o título que faltava

Em 2021 a história começou a corrigir seus rumos na relação entre Messi e a seleção argentina. Os deuses do futebol, talvez cansados dos castigos impostos, pegaram leve. A Argentina venceu a Copa América no Maracanã, batendo o Brasil. Mau sinal para nós. O peso que incomodava Messi parece ter saído dos ombros. A Bola de Ouro, então a sétima, confirmava sua trajetória como um dos maiores jogadores de clube de todos os tempos. Mas faltava algo.

A zebra insistia em pastar no quintal de Messi. Ao ponto de “Ezebraldo” Marques, eu e o Profeta Hernanes transmitirmos a vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina na Copa do Catar. Coube a Messi fazer um gol mágico diante do México e corrigir a rota para a glória. Ele fez a Copa dos seus sonhos. Anotou sete gols, foi decisivo na final, levou o prêmio de melhor jogador. Esse desempenho foi determinante para o prêmio recebido em 30 de outubro de 2023. A oitava Bola de Ouro fecha o ciclo. Messi agora faz o que Pelé fez nos Estados Unidos em 1975: tenta emplacar o futebol na terra do soccer. Em condições gerais muito melhores, diga-se.

Sou grato por ter testemunhado parte dessa trajetória. 

Não é coincidência que Messi tenha cinco letras. Como Magia.

Obrigado, Messi!

Foto de Mauricio Noriega

Mauricio Noriega

Colunista da Trivela
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