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O Império contra-ataca: Executivo revela plano de Superliga Europeia com até 80 clubes

Nova versão da Superliga seria baseada no mérito esportivo e sem vagas permanente, com diversas divisões e acesso e rebaixamento para tentar convencer clubes a participarem

Os executivos da Superliga sofreram uma derrota pesada na primeira tentativa de implantar a competição, em abril de 2021. Naquela vez, o anúncio durou apenas 48h, depois de uma reação furiosa dos torcedores, especialmente ingleses, que fizeram nove dos 12 clubes recuarem. Agora, em fevereiro de 2023, o executivo contratado pela Superliga anuncia um novo plano de uma competição com 80 clubes, diversas divisões e acesso e rebaixamento.

Bernd Reichart, executivo-chefe da A22, empresa contratada para gerenciar a Superliga Europeia, revelou ao jornal Die Welt, da Alemanha, que a competição não teriam vagas fixas, que seriam baseadas no mérito esportivo. Os clubes teriam garantidos ao menos 14 jogos por temporada.

Segundo a A22, empresa criada para auxiliar a criação da Superliga, consultou cerca de 50 clubes europeus desde outubro e desenvolveu 10 princípios baseados nisso que sustentam seus planos para uma nova liga.

“As fundações do futebol europeu estão correndo o risco de colapsar. É tempo para uma mudança. São os clubes que assumem o risco empresarial no futebol. Mas quando decisões importantes estão em jogo, eles são frequentemente forçados a ficarem de braços cruzados à margem enquanto os alicerces esportivos desmoronam ao seu redor”, afirmou, de forma bastante dramática, Reichart.

“Nossas conversas deixaram claro que os clubes frequentemente acham impossível falar publicamente contra um sistema que usa a ameaça de punições para impedir a oposição”, continuou o executivo da A22. “Nosso diálogo foi aberto, honesto, construtivo e resultou em ideias claras sobre mudanças que são necessárias e como elas poderiam ser implementadas. Há muito a ser feito e continuaremos o nosso diálogo”.

A A22 contestou nos tribunais o direito da Uefa e a Fifa de bloquearem a formação da Superliga com ameaças de punições aos clubes que participarem. Eles argumentam que os órgãos governamentais do futebol estão abusando do poder dominante que possuem e violam a lei de competitividade da União Europeia.

Ao que tudo indica, a União Europeia não concorda. Ao menos foi o que emergiu quando o advogado-geral da União Europeia considerou que Uefa e Fifa têm direito de punir os clubes que aderirem à Superliga. A Uefa já dispensou a ideia da A22 de uma Superliga reformulada em uma reunião em novembro e disse que “todo o futebol europeu se opõe a esse plano ganancioso”.

A Superliga Europeia lançada em abril de 2021 tinha 12 clubes: Real Madrid, Barcelona, Juventus, Internazionale, Milan, Atlético de Madrid, Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham. Um dia depois do lançamento, os clubes ingleses desistiram da ideia, depois de fortes protestos dos seus torcedores. Depois, Inter, Milan e Atlético de Madrid também desistiram. Atualmente, apenas Barcelona, Real Madrid e Juventus continuam defendendo publicamente a Superliga e seguem como membros da organização.

Bernd Reichart é um executivo experiente e sabe que o assunto precisa estar em pauta na imprensa, sendo discutido, para ganhar adeptos. Cada entrevista que ele dá serve como uma propaganda da ideia e é, no fundo, uma forma de tentar convencer potenciais indecisos e argumentar para aqueles que discordam para tentar fazê-los mudar de ideia.

Há diversos problemas na Uefa, assim como na Fifa e qualquer entidade que dirige o futebol, como a Conmebol, na América do Sul. Os clubes precisam ter voz, sem dúvida alguma, mas também é perigoso deixar na mão dos clubes mais poderosos do mundo as decisões mais importantes sobre o futebol. Seria como reunir as principais empresas e deixar que elas tomem as decisões políticas.

É preciso que todos tenham voz para que as diferentes partes interessadas tenham voz, e isso inclui, claro, os clubes, mas também os dirigentes dessas entidades, os torcedores e até as empresas de mídia e governos. O futebol é uma indústria, tal qual tantas outras, e precisa ter regulação e fiscalização de todas as partes.

Os torcedores são muito mais negligenciados nesse processo que os clubes (muitas vezes são os clubes os agentes que negligenciam seus torcedores, inclusive). É preciso mais discussão sobre o futebol, sobre as competições, sobre como seria a melhor forma de seguir adiante. A Superliga, porém, parece uma solução que só é boa para uma parte de todas essas, que são os clubes da elite da Europa.

Será preciso pensar melhor nisso e a Uefa tem o papel de exercer melhor as suas funções, como efetivamente aplicar e aprimorar o Fair Play Financeiro, por exemplo, pensar em uma regulação de empréstimos e também em como melhorar o futebol em todo o continente. A Superliga alega resolver um problema que ela nem bem descreve qual é, mas sabemos que é uma tentativa dos clubes de criar uma Premier League europeia, criando um abismo ainda maior com quem não estiver no topo dela.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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