Presidente do Getafe critica denúncia de racismo do seu próprio jogador
Ángel Torres diz que atacante do seu clube ainda não conhece direito a Espanha para comentar sobre crimes raciais
Em entrevista recente à ESPN Africa, o meia-atacante nigeriano Christantus Uche, do Getafe, fez declarações fortes sobre a atuação dos árbitros e o racismo presente em La Liga.
Uche, que tem 21 anos, chegou ao time nesta temporada após atuar no Ceuta, equipe que disputa La Liga 2, a segunda divisão do futebol espanhol.
Ao comentar sobre os primeiros jogos, ele expressou suas frustrações, relatando que frequentemente ouve ofensas racistas vindas das arquibancadas.
“Eles [torcedores] falam ‘preto de m**,' você é um ‘preto isso, preto aquilo.'”
O meia-atacante também criticou a atuação dos árbitros, afirmando que suas reclamações sobre faltas são ignoradas, enquanto ações semelhantes em relação a outros jogadores são marcadas.
“Primeiras duas ou três partidas, eu vi com meus olhos que os árbitros são ruins. Eles [jogadores] me chutam, o árbitro diz que eu deveria ficar de pé. Não, é uma falta, você tem que apitar. Mas se eles chutarem outra pessoa, o árbitro simplesmente apita. E é tão doloroso, você não pode fazer nada, você não tem poder algum porque o árbitro tem poder para fazer qualquer coisa que ele queira fazer. […] O racismo não é bom, ele tem que acabar. Todos são iguais, todos são iguais.”
Não demorou para que o presidente do Getafe, Ángel Torres, se posicionasse. Em entrevista à TV El Chiringuito, da Espanha, ele disse que o atacante ainda não tem experiência em La Liga: “Ele não entende. Como pode ele dizer isso?”:
“Quando ele tiver passado um ano aqui, dois anos, e entender espanhol, ele poderá dizer o que quiser. Mas agora… esperamos que os comitês correspondentes entendam e que seja simplesmente um aviso. Não quero culpar ou (dizer) que a pessoa que o entrevistou é a única culpada, mas de agora em diante o que ele (Uche) terá que fazer é não falar”, acrescentou.
Em seguida, Torres ainda culpou o jornalista da ESPN Africa que conversou com o jogador e os assessores do Getafe que estavam presentes na entrevista.
“Vou falar com ele [Uche], pois não vi a entrevista completa. Não quero justificar, mas alguém que não fala espanhol, que tem um microfone colocado na frente dele, me parece que o jornalista tem mais culpa.”
Os recentes casos de racismo na Espanha com Vinícius Júnior
O atacante brasileiro Vinícius Júnior, camisa 7 do Real Madrid, tem sido uma das principais vozes na luta contra o racismo no futebol espanhol.
Em março deste ano, o jogador se emocionou durante uma coletiva de imprensa pela Seleção Brasileira, onde afirmou que o abuso racista dirigido a ele estava se intensificando. “Sinto cada vez menos vontade de jogar.”
Meses depois, em junho, três criminosos foram condenados a oito meses de prisão por ofensas racistas dirigidas a ele durante uma partida em maio de 2023, contra o Valencia, no Mestalla.
Esta foi a primeira condenação por racismo em um estádio de futebol na Espanha. Após o episódio, Vinícius comentou que a decisão não era “apenas para ele, mas para todas as pessoas negras”, só que a luta não acabava.
Recentemente, o brasileiro declarou que a Espanha deveria perder os direitos de sediar a Copa do Mundo de 2030 caso o país não melhore na questão do racismo.
Suas declarações repercutiram, e foram condenadas por José Luis Martínez-Almeida, prefeito de Madrid.
“Mesmo sendo um jogador de futebol extraordinário, isso não significa que ele possa falar besteira, e ele falou besteira”.