Girona, Sociedad, Athletic: outras forças mostram que futebol espanhol é mais do que Real, Barça e Atlético
O futebol espanhol não vive só do trio gigante e a temporada 2023/24, como nas anteriores, reúne outros bons times, como Girona, Real Sociedad e Athletic Bilbao

Quem vê o futebol espanhol apenas de longe tem em mente que, por lá, só Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid têm times competitivos e jogam um bom futebol. Há motivos, é claro, como a hegemonia em La Liga, competição na qual, desde 2012/13, o trio sempre terminou entre os três primeiros colocados, com seis títulos catalães, três dos Merengues e dois dos Colchoneros. No entanto, nem só das capitais espanhola e catalã sai bom nível de jogo e a atual temporada mostra bem isso com as forças emergentes Real Sociedad, Athletic Bilbao e Girona.
Confira clube a clube, uma análise especial da Trivela sobre o trio menos midiático do que Real, Barça e Atlético.
Athletic viveu invencibilidade de três meses e acabou de eliminar o Barcelona
Um centroavante esforçado quando jogador nas décadas de 80 e 90, Ernesto Valverde defendeu o Athletic por seis temporadas, de longe a equipe que mais jogou na carreira dentro dos gramados. Na transição para carreira de técnico, o caminho só poderia ser o lado vermelho do País Basco, iniciando nas categorias de base, passando pelo profissional entre 2003 e 2005 e voltando em 2013 para construir uma trajetória de quatro anos, interrompida por uma ida ao Barcelona. Retornou ao Bilbao no meio de 2022 e, após não conseguir vaga em competição europeia na primeira temporada, mostra um nível extremamente competitivo em 2023/24.
Entre 22 de outubro de 2023 e 20 de janeiro desse ano, exatos 90 dias, ninguém derrotou os Leões de Valverde. Foram 14 jogos de invencibilidade, vencendo 11 e empatando três entre confrontos de La Liga e da Copa do Rei – tudo isso mantendo a filosofia de contratar apenas atletas de origem basca. Chegou a ultrapassar o Atletico e ameaçar o Barça na terceira colocação, depois retornando ao quinto lugar com dois tropeços seguidos.
Como um bom time de Ernesto Valverde, possui uma defesa extremamente sólida, a que mais partidas passou sem ser vazada em La Liga (10 jogos em 22 rodadas, empatado com o Real Madrid) e o terceiro que menos sofreu gols (21 ao lado da rival Sociedad e atrás de Real e Las Palmas). Em campo, o 4-2-3-1 tem muita velocidade, ultrapassagem dos laterais e Nico Williams sempre como opção ofensiva aberta pelos lados, além de um forte jogo por dentro com Iñaki Williams, Oihan Sancet e Gorka Guruzeta.

A velocidade e jogo pelo lado puniu o Barcelona nas quartas de final da Copa da Espanha, eliminado com um eletrizante 4 a 2 já na prorrogação. Vice-campeão da competição em 2020 e 2021, o Athletic precisa passar pelo complicado Atlético de Madrid de Diego Simeone se quiser avançar para decisão e, com o título, quebrar o tabu 40 anos sem levantar uma Copa do Rei.
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Outro lado do país basco: mais consolidado, trabalho de Alguacil faz Sociedad dar próximo passo
Como o rival Athetic, a Real tem um técnico identificado e que defendeu o clube quando jogador. Modesto lateral-direito, Imanol Alguacil faz história mesmo como técnico do time. Desde 2013 como treinado da equipe B, se tornou o comandante do elenco principal nos últimos dias de 2018. A partir disso, levou a Sociedad ao título da Copa do Rei em 2021 (em cima do maior rival), além de classificar para três edições seguidas da Europa League antes de dar um passo histórico na temporada passada, voltando à Champions League para 2023/24 – foram 10 anos longe do mais alto nível de futebol no âmbito europeu.

O trabalho de longo prazo é refletido dentro da organização dentro de campo. O time ostenta um futebol ofensivo, de pressão incessante no adversário a todo momento para recuperar a bola. Adepta ao jogo de posição, a Sociedad de Alguacil utiliza um 3-2-5 quando tem a posse de bola no campo de defesa adversário e leva muito perigo com as jogadas individuais do japonês Takefusa Kubo, sempre aberto pela direita para ter duelos um contra um. O meio-campo composto por Martín Zubimendi, Brais Méndez e Mikel Merino é o ponto alto de intensidade e controle de jogo.
Nesta temporada, terminou em primeiro em um grupo complicado na Champions, que tinha a atual vice-campeã Internazionale, o Benfica (que parou nas quartas de final na edição anterior) e o RB Salsburg. No fim, empatou as duas vezes contra os italianos, líderes da Serie A, e especialmente na segunda partida, no San Siro, impôs o jogo que quis para terminar no 0 a 0 que confirmou a primeira colocação.
No entanto, ainda com dificuldades em La Liga, não deve ganhar uma vaga para a próxima Champions League, muito porque há um novo “intruso” nas primeiras colocações do campeonato.
A grande surpresa da temporada, Girona se mantém na briga pelo título de La Liga
Dá para dizer que é normal um time mais modesto começar muito bem uma competição de pontos corridos e, ao longo do tempo, ir diminuindo o desempenho para voltar a seu lugar natural. É o ditado conhecido no futebol “tal clube é igual elefante em cima da árvore, uma hora irá cair” – mas alguém em La Liga quer mudar isso. Após 22 rodadas do Campeonato Espanhol, quem lidera é o modesto time catalão Girona – vale citar que o Real Madrid tem um jogo a mais e pode ultrapassá-los.
Parte do conglomerado de clubes do Grupo City, que tem o Manchester City no topo, o Girona não foge dos princípios dos colegas ingleses: posse de bola, pressão, ataque posicional, busca eterna em ser protagonista do jogo. Tudo isso sob comando de Míchel, há quase três anos no cargo, e comprovado pelos números de La Liga. O time é o melhor ataque (52 gols), é o segundo que mais cria chances (75), a quarta maior posse de bola (57,{62c8655f4c639e3fda489f5d8fe68d7c075824c49f0ccb35bdb79e0b9bb418db}) e o terceiro em média de passes certos (461.7 por jogo).
O coletivo é o ponto forte dos Blanquivermells, mas há muita qualidade individual (e brasileira). No 3-3-4 (ou 3-2-5) com bola, Yan Couto (direita) e Savinho (esquerda) são os responsáveis por darem amplitude no campo, o que potencializa a qualidade no drible e nos cruzamentos da dupla, responsável por 13 assistências. Quem se aproveita dos precisos passes e lançamentos dos brasileiros é o centroavante ucraniano Artem Dovbyk, artilheiro de La Liga com 14 gols ao lado de Jude Bellingham e Borja Mayoral.

Para construir essa campanha sensacional, não se provou apenas contra os menores clubes espanhóis. Primeiro aniquilou o Barcelona, no Olímpico, e depois superou o Atlético em um jogaço no estádio Montilivi. Até agora só perdeu para o Real, ainda em setembro, e voltará a enfrentar os Merengues em 10 de fevereiro, duelo que pode definir o futuro da briga pelo título nacional na Espanha.