Copa do Mundo

Seleção Brasileira ‘derrapa’ na defesa, e ponto forte na ‘era Tite’ vira problema para Diniz

Diniz prioriza corrigir erros defensivos de Seleção que sofreu nove gols em seis jogos após a saída de Tite

Deixar o gramado da Arena Pantanal sob vaias é um sinal de que as coisas não foram bem em sentido algum para o Brasil durante o empate em 1 a 1 com a Venezuela, na última quinta-feira (12), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. Mas entre tudo o que deu errado no calor sufocante de Cuiabá, Fernando Diniz deixou a capital do Pantanal preocupado especialmente com o desempenho do sistema defensivo de sua equipe neste início de trabalho como técnico da seleção brasileira.

A entrevista coletiva do treinador após um resultado tão frustrante quanto inesperado deixou isso nítido, ao menos nas entrelinhas. Diniz citou dois “pecados” da equipe na partida: as chances perdidas pelo ataque e a desatenção da defesa para impedir contra-ataques.

Para as falhas dos homens de frente, o técnico teve explicações. Houve alguns erros técnicos, e o gramado e o próprio calor foram prejudiciais para uma equipe que sempre dominou as ações e tentava furar um bloqueio de uma linha de seis defensores. Agora, para as deficiências defensivas, sobrou apenas a preocupação.

– Eu acho que a gente pecou em dois aspectos principais. O término das jogadas. A gente criou para fazer segundo, terceiro, quarto gols. E a gente cedeu contra-ataques que não devia. E o gol da Venezuela, a gente falhou em coisas que não devia ter falhado. A gente podia ter ajustado a marcação e não oferecer chance de finalizar – afirmou o treinador.

Defesa vai de ponto forte a problema após Tite

As preocupações com a defesa são ainda mais gritantes, porque o setor era justamente o ponto forte da Seleção sob Tite, o antecessor de Diniz no cargo. Mas antes dos números, cabe uma ressalva. É no mínimo cruel comparar dois trabalhos tão diferentes em estilo e (principalmente) em duração.

Agora à frente do Flamengo, Tite comandou a Seleção por seis longos anos. Teve tempo de fazer um ciclo e meio de preparação para as duas Copas do Mundo que disputou. Diniz, por sua vez, mal completou três meses em um cargo que é datado, até a metade de 2024. Além disso, o treinador foi contratado para implementar um estilo mais ofensivo em uma seleção brasileira à espera de Carlo Ancelotti.

Brasil pós-Tite

  • 6 jogos (3 com Diniz)
  • 3 vitórias (2 com Diniz)
  • 1 empate (com Diniz)
  • 2 derrotas
  • 14 gols feitos (7 com Diniz)
  • 9 gols sofridos (2 com Diniz)

Dito isto, Diniz teve cuidado especial com a movimentação ofensiva nos treinamentos até aqui. É a velha máxima de que construir é mais difícil do que destruir. O técnico deu ênfase ao encaixe de Vini Jr, Neymar e Rodrygo nas sessões de treino. E o efeito colateral disso são os gols sofridos contra rivais para os quais a Seleção não devia sofrer gols. Na ânsia de atacar, a equipe ficou desprotegida.

E alguns números são emblemáticos. O Brasil sofreu gols em cinco dos seis jogos disputados após a saída de Tite – o único placar em branco foi com Diniz, na vitória por 1 a 0 sobre o Peru, em Lima. A equipe foi vazada incríveis nove vezes em seis partidas, com uma média superior a um gol a cada 90 minutos.

Antes do atual treinador, o interino Ramon Menezes teve dificuldades com seu sistema defensivo. Foram sete gols sofridos em três amistosos contra Marrocos (derrota por 2 a 1), Guiné (vitória por 4 a 1) e Senegal (derrota por 4 a 2).

Sob o comando de Diniz, são dois gols em três jogos, com uma marca negativa que chama atenção. A Seleção foi sofreu dois gols em dois jogos como mandante nas Eliminatórias e contra rivais considerados frágeis – Venezuela e Bolívia. Com Tite, o Brasil também sofreu dois gols em casa, mas no total de 14 jogos que o treinador comandou em seis anos pelas Eliminatórias.

Problemas nas laterais

As baixas são um elemento a mais para dificultar o trabalho de Diniz para consolidar o sistema defensivo. O treinador se viu obrigado a cortar os quatro laterais que havia convocado na primeira lista para esta Data Fifa. O último deles foi Danilo. O lateral sentiu uma fisgada no posterior da coxa esquerda ainda durante o primeiro tempo do jogo contra a Venezuela. Foi substituído por Yan Couto, estreante da noite na Arena Pantanal. Emerson Royal é o substituto e se apresenta já em Montevidéu.

O primeiro a ser cortado foi Caio Henrique. O lateral-esquerdo do Monaco sofreu uma lesão no joelho esquerdo e deu lugar a Guilherme Arana, do Atlético-MG. Depois, os cortes vieram no plural. O técnico perdeu Vanderson, também do Monaco, e Renan Lodi, do Olympique de Marseille, novamente por problemas de joelho. Yan Couto, do Girona, e Carlos Augusto, da Inter de Milão foram convocados.

Diniz espera Uruguai mais agressivo

O calendário obriga Diniz a corrigir os problemas, justo contra um adversário bem mais forte do que os que ele teve pela frente na Seleção. O técnico tem seu primeiro grande teste contra o Uruguai, na próxima terça-feira (17), em Montevidéu. Ele evitou fazer uma previsão do que será a partida. Mas ele admitiu que espera que a seleção uruguaia seja mais agressiva atuando em seus domínios.

– Não dá para fazer uma previsão. Temos que estar preparados para todos os cenários. A tendência é de que eles tentem propor mais o jogo. A gente não sabe o que vai acontecer ao certo. Temos que estar preparados – afirmou.

Seleção é vice-líder e se prepara para clássico

A Seleção perde a liderança das Eliminatórias para a Argentina, única equipe com 100% de aproveitamento até agora. O Brasil agora é vice-líder, com sete pontos. A equipe agora tem pela frente um clássico do continente. Será contra o Uruguai, no Estádio Centenário, em Montevidéu, na próxima terça-feira (17), às 21h (horário de Brasília), pela quarta rodada.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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