Eliminatórias da Copa

O início horrível da Bolívia nas Eliminatórias já derrubou o técnico Gustavo Costas

A Bolívia está zerada nas Eliminatórias e Gustavo Costas pagou com o emprego; Antônio Carlos Zago, que foi campeão com o Bolívar recentemente, é cotado para assumir

Não é de hoje que a Bolívia faz apenas figuração nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. A presença no Mundial de 1994 parece uma realidade cada vez mais distante. La Verde até esboçou brigar pela vaga no Catar em 2022, mas não teve fôlego até o final da campanha. Fica muito difícil quando não se ganha fora de casa há três décadas, afinal. E os bolivianos já demitiram seu treinador, por causa do início de campanha ruim do qualificatório para a Copa do Mundo de 2026. La Verde ainda não somou pontos nas quatro primeiras rodadas, com 11 gols sofridos e apenas dois anotados. Não havia mesmo clima para Gustavo Costas continuar.

Gustavo Costas durou apenas dez partidas à frente da Bolívia. Assumiu em novembro, após o venezuelano César Farías realizar um trabalho razoável. No entanto, o argentino não conseguiu fazer o mínimo com La Verde. A Bolívia até venceu um amistoso contra a Arábia Saudita em março, mas tomou pancadas em quase todos os jogos preparatórios antes das Eliminatórias. Já no qualificatório, humilhação atrás de humilhação. O time foi estraçalhado pelos 5 a 1 do Brasil e perdeu da Argentina por 3 a 0 em La Paz. Depois, o Equador fez 2 a 1 no Hernando Siles e o Paraguai garantiu o 1 a 0 em Assunção, num confronto direto na rabeira da tabela.

Gustavo Costas ainda possuía boas credenciais, por diferentes trabalhos em clubes sul-americanos. Dirigiu com sucesso times como o Alianza Lima, o Barcelona de Guayaquil, o Independiente Santa Fe e o Cerro Porteño – com títulos nacionais em quatro países diferentes. Entretanto, a experiência ao redor da América do Sul não garantiu grande impacto em sua primeira chance numa seleção. Sai pela porta dos fundos, numa realidade de trocas constantes de treinadores em La Verde. Desde 2010, César Farías havia sido o único técnico a durar mais de dois anos à frente dos bolivianos. Os outros comandantes do período não passaram mais do que 18 jogos na casamata.

Futebol da Bolívia vive de condições péssimas

No papel, a seleção da Bolívia é realmente a mais fraca da América do Sul na atualidade. Raros jogadores de La Verde ganham experiência no exterior e há poucos talentos individuais que chamem atenção. A última convocação tinha apenas oito jogadores em atividade fora do país, nenhum nas cinco grandes ligas europeias. Mal há intercâmbio mesmo em relação a campeonatos mais fortes da América do Sul. A esperança fica a jovens, como Jaume Cuéllar, atacante de 22 anos do Barcelona Atlètic – o antigo Barça B. Não surpreende que medalhões como Marcelo Moreno e Rodrigo Ramallo sigam com espaço entre os titulares. A renovação é ruim.

A presença massiva de jogadores da própria liga boliviana não seria necessariamente um problema. Alguns dos clubes locais fizeram bons trabalhos nos últimos anos, como o Bolívar de ótima Libertadores em 2023 ou o Strongest que incomodava até alguns anos atrás. No entanto, o Campeonato Boliviano atravessa uma crise sistêmica há algum tempo. A falta de organização do campeonato é crônica, com os times com dificuldades de recuperar suas finanças entre as crises locais e os efeitos da pandemia. Não à toa, interrupções no torneio se tornaram comuns – a mais recente por um caso de manipulação de resultados, que botou fim na temporada e depois fez os cartolas voltarem atrás. A bagunça na federação, naturalmente, se reflete na seleção.

Sem talentos e sem um coletivo forte, a Bolívia não tem muito para brigar nas Eliminatórias. Durante as últimas décadas, o único trunfo de La Verde era mesmo a altitude e isso chegou a fazer estrago em partidas contra adversários pesados. Contudo, é um time que não vence como visitante pelo qualificatório desde 1993. E, nos últimos compromissos, sequer o fator casa auxilia os bolivianos. São quatro derrotas consecutivas do time como mandante pelas Eliminatórias, a pior sequência desde que o sistema de pontos corridos foi adotado na América do Sul. É um retrato da fase péssima.

Antônio Carlos é opção para dirigir a Bolívia

Gustavo Costas nem merece ser apontado como culpado pelo péssimo início da Bolívia nas Eliminatórias, diante de problemas evidentes que vão além da casamata. Todavia, alguém precisava pagar o pato e é sempre mais fácil demitir o treinador. Resta saber quem vai assumir a bomba em La Verde, sem muitas perspectivas de longo prazo. Segundo o jornal La Razón, um dos nomes mais fortes é o de Antônio Carlos Zago, que fez um bom trabalho no Bolívar e levou o título nacional em 2022. A seu favor fica o conhecimento que possui das próprias competições domésticas.

Existe uma pressão crescente para que a Bolívia tenha um bom desempenho nas Eliminatórias. O aumento de vagas na Copa do Mundo torna a classificação mais acessível. Entretanto, mesmo com tempo a uma recuperação, o time não oferece as melhores condições para o futuro treinador. Dependerá de um milagre. Desde que o qualificatório passou a ser disputado em pontos corridos, somente na campanha para o Mundial de 2002 os bolivianos conseguiram ficar entre os sete primeiros – o que, na atual situação, teria rendido uma vaga na repescagem. Hoje em dia, repetir tal marca é improvável.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreve na Trivela desde abril de 2010 e faz parte da redação fixa desde setembro de 2011.
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