Copa Ouro

Os EUA rompem de vez a freguesia contra o México e, mesmo com o time B, conquistam a Copa Ouro na prorrogação

Estados Unidos não chamaram seus principais jogadores para a Copa Ouro e repetiram a vitória no clássico decisivo, como tinha sido na Liga das Nações

Os Estados Unidos tiraram 2021 para reverter a freguesia histórica diante do México em jogos decisivos da Concacaf. O US Team já tinha vivenciado um grande momento na primeira edição da Liga das Nações, em junho, ao derrotar os rivais numa decisão emocionante. E os estadunidenses repetiram o feito neste domingo, para faturar a Copa Ouro em pleno clássico disputado em Las Vegas. A responsabilidade era dos mexicanos, não só pelo retrospecto favorável, mas também pelo “time B” usado pelos EUA na competição. O técnico Gregg Berhalter poupou a maioria absoluta dos jogadores presentes na Liga das Nações, incluindo todos que atuam na Europa. Mesmo assim, o “expressinho” conseguiu assegurar a taça. No fim do segundo tempo da prorrogação, os Estados Unidos fecharam a vitória por 1 a 0 sobre o México e conquistaram a Copa Ouro pela sétima vez.

O elenco dos Estados Unidos na Copa Ouro é repleto de novatos e jogadores da MLS. Apenas nove convocados chegaram ao torneio com mais de dez aparições na seleção principal, enquanto 15 têm 24 anos ou menos. Somente quatro atletas atuam no exterior e todos eles são garotos, como o atacante Matthew Hoppe, revelação do Schalke 04 na temporada passada. Os mais tarimbados eram atletas como Gyasi Zardes e Kellyn Acosta, que nunca deixaram a liga local. Astros como Weston McKennie e Christian Pulisic estavam de fora, com um merecido descanso após a conquista da Liga das Nações, visando a campanha nas Eliminatórias para a Copa de 2022 durante o segundo semestre.

Mesmo com esse time alternativo, os Estados Unidos caminharam firmes na Copa Ouro. Terminaram seu grupo com nove pontos, por mais que encarassem o ascendente Canadá. Passaram também por Jamaica e Catar nos mata-matas, para alcançar a decisão. Exceção feita aos 6 a 1 sobre a Martinica, o US Team viveu de vitórias por 1 a 0 ao longo da competição. E isso não tirou os méritos de um time bastante competitivo, que não dependeu de nomes para avançar a cada etapa. De qualquer forma, na final contra um México cheio de astros, os estadunidenses puderam jogar mais leves sem a pressão pelo favoritismo.

O primeiro tempo em Nevada teve amplo domínio do México. El Tri chegou a registrar 67% de posse de bola e 12 finalizações. Porém, a equipe não conseguiu converter sua superioridade em gol. Rogelio Funes Mori teve as principais oportunidades dos mexicanos, mas parou em grandes defesas do goleiro Matt Turner. Do outro lado, os Estados Unidos chegaram bem menos. Em compensação, tiveram o lance mais claro da primeira etapa e botaram um chute na trave com Paul Arriola, desperdiçando quando saiu de frente para o gol após uma bola roubada na entrada da área.

O segundo tempo mudou de figura. O México continuou com mais posse de bola, mas os Estados Unidos tiveram melhores momentos, com seu jogo ofensivo fluindo. Contudo, dava para El Tri abrir o placar antes. A pressão foi maior durante os primeiros minutos, com Orbelín Pineda errando o alvo duas vezes em finalizações livres dentro da área. Quando Zardes respondeu do outro lado, também mandou ao lado da trave – em lance depois anulado por impedimento. Faltava ao US Team converter suas boas chegadas em arremates mais limpos. A equipe da casa seria por duas vezes travada na pequena área, em milagres do goleiro Alfredo Talavera e sua zaga.

Num jogo brigado e intenso, o zero prevaleceu rumo à prorrogação. O México permanecia mais tempo com a bola, sem a agressividade dos Estados Unidos. E a vitória saiu no segundo tempo extra. Zardes deu o aviso, num tiro rasteiro que Talavera pegou. Já o gol decisivo saiu a três minutos do fim. Numa falta cobrada por Kellyn Acosta no lado esquerdo, o cruzamento acabou na cabeça de Miles Robinson, que escorou dentro da área. Festa do US Team, numa campanha que vai além do que poderia se cobrar deste grupo.

A conquista na Copa Ouro mostra como os Estados Unidos podem contar com um elenco mais diverso além dos jogadores em atividade na Europa. Talentos da MLS mostraram-se aptos em competir em alto nível pelo US Team. Além disso, há um grupo de garotos que pode ganhar cancha e se firmar na equipe principal. O saldo é ótimo, especialmente considerando o que já tinha dado certo na Liga das Nações. Depois da vexatória ausência na Copa do Mundo de 2018, Gregg Berhalter indica um caminho aos estadunidenses para chegar com força ao Mundial de 2022. Bem diferente é o clima ao redor de Tata Martino, sem provar a hegemonia dos mexicanos dentro da Concacaf.

Os Estados Unidos conquistam a Copa Ouro pela sétima vez. Todos os títulos do país vieram na fase moderna da competição, a partir de 1991. Maior vencedor, o México possui quatro taças a mais – 11 no total e nove nesta fase moderna do torneio. Paralelamente, o US Team melhora o retrospecto contra El Tri. Nas seis finais anteriores da Copa Ouro entre os rivais, os mexicanos tinham levado o troféu em cinco e vinham de três vitórias desde 2009. O fim do jejum é doce aos estadunidenses, ainda mais pelas circunstâncias. Depois de tanto tempo sendo amassados pelos vizinhos, 2021 fica para a história do futebol nos EUA.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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