Brasileirão Série B

‘Nas mãos de Deus’: Técnico do Santos feminino fala sobre rebaixamento e final olímpica

Técnico das Sereias da Vila, Gláucio Carvalho detalhou a situação em que encontrou o elenco alvinegro

Com mais duas rodadas pela frente e seis pontos atrás da primeira equipe fora da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro Feminino, as Sereias da Vila vivem um drama na competição. A equipe precisa vencer os seus compromissos e torcer por tropeços de concorrentes para evitar a queda de divisão.

Para entender como está a preparação da equipe visando essa reta final e decisiva do campeonato, a Trivela conversou com o técnico Gláucio Carvalho sobre a situação.

Otimista, o treinador afirmou que, apesar das dificuldades, confia na permanência do Santos na elite, e aproveitou para falar sobre a final olímpica do futebol feminino, entre Brasil e Estados Unidos que acontece neste sábado (10), ao meio-dia (horário de Brasília), em Paris.

Trivela: Como está a sua expectativa para essa final olímpica?

Gláucio Carvalho: Olha, se eu falar que esperava o Brasil na final da Olimpíada, estaria mentindo. Foi um ciclo curto em que a comissão técnica teve muito apoio de toda a categoria e em todos os sentidos. Obter o resultado em Paris, apesar dos obstáculos, na minha opinião, já é uma questão de justiça.

Atualmente, o Arthur Elias é o treinador mais bem preparado para estar na Seleção Brasileira. Dentro da Olimpíada, essa seleção me surpreendeu por conta da alternância de jogadoras e lesões. A gente esperava um pouco mais na primeira fase. Nos primeiros jogos, o Brasil não teve um bom desempenho. Já contra a França, a equipe abdicou da posse de bola para ter o resultado. E obteve, o que era o mais importante. Numa quarta de final de Olimpíada não importa jogar bem. O importante é vencer e conquistar a classificação.

Diante da Espanha, que é a atual campeã mundial, o Brasil fez um jogo sensacional. As meninas encararam a semifinal com disposição e intensidade. Na minha opinião, foi o melhor jogo da Seleção Brasileira na década.

Para essa final contra os Estados Unidos, vejo condições de igualdade. A confiança está muito alta. Os Estados Unidos são favoritos? Os Estados Unidos são sempre favoritos no futebol feminino. É como se fossemos falar dos Estados Unidos no basquete. Mas acho que o Brasil tem chance, sim, de conseguir a medalha de ouro.

É o momento ideal para as meninas do Brasil encararem os Estados Unidos?

O momento ideal para enfrentar os Estados Unidos é, e sempre será, em uma final de Olimpíada. Então, esse é o momento ideal sim. Penso que as americanas já estão cientes do que realmente vão encarar. Tecnicamente as duas equipes se equivalem. Porém, fisicamente as americanas estão melhor preparadas. Elas têm mais massa muscular e são mais maturadas. Mas o Brasil pode surpreender e estamos aqui na torcida pela conquista dessa medalha de ouro, que pode mudar muito o cenário do futebol feminino dentro do Brasil.

Qual é o seu palpite para esse jogo?

Vou torcer muito para ser 2 a 1 para o Brasil.


Falando agora sobre o Santos, como está o emocional do elenco santista para essa reta final de Brasileiro?

Olha, o fator emocional é uma coisa que a gente teve que dar muita ênfase na nossa chegada. Realmente existiam muitos problemas. E não só emocional. Quando chegamos, identificamos problemas físicos, técnicos e táticos. Mas, atualmente, considero que elas estão muito bem. Neste período sem jogos, a gente conseguiu fazer uma intertemporada. A gente conseguiu se concentrar em Guararema, na região metropolitana de São Paulo, o grupo se conheceu melhor e conseguimos colocar ideias.

A gente teve uma evolução em todos os aspectos. Entre eles o emocional. As meninas já viraram a página de tudo que aconteceu e estamos encarando o segundo semestre como se fosse o início do ano. A gente sabe que é difícil evitar o rebaixamento. Mas não sei explicar, acho que alguma coisa vai acontecer, porque o grupo que está aqui não merece passar o que está passando.

Pegamos uma conta muito pesada. Por isso penso que o universo vai conspirar a nosso favor e vamos conseguir fazer um grande segundo semestre.

Ao que você se refere quando fala em “conta muito pesada”?

Se tivesse ocorrido um bom desempenho no Campeonato Brasileiro, muita coisa não teria vindo à tona. Até a troca de treinador não teria ocorrido. Tudo aquilo que aconteceu na virada do ano contribuiu muito para que as coisas não funcionasse.

O que aconteceu na virada do ano?

Perdemos um time titular inteiro. Jogadoras de altíssimo nível, que hoje são titulares em todas as outras equipes. A gente tem a informação de que no dia 10 de janeiro só tinham três jogadores no clube. A partir disso foi contratado um elenco em cima da hora por conta da mudança de presidente no clube. Atualmente, as grandes equipes do futebol feminino têm mantido suas comissões técnicas, que é quando você vai corrigindo os erros com contratações específicas. No Santos houve uma mudança radical com a perda de 13 ou 14 jogadoras, sendo 10 titulares. E isso, em um campeonato que não tem turno e returno, e quatro são rebaixados, é um problema muito sério.

Vocês estão trabalhando com qual expectativa? Porque todos sabemos que a permanência na primeira divisão é difícil.

O risco é muito grande, mas a gente não pensa, em nenhum momento, em empatar algum dos próximos jogos. Só pensamos em vencer. A gente precisa fazer a nossa parte, que é entrar em campo, se empenhar com vontade e determinação para buscar o resultado a todo minuto. Vamos encarar os adversários de maneira mais confiante, porque o grupo se sente mais confiante sobre aquilo que pode fazer. Se vamos conseguir evitar a queda ou não só o tempo vai dizer. Está nas mãos de Deus.

A responsabilidade de manter o Santos, um clube tão identificado com o futebol feminino, pode atrapalhar?

Pressão sempre pesa. Qualquer profissional que tenha responsabilidade, que sabe a grandeza do Santos, se preocupa com a situação. Eu não gosto nem de comentar e falar sobre o que pode acontecer com a gente no campeonato. Mas agora só com trabalho, responsabilidade e foco dentro de campo em todos os setores e sentido vamos evitar o pior. O nosso pensamento é de que ganhando os nossos jogos as coisas podem e vão acontecer positivamente.

Foto de Bruno Lima

Bruno LimaSetorista

Jornalista pela UniSantos com passagem pelo Jornal A Tribuna de Santos. Já trabalhou na cobertura de jogos da Libertadores e das Eliminatórias Sul-Americanas no Brasil e no Exterior. Na Trivela, é setorista do Santos.
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