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Tido como ‘Laboratório’, Campeonato Mineiro foi barco à deriva em 2023 do Cruzeiro

Tratada como uma competição de menor importância, Campeonato Mineiro antecipou alguns dos principais problemas sofridos pelo Cruzeiro ao longo do ano

Não é novidade para ninguém que a gestão do Cruzeiro, assim como a de diversos grandes clubes Brasil afora, enxerga o campeonato estadual como uma competição de menor importância, utilizada para avançar passos no planejamento da equipe para as competições mais importantes, como as copas internacionais, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.

Para 2024, Ronaldo Nazário, dono da SAF celeste, afirmou em entrevista ao Canal Samuel Venâncio que enxerga que o Cruzeiro ainda tem bons meses para planejamento e montagem do elenco até as competições mais importantes do ano. A declaração foi dada para justificar a tranquilidade em relação ao anúncio de um novo treinador do clube, que ainda não fechou com um nome para comandar a Raposa.

No ano de 2023, o Campeonato Mineiro foi tratado como um “laboratório”, para que experimentações e diagnósticos fossem feitos, visando o fechamento do elenco para o Campeonato Brasileiro, vista como o principal objetivo da temporada celeste.

Apesar do discurso, quando a bola rolou, o que se viu foi um barco à deriva, de onde muito pouco se aproveitou para o decorrer do ano. Ainda assim, o estadual foi um indicativo de todos os problemas que o Cruzeiro teria ao decorrer de 2023 e pensando retroativamente, essa identificação poderia ter evitado situações ruins para o clube celeste e sua torcida.

Como foi a participação do Cruzeiro no Campeonato Mineiro?

O Cruzeiro chegou para o Campeonato Mineiro ainda em reformulação de seu elenco, onde poucas peças do time campeão da Série B de 2022 seguiram com papel importante no time. Contratações chegaram, mas naquele momento, a principal arma da Raposa era a presença do treinador uruguaio Paulo Pezzolano, muito querido pela torcida após a ótima temporada anterior.

Mas quando a bola rolou, o que se viu foi um time totalmente desorganizado e perdido, que sofreu na maioria dos seus jogos, mesmo que os adversários fossem, em grande parte, equipes muito inferiores. Pezzolano começou o ano num esquema com uma linha de quatro defensores, mas o início foi tão ruim que rapidamente ele retornou ao sistema de três zagueiros que tanto deu certo na Série B. Entre os pontos altos, talvez esteja a boa atuação no clássico contra o Atlético-MG da fase inicial do estadual, que terminou com um empate de certa forma injusto, em 1 a 1, após uma partida superior do Cruzeiro.

Mas o bom desempenho parou por aí e o time celeste dependeu do rival América-MG para se classificar para a fase final. Há quem diga que “ajudar” um adversário grande nunca é bom, mas o Coelho não pôde se queixar. O alviverde encarou o Cruzeiro na semifinal e eliminou o time de Paulo Pezzolano com facilidade e propriedade, servindo a primeira grande decepção cruzeirense em 2023.

Cruzeiro sofreu eliminação dolorosa para o América-MG no campeonato estadual
Cruzeiro sofreu eliminação dolorosa para o América-MG no campeonato estadual – Foto: Icon Sport

O que deu errado para o Cruzeiro no Campeonato Mineiro de 2023?

Muitos dos problemas do Cruzeiro no Campeonato Mineiro só vieram a ser explicados depois do fim deste, sendo o mais sério a situação vivida por Paulo Pezzolano. O uruguaio havia decidido deixar o clube celeste após o fim da Série B, tanto pelo desgaste adquirido durante a temporada de 2022, quanto pela busca de seu sonho de comandar uma equipe europeia.

Apesar de ser comunicada sobre o desejo de seu treinador, a diretoria celeste preferiu bancar a permanência de Pezzolano por mais um tempo, na esperança de uma continuidade, mas isso não aconteceu. O uruguaio estava irredutível e definiu que ficaria no clube até o fim do estadual. Nas coletivas de Papa, já era possível notar um certo descontentamento e, apesar de o treinador manter o profissionalismo e entrega de sempre, a decisão de segurá-lo acabou se mostrando precipitada, já que muito pouco de seu trabalho teve impacto no restante do ano do Cruzeiro.

Além disso, uma boa parte dos jogadores que seriam os titulares do Cruzeiro durante 2023 chegaram na reta final ou após o Campeonato Mineiro. Além disso, Pepa, escolhido para substituir Pezzolano, utilizava um sistema de jogo bem diferente. Para notar a discrepância, basta analisar o time do uruguaio na última partida do estadual e o do português na estreia do Brasileirão.

Cruzeiro de Pezzolano na derrota por 2 a 1 para o América-MG, pelo jogo de volta da semifinal do Campeonato Mineiro em 19/03/2023 (esquema 3-4-3): Rafael Cabral; Oliveira, Reynaldo e Marlon; Wallisson, Matheus Vital, Filipe Machado e Kaiki; Bruno Rodrigues, Wesley e Gilberto.

Cruzeiro de Pepa na derrota por 2 a 1 para o Corinthians, na estreia do Brasileirão em 16/04/2023 (esquema 4-3-3): Rafael Cabral; William, Oliveira, Luciano Castán e Marlon; Richard, Ramiro e Matheus Vital; Wesley, Bruno Rodrigues e Gilberto.

Da equipe comandada por Pezzolano, somente o goleiro Rafael Cabral, o lateral-esquerdo Marlon (que atuou como zagueiro) e Bruno Rodrigues seguiram como titulares até o final da temporada.

Lições que o Campeonato Mineiro deixou

Dois graves problemas que acompanharam o Cruzeiro por todo o ano de 2023 foram “adiantados” durante o Campeonato Mineiro, mas acabaram passando batidos. O primeiro foi a dificuldade em definir uma casa. Durante o estadual, o time celeste jogou cinco jogos em casa e não venceu nenhum. Foram duas derrotas e três empates. Três gols marcados e seis sofridos. Essas cinco partidas aconteceram, respectivamente, no Independência (três jogos), no Kleber Andrade (Cariacica-ES) e Arena do Jacaré (Sete Lagoas-MG).

Três estádios, três cidades e dois estados diferentes. Apenas cinco jogos e nenhum no Mineirão. O desempenho ruim em casa esteve totalmente ligado a condição de nômade adotada pelo Cruzeiro. E isso continuou por um bom tempo no Campeonato Brasileiro, resultado numa campanha muito ruim em seus domínios.

O segundo problema foi a falta de gols. O ataque do Cruzeiro, principalmente nos pés de Gilberto, Wesley e Nikão, já mostrava sinais de que não ia engrenar, com más atuações e gols perdidos. Foram apenas 12 gols em dez jogos no Campeonato Mineiro, número baixíssimo se considerar o nível dos adversários. Matheus Davó, comprado para o ataque, atuou em quatro partidas e deixou o clube sem gols e com um cartão vermelho. Ainda assim, a reposição ofensiva foi com Henrique Dourado. O estadual já indicava, mas nada mudou e o time celeste terminou o ano com o pior ataque de sua história, em números.

O Campeonato Mineiro é uma competição de menor importância, pode e deve ser usado como “laboratório”, mas precisa ser levado a sério. Os sintomas apresentados durante sua disputa precisam ser considerados e é preciso se planejar para que ele deixe algum legado para o restante da temporada. E sim, um título a mais nunca é algo ruim.

Foto de Maic Costa

Maic CostaSetorista

Maic Costa é mineiro, formado em Jornalismo na UFOP, em 2019. Passou por Estado de Minas, No Ataque, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas, antes de se tornar setorista do Cruzeiro na Trivela.
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