Um raio-x de como o Atlético-MG se portou no primeiro jogo com Gabriel Milito
O Atlético jogou de forma completamente nova com Gabriel Milito, e a Trivela destrinchou os detalhes desse novo estilo no Galo
O Atlético-MG entrou em campo pela primeira vez sob o comando de Gabriel Milito no último sábado (30), e empatou na Arena MRV com o Cruzeiro. Em campo, o que se viu (como esperado) foi um time atleticano completamente diferente do que atuava com Felipão, principalmente no esquema tático. A Trivela analisou o jogo do Galo e te conta os detalhes da nova postura da equipe com o argentino na beira do campo.
A primeira e mais clara das mudanças promovidas por Gabriel Milito foi no esquema tático. Saiu o 4-3-3 (e suas variações) de Felipão e entrou o 3-5-2 (e suas variações) do argentino. Mas, o futebol vai muito além de só colocar em campo uma formação. A forma como o time se comporta, onde cada jogador atua a depender de onde a bola está, e, claro, o estilo adotado pelo rival, influenciam. Diante desse cenário, o Atlético fez um primeiro tempo quase perfeito.
Sabendo que o Atlético iniciaria o jogo com três zagueiros e dois atacantes, o Cruzeiro optou por espelhar o time atleticano e colocar em campo a mesma formação. O que Larcamón não esperava era um time atleticano já bem adaptado (principalmente analisando o pouco tempo de trabalho) ao “estilo Milito” e uma intensidade fora do comum para o Galo.
Entre os três zagueiros do Cruzeiro, o Atlético tinha Hulk e Paulinho — que voltaram a ser uma dupla, do jeito que funcionaram em 2023. Com a qualidade, agilidade e velocidade dos dois jogadores, quase sempre o Galo tinha um deles no 1×1, o que facilitava o ataque, seja aproveitando essa individualidade deles ou um passe nas costas dos marcadores.
Aproximações, triangulações, passes rápidos e movimentação intensa
Para aproveitar esse detalhe citado acima, dos atacantes no mano a mano com os defensores, o Atlético tinha uma combinação excelente na saída de bola (quase sempre curta): triangulações, passes rápidos e movimentação intensa.
Por exemplo, quando a bola ia para o lado esquerdo com Jemerson, Arana se apresentava aberto, encostado na linha lateral. Battaglia, o único volante, se aproximava pelo meio. Zaracho, meia pela esquerda, também se aproximava, mas um pouco mais avançado e centralizado. Paulinho, atacante pela esquerda, ficava atento para a saída rápida do time.
Com essa aproximação feita, começava a triangulação e as movimentações intensas. No lance do gol de Hulk, por exemplo, Arana recebeu aberto e tocou para Zaracho, que devolveu a ele de primeira, já postado mais para o centro do que para a linha lateral, e Arana também tocou de primeira já buscando Paulinho. A bola não chegou no camisa 10, que estaria no mano a mano, mas passou e foi parar nos pés de Hulk, que também estava no 1×1, e ganhou na corrida.
Esse tipo de lance, de tabela com, no máximo, dois toques, de movimentação dinâmica de quem toca, ou seja, toca e se mexe para receber, aconteceu com frequência, principalmente pela esquerda. O curioso do lance citado é que, se Arana tivesse acertado o passe para Paulinho, o camisa 10 já teria a opção de tocar para Battaglia mais centralizado ou abrir para Zaracho, que aparecia livre pela ala-esquerda, ou seja, um lance de perigo, muito provavelmente, seria formado nessa jogada.
Basicamente, no primeiro tempo, quando o Cruzeiro pensava em marcar um passe, o Atlético já estava executando outro. A velocidade das jogadas e das trocas de passe foi o que mais chamou atenção, além da movimentação, já que “não adianta nada” tocar rápido se os jogadores não se movimentarem tão rápido quanto.
— Deu para tirar muitas conclusões do jogo, tanto positiva quanto negativa. Eles vão se adaptando pouco a pouco. Treinamos apenas cinco dias. É muito pouco. Mas o primeiro tempo foi único e me deixa tranquilo, pois tivemos qualidade e tranquilidade para jogar — afirmou Gabriel Milito após o jogo.
Lançamentos pontuais
Os times de Gabriel Milito são conhecidos por trabalharem a bola desde a defesa, e isso foi muito visto no jogo. Mas, não foi só assim que o Atlético jogou. Lançamentos não são “proibidos”, e foram tentados nas vezes que o time tinha chance de ter superioridade contra o adversário.
Um exemplo disso é no gol perdido por Paulinho aos 34 minutos. O Cruzeiro estava com as linhas altas, o que deixou uma situação de 3×3 no ataque do Galo, com Paulinho, Hulk e Zaracho. O lançamento então ocorre, com Paulinho e Zaracho atacando a bola e Hulk ficando na sobra, caso o adversário cortasse. O argentino ganhou de cabeça e a bola sobrou para Paulinho entre dois defensores espaçados, mas ele acabou desperdiçando a chance após tentar dois dribles
Atlético não deixou o Cruzeiro cômodo para jogar
Algo que Milito repetiu algumas vezes na sua apresentação no Atlético é como ele gosta que os times dele pressionem a ponto dos adversários não se sentirem cômodos para jogar. Foi isso que aconteceu no primeiro tempo. O Galo adiantou as linhas e marcava a Raposa em cima com muita pressão. Tinham sempre dois ou três atleticanos em um espaço curto perto da bola, o que fez os cruzeirenses, por algumas vezes, errarem na saída ou entregarem a bola de graça.
Para Milito, esse tipo de jogo é essencial até para cansar menos os jogadores, pois, com a bola, você corre menos: “Pouco a pouco, vamos compreender como temos que jogar, teremos menos desgaste, pois teremos menos perdas, pois a pressão será mais efetiva. Queremos ter a bola e, se não tiver o controle da partida, teremos muitas idas e voltas (no campo) e isso gera muito desgaste físico. Teremos mais desgaste se perdemos rápido a bola. Se conseguirmos ter mais a bola, e esse é objetivo, na hora de recuperar, vamos ter mais energia”, destacou o treinador, que orientou os jogadores na beira do campo do início ao fim, mesmo após os gols.
Gabriel Milito celebra muito o golaço de Bruno Fuchs, mas, antes, teve tempo de passar instruções para Battaglia.
Pediu mais do time mesmo após o gol! pic.twitter.com/y48WUE587K
— Alecsander Heinrick (@alecshms) March 30, 2024
Faltou perna para o Atlético no segundo tempo
Com toda a intensidade imprimida na etapa inicial, ficou claro que os jogadores do Atlético, nada acostumados a jogarem dessa forma nos últimos meses, sentiram cansaço na etapa final. As triangulações já não aconteceram por conta das movimentações estarem menos intensas devido a fadiga. Além disso, a pressão alta não surtia mais efeito. Primeiro porque o Cruzeiro corrigiu alguns erros, segundo que o Galo estava deixando mais espaços.
No lance após o primeiro gol cruzeirenses, aos cinco da etapa final, foi o Cruzeiro que fez uma troca de passes rápidas e pegou a defesa atleticana desprevenida. No lance em questão, Saraiva saiu para marcar mais alto e Lemos ficou na contenção pela direita. Fuchs saiu para dar um bote (sem sucesso), e Battaglia recuou para fechar a linha de três, o que fez com que Matheus Pereira ficasse livre para achar um passe nas costas dos defensores, já que Lemos não conseguiu acompanhar a velocidade de Marlon, que havia começado a jogada.
Explicações de Milito
Com o time mais cansado, o Atlético perdeu forças (física e mental) na etapa final e por isso acabou sofrendo o empate. O time sofreu muito mais defensivamente e não conseguia reter a bola como fez no primeiro tempo. Diante disso, Milito colocou Edenilson em campo, que é um jogador com mais vigor físico e que sabe defender e atacar:
— Não estávamos tendo muito a bola, e eles estavam tendo melhor circulação e jogando em nosso campo. Queríamos ter mais energia, basicamente isso. Primeiro neutralizar eles, recuperar a bola e atacá-los — disse o argentino ao explicar porque Ed e não Scarpa, por exemplo.
Ainda se explicando, Milito detalhou o que imaginou fazer quando colocou Edenilson em campo. Com o meia, o Atlético tinha uma marcação com ele, Zaracho e Paulinho. Como? Com a bola na direita, Paulinho marcava de perto e tinha o auxílio de Ed e Zaracho. Com a bola na esquerda, essa era a função de Edenilson, que tinha Paulinho e Zaracho o acompanhando.
Basicamente, Milito imaginou que, com esse esquema, ele conseguiria marcar melhor as subidas dos zagueiros do Cruzeiro, e assim recuperar a bola para tentar contra-atacar. No entanto, essa ideia não funcionou, nem mesmo depois que ele colocou Alisson, Scarpa e Alan Franco, visando oxigenar o time.
A verdade é que, para o primeiro jogo de um treinador, que trouxe uma filosofia completamente diferente e teve só cin odias de trabalho, o Atlético se portou bem enquanto aguentou. O natural é que o time vá se acertando cada vez mais com o passar do tempo, tanto taticamente quanto fisicamente, para conseguir jogar os 90 minutos da mesma forma que jogou o primeiro tempo do clássico. Apesar do doloroso empate, o torcedor pôde sair com esperança após o jogo de sábado.
Onde os atletas do Atlético estavam em campo?
Além de pressão, troca de passes rápidas, movimentações intensas, é importante também ver onde os jogadores estavam em campo a cada jogada. Por exemplo, a defesa, que antes jogava mais próxima à área, atuou mais perto do meio-campo, ou seja, com linhas altas. Confira como foi o posicionamento de cada titular do Galo.
- Mauricio Lemos: Zagueiro pela direita. Com a bola, ajudou na saída pelo lado, com Saravia, Igor Gomes, Battaglia e Hulk;
- Jemerson: Zagueiro pela esquerda. Com a bola, ajudou na saída pelo lado, com Arana, Zaracho, Battaglia e Paulinho;
- Bruno Fuchs: Zagueiro central. Defensor de maior qualidade técnica (não á toa marcou um golaço), era quem regia a saída de bola e, por muitas vezes, foi responsável por um passe que buscava quebrar linhas, que saia dele direto para Paulinho ou Hulk, por exemplo;
- Battaglia: Volante. Peça central do time, acompanhava a bola. Ou seja, se ela estava na esquerda, ele fechava mais por esse lado, quando ia para a direita, ele ia junto, auxiliando assim a saída, tocando ou não na bola, como no lance do gol de Hulk;
- Zaracho: Segundo volante/meia pela esquerda. Com a bola, Zaracho se tornava um meia pela esquerda, auxiliando Arana e Paulinho nesse ligação até o ataque. Defendendo, ele tinha a missão de voltar e se tornava uma espécie de segundo volante (também pela direita)
- Igor Gomes: Meia pela esquerda. Igor tinha uma função muito parecida com a de Zaracho, mas, até pelas características, teve papel mais na criação do time do que na defesa;
- Arana e Saravia: Alas. Papéis cruciais nas saídas de bola, aparecendo muito aberto, praticamente em cima da linha lateral, com poucas jogadas mais pelo meio. Com maior destaque para Arana, não só pela duas assistências, mas por ter cumprido melhor a função;
- Paulinho e Hulk: Atacantes. Voltando a ser uma dupla, Paulinho e Hulk tiveram liberdade para se movimenta no ataque, e eram acionados também nas criações das jogadas. Primeiro receber de costas, buscando uma tabela ou um jogador de frente, para que, aí, sim, tentasse aproveitar espaço nas costas da defesa com a velocidade que eles tem.