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Quem é Gabriel Milito e como o Atlético-MG vai jogar sob o comando dele

Com Gabriel Milito, Atlético terá time muito mais propositivo, que tenta ser protagonista das partidas

O Atlético-MG anunciou neste domingo (24) a contratação do técnico Gabriel Milito, que chega ao clube para substituir Felipão, demitido na última semana. Com estilo de jogo completamente diferente do experiente treinador brasileiro, o argentino vai causar uma ruptura no tipo de futebol que o Galo pratica, mas, dessa vez, faz sentido. A Trivela te conta como Milito gosta de montar seus times.

Ex-zagueiro com carreira sólida no Independiente e no futebol europeu, inclusive no Barcelona, Gabriel Milito se tornou técnico em 2015, no Estudiantes. Na carreira na beira do campo, teve duas passagens pelo clube de La Plata, além de uma pelo Rey de Copas e outra pelo O’Higgins, do Chile. Mas o ex-jogador ganhou destaque mesmo em seu último trabalho, pelo Argentinos Juniors, onde ficou de 2021 até 2023.

Milito fez o Argentinos Juniors, que é um clube de baixo orçamento e sem grande qualidade, se tornar um time atrativo na Argentina, levando-o, por exemplo, até a Libertadores no ano passado, caindo nas oitavas, dificultando muito a vida do Fluminense, que viria a ser campeão.

Com o estilo de jogo propositivo, de posse e trabalho de bola, que busca ser protagonista, estilo de jogo completamente diferente do experiente treinador brasileiro, Gabriel Milito chega com a expectativa e a missão de fazer o qualificado time do Galo praticar um bom futebol, algo que não aconteceu com Felipão. Mas a final, como jogam os times de Milito? A Trivela te conta.

Temos que jogar bem? Sim. Temos que defender bem? Sim. Mas o importante é que os jogadores acreditem e que quando saímos para jogar o mundo para. Nada mais importa. Durante esses 90 minutos, não importa quem está à nossa frente e a motivação tem que ser desejo próprio. Obviamente o mais importante é o resultado, mas quero ver isso primeiro. A forma como você compete leva você ao resultado – Gabriel Milito ao La Nación.

Construção desde a defesa e três zagueiros

Como citado, Gabriel Milito é um apaixonado pela posse e o trabalho de bola. Por isso, os times dele constroem jogo desde o goleiro, tendo a paciência de rodar a bola nos espaços até encontrar uma brecha para ligar a defesa e o ataque. Tudo, geralmente, com a bola no chão, ou pelo menos bem pensado, já que é há inversões de jogo, por exemplo, com a bola pelo alto, mas que estão dentro do que o treinador trabalha.

Em uma entrevista ao La Nacion, da Argentina, no fim de 2023, Milito falou do seu estilo de jogo e contou uma história de quando assistia um “monótono” 0 a 0 com o filho, percebendo que nada de relevante acontecia no jogo, pois os times não conseguiam trocar muitos passes, e que um gol só saiu depois que uma das equipes trocou 12 passes.

– Não estou dizendo que sempre é preciso fazer 12 passes, mas quero dizer que é muito difícil fazer três passes e marcar um gol. Queria que fosse possível: o goleiro bate, cruzamento, o 9 faz um gol de bicicleta. Mas isso não acontece como um sistema, apenas como contingência, uma exceção — afirmou Milito

Essa ideia de jogo, sem dúvidas, passa pela construção de futebol com a defesa, desde o goleiro. Nesse caso, no Atlético, ele tem um dos melhores (se não o melhor) goleiro que joga com os pés do Brasil, Everson, o que já facilita o jogo. A diferença é que o Galo não está acostumado com três zagueiros, algo muito utilizado no Argentinos Juniors dele em 2023.

Com três zagueiros, ele faz a construção das jogadas tendo alas abertos nas pontas e meias (dois ou três) que podem auxiliar nessa saída da defesa para o ataque. No caso do Galo, Bruno Fuchs é, sem dúvidas, o zagueiro de maior qualidade para essa saída, seguido de Igor Rabello e Mauricio Lemos. Jemerson também pode auxiliar nisso, mas está atrás dos outros. As outras opções são da base e nunca atuaram no profissional: Rômulo e Renan. O último se mostrou um exímio passador na Copinha disputada no início do ano.

Marcação pressão

O tipo de marcação que os times de Milito adotam é muito mais parecido com o que o Galo apresentava com Coudet do que com Felipão, que preferia um time mais recuado, compacto e com uma marcação de menos pressão no setor ofensivo, por exemplo.

Com Milito, o Atlético deve ter uma pressão alta, que marca o adversário em cima e tenta não deixar jogar desde os primeiros toques na bola na defesa. A ideia, geralmente, é pressionar o adversário a errar, seja em uma saída de bola ou no já famoso “perde pressiona”, que consiste é buscar encurralar o adversário assim que ele recupera a bola, para tomá-la de volta o mais rápido possível.

Com três zagueiros, é comum que os alas marquem os laterais adversários, já que formam a linha do meio-campo. Mas, em alguns casos, eles formam uma linha de cinco na defesa. Por isso é preciso ter um ala que saiba atacar e defender. Guilherme Arana seria beneficiado nesse caso, por exemplo. Mas Alisson já teria que ter uma maior cobertura caso fosse titular, pois defesa não é o seu forte.

Variações no meio-campo

Como citado, Milito gosta de ter alas. O comum, é eles se portarem na linha do meio-campo, mas também podem aparecer na defesa na hora de marcar. Analisando a parte central do meio-campo, há variações que ele faz nos times. Podemos ver dois volantes e um meia armador, enquanto no ataque temos uma dupla, ou um volante apenas e dois meias de armação e, em algumas ocasiões, dois volantes e dois meias, com apenas um atacante.

Olhando apenas o tipo de formação, essas são as mais comuns nos times de Gabriel Milito:

  • 3-4-2-1 / 3-2-2-2-1
  • 3-1-4-2 / 3-3-2-2
  • 3-4-1-2 / 3-2-3-2

As variações nas formações são por conta da posição que os alas ocupas, que pode ser na linha dos volantes ou na linha dos meias. Além disso, todas essas podem se transformar em uma linha de cinco defensores, colocando assim os alas como laterais.

Relação íntima com o futebol e com os jogadores

Além do campo, Gabriel Milito também chama atenção pela forma que pensa fora dele, sobre o futebol e, principalmente, sobre os jogadores. Na mesma entrevista ao La Nacion, citou: “É muito importante que os treinadores saibam lidar com o fator humano”, destacando que jogador também é uma pessoa, algo que muitos esquecem, e que a melhor forma de criar laços é sempre dizendo a verdade.

Milito ainda falou sobre a necessidade de acompanhar e entender os jogadores dentro e fora de campo: “Comportamento, educação, maneiras, família… tudo isso conta, e conta muito. Eu quero saber de tudo isso. Eu já vi jogador jogar, mas, muitas vezes, o comportamento dele fora de campo é igualmente importante”. O treinador ainda deixou claro que até entende quando um jogador tem comportamento não profissional, e abre espaço para que lhe conte caso aconteça, mas isso precisa ser exceção.

Os jogadores são pessoas. Muitos são jovens e precisam aproveitar a vida, ma há tempo para tudo. E é muito importante escolher bem. Quer ir comer um churrasco com os amigos? Pode. Mas, se você joga no domingo, não faça isso na sexta a noite. E vá dormir cedo, à meia-noite, não às 3 da manhã. A longo prazo, você paga por isso – concluiu Milito.

Ainda sobre jogadores, Milito já destacou que prefere um jogador inteligente a um mais técnico. Ou seja, para ele, não adianta um atleta ser craque se ele não assimila corretamente o que deve fazer em campo: “Jogadores que interpretam os momentos do jogo são essenciais. Claro, se o jogador pensa, e suas execuções são ruins, não adianta. Todos queremos um tecnicamente muito bom, mas se ele não pensa …”.

O Atlético de Milito

Em resumo, o torcedor do Atlético pode esperar um time completamente diferente do que via com Felipão. Mas, é importante destacar que isso não vai acontecer da “noite para o dia”, então é preciso de paciência. A expectativa é vermos o Galo cada vez mais com a bola, trabalhando jogadas de pé em pé desde a defesa, sabendo o que fazer quando tem o domínio do jogo e, sem a bola, pressionando o adversário para tentar fazê-lo errar.

Fora isso, o torcedor também pode esperar um treinador que busca explicar as estratégias adotadas, algo que Felipão evitou fazer durante a sua passagem. Além disso, diferente de Scolari, que se irritou com a torcida fazendo pedidos e realizando protestos, Milito já foi visto levando uma solicitação de um torcedor a sério em meio a um jogo.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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