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O que pensam os jogadores do Atlético-MG sobre jogar no gramado sintético?

Atlético já confirmou que a Arena MRV vai ter a mudança para grama sintética, e os jogadores do clube comentaram sobre esse assunto

O Atlético-MG já confirmou que irá implementar a grama sintética na Arena MRV, estádio inaugurado pelo clube na metade deste ano. Não há ainda definição de quando e qual tipo de gramado será colocado, mas é certo que a mudança vai acontecer, e isso gera sempre um grande debate entre torcedores, jornalistas, jogadores e dirigentes sobre o quanto isso afeta o jogo. Principais astros do espetáculo, os jogadores do Galo comentaram sobre essa mudança no local que é a casa deles.

A mudança para o gramado sintético é algo debatido pelo Atlético desde antes do primeiro jogo oficial da história da Arena MRV, quando a grama natural já não estava em seu melhor estado e causou alguns problemas na inauguração. Passaram-se os jogos (e também shows) e algumas mudanças foram feitas, como utilização de iluminação artificial e troca de alguns pontos do campo para tentar melhorá-lo. O clube entende que hoje a grama está em seu melhor estado desde a estreia, mas que ainda pode melhorar muito.

No entanto, para melhorar e chegar ao máximo de excelência, o Atlético e os gestores da Arena MRV entendem que a única solução é colocar grama sintética, já que o principal problema é falta de luz solar em alguns pontos do gramado, o que não é fácil de resolver, nem com luz artificial. Além disso, o estádio é multiuso e precisa realizar shows, o que desgasta ainda mais o campo, algo que não acontece se ele for artificial.

Diretor explica o gramado da Arena

O diretor de infraestrutura da Arena e do Atlético, Carlos Antônio Pinheiro, participou do podcast do Galo e contou alguns detalhes sobre o gramado da Arena MRV. Primeiro ele fez questão de deixar claro que não há erro no projeto, como alguns apontam ao questionar: “Eles não viram antes de construir que não teria sol em local X?”. O diretor explica que isso foi visto sim, mas é um ônus para ter a arquibancada mais próxima do campo.

– Fala-se em projeto errado, mas isso não existe. Temos uma limitação de espaço para uma arena localizada nesse ponto. Esse projeto é moderno. Quem acompanha campeonatos europeus, os estádios novos seguem essa configuração arquitetônica. É uma questão de geometria básica: a medida que você aproxima a arquibancada do campo e você cobre a arquibancada, você diminui drasticamente a incidência de luz natural.

E tentar resolver a falta de luz natural com luz artificial não é a mesma coisa, pelo menos foi o que garantiu o diretor. Além disso, há uma equivalência de duas ou três horas, ou seja, a cada hora de luz natural que se perde, tem que suplementar com duas ou três horas de luz artificial, o que gera um custo de cerca de R$ 80 mil por mês só com isso. Por isso, então, o Atlético vai implementar a grama sintética, que não gera esse tipo de problema.

Custo e quando

Atualmente, segundo Carlos, a Arena MRV tem um custo entre R$ 150 e R$ 160 mil por mês com manutenção, que inclui mão de obra, equipamentos, fertilizante, iluminação, entre outros. Para implementar a grama sintética, o Atlético terá que gastar entre R$ 7 e R$ 8 milhões, recurso que o clube teria ainda que captar. Fora isso, o tempo para essa mudança é de 90 dias, mas pode ser diminuído para algo entre 45 e 60 se houver trabalho em dois turnos.

Mas, além de gastar muito dinheiro e precisar de tempo para implementar a grama sintética, o Atlético tem um outro problema ainda maior, que é com a lei. Como já havia adiantado o CEO Bruno Muzzi, a legislação de Belo Horizonte exige uma taxa de permeabilidade no local, e a grama artificial, por não ser vegetada, não se enquadra nesse perfil. O clube já trabalha com a prefeitura para chegarem a um acordo e esse tipo de solo ser liberado.

Em resumo, mesmo que o Galo já tivesse o dinheiro, os funcionários, a grama, tudo pronto, ele não poderia utilizar a Arena MRV com a grama sintética se essa legislação não for alterada. Enquanto não houver um acordo para mudar essa história, o Atlético seguirá sem poder fazer a mudança. Por isso não há, no momento, uma data específica para a mudança acontecer.

Tipos de gramado sintético

Um detalhe que ainda não foi definido pelo Atlético é qual o tipo de grama sintética que será utilizada. Atualmente, há diversas formas de implementar esse tipo de solo, seja ele 100% sintético, como os da Ligga Arena, Allianz Parque e Nilton Santos, ou híbrido, como no Maracanã e na Neo Química Arena.

– (O híbrido) Na verdade, nada mais é que esse gramado aí (da Arena MRV) que recebe um processo de costura. É feita uma injeção de fibras e melhora muito o problema da tração. Mas o problema do organismo vivo, de luz, isso é o mesmo – disse Carlos, que explicou ainda que, nesse tipo de solo, não há desoneração de luz, água e afins na manutenção.

Como o Atlético sempre pensou na ideia de ter um campo sintético, o da Arena MRV já foi projetado para só passar por alguns ajustes para receber esse tipo de solo. Um dos pontos mais importantes, por exemplo, é o resfriamento dele, que fica muito quente. Nesse quesito, há um gasto maior com água.

Na medição feita pelo Flamengo há uma semana, o gramado natural estava com temperatura de 45°, já o sintético estava com 70° (Divulgação)

Pelo que o diretor do Atlético falou, a intenção parece ser de colocar a grama 100% sintética, para não correr risco de seguir sofrendo com sol ou em shows. A decisão será tomada em conjunto com o futebol, que “é o ator principal” na história: “Não vamos escolher pelo menor preço, temos que escolher o de mais alta performance”.

Jogadores x grama sintética

Desde que a grama sintética passou a ser mais comum em alguns estádios de futebol pelo mundo, há divergências sobre ele, principalmente entre os jogadores. Alguns deles não aceitam jogar nesse tipo de solo, como o caso do astro Luis Suárez, do Grêmio, que recentemente ganhou mais notoriedade, já que ele marcou três gols na vitória do Tricolor Gaúcho contra o Botafogo, mas só porque o Nilton Santos (sintético) não estava disponível e o jogo foi em São Januário (natural).

No Atlético, o clube já começa a se preparar para os jogos com esse tipo de solo. Um dos campos da Cidade do Galo recebeu recentemente a grama sintética que, além do motivo de jogos em campos desse estilo, também foi colocada, pois permite que haja treinos praticamente o dia inteiro, diferente dos campos de grama natural, que tem limite entre 2h e 3h. Essa questão dos treinos é para englobar mais as categorias de base e o time feminino.

Alguns jogadores do Atlético comentaram sobre essa mudança na Arena MRV e falaram o que pensam de terem que atuar em gramado sintético. O goleiro Everson, por exemplo, não tem uma opinião formada, mas espera que o clube use isso a seu favor, como os demais times que já tem essa grama fazem.

– Não tenho opinião. Acho que o clube tem que fazer o que acha melhor para ele desportivamente. Se tiver um gramado sintético onde ele seja bom e não atrapalhe os atletas, como no Athletico-PR, no Botafogo e no Palmeiras, onde sabemos a força deles dentro de casa. Cabe a nós a trabalhar e adaptar o mais rápido possível e fazer dele uma arma para que a gente possa ganhar vários jogos e conquistar títulos.

Já o meia Matías Zaracho entende que é mais difícil jogar no sintético, mas o novo campo do CT atleticano pode ajudar nessa adaptação: “Acho que o sintético é mais difícil. Mas a estrutura aqui do clube é muito boa, e agora, colocando um sintético (no CT) para ajudar a nos adaptar ao que vai ser o jogo na Arena do MRV. Não vai ser fácil preparar os jogos, e a gente vai treinar e vai trabalhar para isso”.

Arana não gosta, mas é melhor que um natural ruim

Mais sincero entre os questionados, o lateral-esquerdo Guilherme Arana, que renovou recentemente com o Atlético, afirmou que não gosta de jogar no sintético, mas que é melhor do que em um natural em qualidade ruim.

Eu particularmente não gosto de sintético. Mas entre sintético e o estado do gramado hoje, eu prefiro o sintético, porque é uma situação muito ruim – Arana

O lateral entende que a mudança é necessária, já que vão acontecer alguns eventos no estádio e, assim como os companheiros, espera que o Atlético utilize isso como uma arma para se sobressair aos adversários.

Mais lesões no sintético?

Um dos principais pontos que gera discussão sobre gramado natural e gramado sintético é a questão das lesões. Não há nenhuma pesquisa oficial que comprove que os campos artificiais, mas há alguns estudos que apontaram para isso. Na Holanda, por exemplo, esse tipo de campo será proibido a partir de 2025. No Brasil, as discussões são ainda mais calorosas sobre isso. O São Paulo, por exemplo, perdeu seis jogadores por lesão em jogos no Allianz Parque, que tem o gramado artificial.

O diretor atleticano de infraestrutura disse que esse é um assunto que está fora da área dele, mas que os médicos do Atlético já estão se aprofundando nesses estudos para tentar chegar a um veredito: “É uma equação difícil. A gente não sabe se é uma narrativa ou é efetivamente comprovado (mais lesões). Há uma outra linha que diz que a planicidade e a homogeneidade do gramado sintético evita que um jogador, que joga em um gramado natural em condições ruins, corra um risco maior”.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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