Brasil

Gestão de Jorge Salgado no Vasco chega ao fim com fracasso no futebol e SAF como legado

Depois de três anos no comando do Vasco e alguns avanços fora de campo, Jorge Salgado deixa a presidência do clube, nesta segunda, para o ídolo Pedrinho assumir o cargo

Chega ao fim, nesta segunda-feira, a gestão de Jorge Salgado na presidência do Vasco. Nesta noite, em sessão na Sede Náutica da Lagoa, o atual mandatário passa o cargo para o ídolo Pedrinho, eleito no fim de 2023 para comandar o clube no próximo triênio. Em três anos, Salgado viveu um fracasso no futebol, teve alguns avanços fora de campo e em questões sociais e tem como principal legado – positivo ou negativo – a transformação do clube em SAF e a venda das ações para a 777 Partners.

Depois de uma conturbada eleição em 2020, Jorge Salgado assumiu o comando do Vasco no começo de 2021, quando o clube ainda disputada a reta final do Campeonato Brasileiro do ano anterior. À época, o Cruz-Maltino já vivia situação delicada na luta contra o rebaixamento e acabou caindo para a Série B pela quarta vez na sua história. Com cerca de um mês no comando do clube, Salgado não teve muito o que fazer neste sentido. Mas a prometida reestruturação do Vasco não se deu como a torcida esperava.

Naquele momento, é verdade, depois de uma desastrosa gestão de Alexandre Campello, o Vasco vivia uma delicada situação financeira, com meses de salários atrasados para jogadores e funcionários. No começo da gestão de Salgado, o novo presidente começou a resolver essas pendências, inclusive com dinheiro próprio, o que é louvável. O Vasco teve avanços em novos acordos de patrocínio, que também fizeram o clube aumentar a sua arrecadação, mesmo em ano de Série B.

No entanto, no futebol, o carro chefe do clube, então comandado por Alexandre Pássaro, as coisas não andaram como esperado. O time ficou apenas na quinta colocação do Campeonato Carioca e viveu a sua pior Série B de todos os tempos. Sem nem sequer entrar no G4 durante toda da competição, o clube fracassou e ficou apenas na 10⁠ª colocação, amargurando mais um ano longe da elite do futebol nacional. Além disso, apesar de alguns avanços, o clube também terminou aquele ano com dívidas com jogadores.

Em 2021, sob o comando de Alexandre Pássaro e Jorge Salgado, o Vasco viveu um dos piores anos da sua história (Foto: Rafael Ribeiro / Vasco)

Venda da SAF fica como legado de Salgado

Já no começo da temporada seguinte, o Vasco começou a passar pelo processo que mexeria totalmente na estrutura do clube. Ainda em fevereiro, o clube assinou um memorando de entendimento com a 777 Partners para a transformação do Vasco em SAF e para que a empresa americana comprasse 70% das ações, injetando R$ 700 milhões no futebol, além de assumir até R$ 700 milhões da dívida do clube. Enquanto isso, o time vivia um começo de ano irregular, chegando na semifinal do Carioca, mas sendo eliminado precocemente da Copa do Brasil.

O começo de Série B também foi irregular, com muitos empates. Mas, sob o comando de Zé Ricardo, o Vasco entrou no G-4. No entanto, o técnico acabou deixando o clube no começo de junho. Após isso, a equipe foi comandada por Emilio Faro e Maurício Souza e voltou a cair de produção. Ainda sem o dinheiro da 777 Partners, o Vasco fez poucos investimentos no meio do ano. O processo de transformação em SAF só foi votado e aprovado pelos sócios, em agosto. Assim, a empresa americana só assumiu o clube em setembro.

777 Partners controla o futebol do Vasco desde o segundo semestre de 2022 (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Com Jorginho nas últimas dez rodadas da Série B, o Vasco conseguiu um acesso dramático, na última rodada, com uma vitória sobre o Ituano, em Itu. Já sob a gestão da 777, o clube terminou a temporada em dia com jogadores e funcionários.

Mas a relação entre a Associação e a SAF ficou conturbada. Luiz Mello, ex-CEO do Vasco, que participou ativamente do processo de transformação do clube em SAF e da venda para a 777, acabou “pulando o muro” e virou CEO da SAF, o que causou insatisfação dentro da administração de Salgado, que perdeu força política no clube.

Essa insatisfação cresceu ainda mais em 2023, com o futebol do Vasco cambaleando no Campeonato Brasileiro e, mais uma vez, sendo eliminado precocemente da Copa do Brasil. Salgado e a Associação, que ainda tem 30% das ações da SAF, pressionaram pela saída de Luiz Mello, que só deixou o clube no meio da temporada. A Associação ainda teve problemas para receber o aporte da 777 Partners em setembro, mas não acionou a cláusula que poderia ter favorecido o clube contra a empresa americana.

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Reforma do estatuto ficou para próxima gestão

Uma das principais promessas da campanha de Jorge Salgado no Vasco era a reforma do estatuto do clube. A ideia era modernizar e democratizar o Vasco, que tem o mesmo regimento desde 1979. Mas, desde o início da gestão, o presidente deixou o assunto para o Conselho Deliberativo, que conseguiu aprovar a reforma apenas no segundo semestre de 2023. No entanto, o Vasco não conseguiu fazer a Assembleia Geral Extraordinária para os sócios aprovarem ou não as mudanças propostas.

Uma ação do Conselho dos Beneméritos, que seria diminuído com esta reforma, impediu a votação dos sócios antes do fim de 2023. Muitos conselheiros e importantes agentes políticos do Vasco criticaram uma suposta omissão de Salgado no caso.

Avanços pela reforma de São Januário e pelo Maracanã

Desde o começo da gestão de Jorge Salgado, o Vasco voltou a brigar pelo direito de mandar jogos no Maracanã, que está sob a administração da dupla Flamengo e Fluminense. Em alguns casos, precisou, de fato, brigar na justiça para poder atuar como mandante no estádio. Agora, o clube, em parceria com a WTorre e a Legends, participam do novo processo de licitação do Maracanã. A nova concessão será de 20 anos.

Em paralelo a isso, o Vasco também conseguiu avançar pela tão sonhada reforma de São Januário. Em novembro de 2023, após muitas conversas e reuniões entre o poder público e o clube, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, assinou o projeto de lei que vai viabilizar o projeto de modernização do estádio. A aprovação do projeto e a reforma, de fato, ficarão para a gestão de Pedrinho.

Visão para o campo de São Januário das cadeiras superiores no projeto de reforma do estádio (Foto: Divulgação/Vasco)

Vasco reforça lado social com Salgado

Outro ponto positivo da gestão de Jorge Salgado foi a retomada do caráter social do Vasco. Desde 2021, diversas ações do clube reforçaram a histórica luta do Cruz-Maltino contra o preconceito, o racismo, a homofobia e outras formas de ódio.

Uma das principais ações aconteceu ainda em 2021. Durante a Série B daquele ano, o Vasco lançou uma camisa apoio ao movimento LGBTQIA+ e o time, inclusive, usou a camisa, que tinha as cores do arco-íris no lugar da faixa transversal e gerou a icônica foto de Germán Cano, então atacante do time, levantando a bandeira de escanteio com as cores do arco-íris. O Vasco também reforçou os seus laços com a Barreira do Vasco e outras comunidades que cercam São Januário. Entre outros projetos, em 2023 o clube cedeu o espaço do Colégio Vasco da Gama para as aulas de um pré-vestibular social para adolescentes.

Com camisa em homenagem aos movimentos LGBTQIA+, Vasco reforçou o seu pioneirismo em 2021 (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Além disso, o clube também se reaproximou institucionalmente do seu maior ídolo. Durante a gestão de Jorge Salgado, o clube financiou, com o apoio da torcida, e construiu a estátua de Roberto Dinamite. Em abril de 2022, o Cruz-Maltino inaugurou homenagem atrás do gol da ferradura de São Januário. Em um grande evento, com a participação do ídolo, Dinamite foi eternizado no estádio poucos meses antes da sua morte, em janeiro de 2023.

Jorge Salgado fala em deixar o ‘clube forte'

Nesta segunda-feira, em uma rede social, Jorge Salgado começou a se despedir do cargo de presidente do clube. O dirigente afirmou que o Vasco está “no caminho certo” e agradeceu a 777 Partners pela “parceria” no futebol do clube,

– Depois de exatos três anos, deixo a presidência do Vasco, na certeza q estamos no caminho certo. Clube forte , futebol forte. Agradeço de coração a minha diretoria, e a contribuição de cada funcionário, atleta e comissão técnica nesses anos. Agradeço também a torcida q sempre esteve apoiando o nosso time. Os meus agradecimentos a 777 pela parceria e a todos envolvidos. A Vasco SAF o meu muito obrigado – publicou Jorge Salgado.

Foto de Gabriel Rodrigues

Gabriel RodriguesSetorista

Jornalista formado pela UFF e com passagens, como repórter e editor, pelo LANCE!, Esporte News Mundo e Jogada10. Já trabalhou na cobertura de duas finais de Libertadores in loco. Na Trivela, é setorista do Vasco e do Botafogo.
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