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‘Torcedor pede todo mundo’: Felipão pode não escutar a torcida, mas ela tem acertado mais do que ele no Atlético-MG

Balançando no cargo, Felipão segue "teimando" ao não ouvir a torcida, que só pede o óbvio no Atlético-MG

No futebol, um dos atos mais comuns de se ver são os protestos dos torcedores. Seja por um time melhor, pedindo a saída de um treinador ou de um jogador, uma mudança na escalação, entre outros diferentes tipos de manifestações. Essas atitudes, muitas vezes, pesam para que clubes e técnicos tomem algumas decisões. No Atlético-MG, no entanto, isso não vem acontecendo com Felipão, que prefere ironizar os pedidos da torcida, mesmo ela acertando mais do que ele até aqui em 2024 – e até por isso ele está na corda bamba.

O Atlético faz um início de temporada bem longe do ideal. O futebol pobre apresentado, somadas a algumas atitudes de Felipão, dentro de fora de campo, fazem com que o torcedor proteste praticamente em todos os jogos, seja cobrando mais do time ou pedindo a entrada (e saída) de jogadores da equipe. Scolari, no entanto, não dá ouvidos as solicitações feitas e até as ironiza.

– O torcedor pede todo mundo. O João, o Pedro, o Paulo. Ele está fazendo o papel dele. Grita para qualquer um. Esse (torcedor) quer um (jogador), aquele quer outro. Se todos fossem atendidos, teríamos um time com 22 jogadores em campo — disse o treinador após escutar vários protestos na derrota para o América no último domingo (17).

Só que Felipão se engana. O torcedor do Atlético não está pedindo todo mundo, muito pelo contrário, ele fez, basicamente, dois pedidos nesse início de temporada: dê oportunidades ao Alisson e coloque o Rubens no time titular. Scolari atendeu, em partes, os pedidos, que se mostraram óbvios acertos. No entanto, ele já começou a recuar nas decisões.

“Não dá para colocar um jogador em campo só porque está em momento bom”

A frase do intertítulo acima foi dita por Felipão durante a coletiva no último domingo, quando ele foi questionado sobre Rubens. O jovem da base atleticana vem sendo destaque desde o fim de 2023, pedindo passagem no time titular, parecendo ser a opção lógica para ocupar o lado esquerdo do meio-campo atleticano. Mesmo assim, segue sendo preterido pelo treinador e sempre fica na reserva.

Em 2024, iniciou o ano ainda melhor, e já soma dois gols e uma assistência, mesmo com uma média de 30 minutos por partida. Mas o ótimo momento do cria atleticano parece não afetar os pensamentos de Felipão sobre colocá-lo no time titular.

– Temos que ver o que acontece durante a semana, na formação tática, no adversário, como podemos imaginar o rival e aí colocar em campo. Pode ser que o Rubens seja titular daqui a dois ou três jogos, ou não. Vamos ver as características e como podemos fazer com que o jogador se sinta melhor em determinada posição — disse o treinador em resposta sobre a utilização do meia.

Às vezes não dá para colocar um jogador em campo só porque está em momento bom, pois na posição dele há um jogador que complementa a equipe de um jeito melhor — Felipão

A frase acima de Felipão não faz sentido em vários pontos. Primeiro que, qualquer jogador em bom momento merece estar em campo. Não faz sentido algum deixar de fora um atleta que vive boa fase e pode fazer (e faz) muita diferença quando está jogando. Segundo que, na posição dele, não há um jogador que complementa a equipe melhor, como ele citou.

Quem está atuando na faixa esquerda do meio-campo é Igor Gomes, que até não faz um início de temporada tão ruim, mas está bem abaixo de Rubens no momento. Fora isso, o jovem da base do Galo tem características que fazem muito mais sentido para o time de Felipão, pois ele é mais veloz e, principalmente, mais “vibrante” (palavra usada pelo próprio treinador), sendo mais ativo na marcação e também no ataque.

Após sair do campo e fazer mais uma boa partida, Rubens foi questionado sobre a sua não titularidade e se conversa sobre isso com Felipão: “A gente não fala sobre isso. Ele sabe o melhor para a equipe, então creio que o que ele está fazendo é bom pra gente. Procuro não questionar isso, mas sim trabalhar e fazer o meu melhor para ter oportunidades”, afirmou.

Chances para Alisson, mas…

O outro pedido feito em massa pela torcida do Atlético foi para que Felipão concebesse oportunidades ao garoto Alisson, destaque da base do clube. Depois de muita luta, Felipão finalmente oportunizou o garoto, que entrou em um jogo com o Galo pressionado por estar perdendo em casa e mudou a partida, marcando o gol de empate e sendo o grande destaque. No entanto, ficou claro que Alisson só ganhou essa chance, pois Pavón estava de saída para o Grêmio.

Mesmo que a oportunidade a Alisson tenha aparecido só porque outro jogador deixou o time, Felipão pareceu entender que, após acabar com o jogo em 45 minutos, ele merecia seguir com mais minutos. Entrou então no jogo seguinte, novamente saindo do banco, e se destacou, ganhando chance como titular nos três jogos seguintes. Nos dois primeiros, novamente foi muito bem e fez a diferença. No terceiro, não foi tão bem (o que é normal para um garoto da idade dele), mas ainda foi elogiado taticamente pelo treinador.

No entanto, na última partida, Felipão colocou Alisson no banco. E mais, não o tirou do banco por um minuto. Ao ser questionado o motivo disso, afirmou que ele não estava pronto para um jogo desse porte – lembrando que ele foi titular no jogo anterior, que também era semifinal contra o América.

– Está começando a ser preparado e vai entrar em jogos de pressão daqui para frente. Mas não temos mais tempo de preparar nada. O Alisson só não jogou hoje, pois era um jogo decisivo, que poderia sentir muito mais do que em qualquer outro jogo. Ele está sendo muito útil, mas ainda é um jogador que está sendo desenvolvido. Não está pronto — afirmou Felipão.

Essa fala de Felipão é outra que não faz sentido com o que vemos em campo. Primeiro que Alisson foi a válvula de escape do Atlético desde quando entrou no time, sempre aprontando muito pelo lado direito do campo. Segundo que, claro, o treinador pode optar por um time mais defensivo e sacar o garoto, mas, não colocá-lo por nenhum minuto em campo mesmo ele vivendo grande fase? Não utilizá-lo mesmo com o adversário claramente desesperado e se mandando “de qualquer jeito” para o ataque, consequentemente deixando espaços na defesa? Não faz sentido. Alisson parecia o jogador ideal, pelo menos para o segundo tempo (ou parte dele).

O pedido da torcida que Felipão não vê (ou escuta)

No estádio, os pedidos que Felipão escuta em massa são os dois citados acima. Alisson e Rubens tem sempre seus nomes gritados quando estão no banco. Mas, há outro pedido que a torcida faz, mas o treinador não vê (ou escuta), pois ele é feito, geralmente nas redes sociais: voltar a aproximar Hulk e Paulinho.

Em 2023, Hulk e Paulinho funcionaram perfeitamente como dupla. Prova disso são os 61 gols deles na temporada, com ele se achando em campo a todo momento. Esse estilo, com dois atacantes, foi algo que Felipão adaptou do time que herdou de Eduardo Coudet. Mas, para 2024, ele faz questão de colocar a sua cara no time, e por isso tenta implementar os três atacantes, abrindo assim Paulinho na ponta e Hulk no meio (e Alisson na outra ponta).

Só que essa mudança tem, claramente, afetado o rendimento ofensivo do Atlético, principalmente de Paulinho, que joga dessa forma mais longe do gol (e de Hulk). Essa perde de eficiência ofensiva com essa nova formação ficou clara no último domingo contra o América. No primeiro tempo, Paulinho jogou como ponta, mesmo sem Alisson do outro lado, e o time fez uma das piores exibições possíveis. No segundo, Rubens entrou e Paulinho passou a jogar mais próximo de Hulk, mais centralizado. Resultado disso foi o gol do camisa 10 e mais duas ou três jogadas que geraram chances reais de gol para o Galo.

Em resumo, a torcida pediu Alisson e acertou. Pede Rubens no time e, toda vez que ele entra, fica evidente que também é um acerto. Para fechar, ainda pede a volta da dupla Paulinho-Hulk, outro ponto que ficou provado que faz o time funcionar melhor. Não é sempre que os torcedores acertam (pelo contrário), mas, nessa “disputa”, eles estão vencendo Felipão, que segue agarrado só a suas ideias de jogo, e até por isso está próximo de ser mandado embora do Galo.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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