‘Se houve crime, tem que ser penalizado’: Dorival fala sobre Daniel Alves e Robinho
Em entrevista coletiva, Dorival Júnior se posiciona sobre condenações de Dani Alves e Robinho por estupro
A prisão de Robinho e a possibilidade de Daniel Alves pagar 1 milhão de euros em fiança por sua liberdade na Espanha dominaram os bastidores da seleção brasileira em Londres nesta sexta-feira (22), véspera da partida contra a Inglaterra, no sábado (23), às 16h (horário de Brasília), no Estádio de Wembley. Após Danilo falar sobre o tema, foi a vez do técnico Dorival Júnior se manifestar sobre os casos dos dois jogadores condenados por estupro.
Em entrevista coletiva após o treino, o treinador primeiro ressaltou que tem a obrigação de se posicionar, justamente pelo tamanho do cargo que ocupa. Ele elogiou a conduta de Robinho durante o tempo em que ele foi seu comandado no Santos e afirmou que os crimes têm de ser penalizados.
– Como treinador da Seleção, eu tenho a obrigação de vir me manifestar. Primeiro, é uma situação muito delicada. O Robinho foi meu atleta. Uma pessoa fantástica, um profissional desses da nossa convivência acima da média. Não tive a oportunidade de trabalhar com o Daniel. A história dele no futebol todos nós conhecemos. É um momento difícil para todos nós expressarmos toda e qualquer situação. Eu entendo que primeiro penso nas famílias das pessoas envolvidas, nas famílias e principalmente das vítimas envolvidas nesses episódios que acontecem diariamente em nosso país e em todo o mundo. E que de repente não são abordados e são abafados porque as pessoas não têm vozes – disse Dorival.
– Eu acho que se houve realmente e comprovado algum tipo de crime, ele tem que ser penalizado. Por mais que doa no meu coração falar isso de uma pessoa com quem eu tive um convívio profissional. Eu sei o quão doloroso deva ter sido a cada uma delas que passam e passaram por um momento como esse. Não desejo isso a ninguém. Sinto por todos. Por tudo o que passarão a partir de então. Todos os que estão envolvidos. O que posso fazer é ajudá-los em orações. Nada além disso. É o sentimento que fica. Não só esses casos, mas milhares deles acontecem ao longo dos dias. E nossa sociedade infelizmente se omite da grande maioria. Precisamos penalizar também esses casos que não são expostos e acontecem com muita frequência – complementou o treinador.
Até o momento, a CBF não se manifestou em notas oficiais sobre o assunto. Mas ainda antes de Dorival dar sua resposta, o diretor de comunicação Rodrigo Paiva tomou o microfone para afirmar que a entidade tem um trabalho conduzido por uma instituição com todas as categorias de base da Seleção para tratar da conscientização dos atletas.
– A CBF tem desde o meio do ano passado um trabalho junto à Travessia, uma das maiores instituições do tema. A pedido do presidente, foi estendida à seleção brasileira das mais diversas categorias para encontrar mecanismos para pessoas manifestarem dificuldade nas questões que acontecem. A CBF vem atuando dentro de sua esfera com jogadores e jogadores de base. Esse programa foi estendido às diversas seleções. Que são as atitudes que a CBF pode tomar – afirmou Rodrigo Paiva.
Danilo joga luz à necessidade de conscientização dos atletas
Mais cedo, Danilo também se posicionou sobre o tema. Jogador mais experiente à disposição de Dorival Júnior, o lateral merece reconhecimento por sua atitude: usar a importância e a relevância que um jogador de Seleção tem para iniciar o debate sobre o machismo e o comportamento dos homens no ambiente do futebol. Mesmo que isso seja o mínimo. O capitão não falou especificamente sobre os casos de Daniel Alves e Robinho. Mas discorreu longamente sobre a importância de tratar destes temas e conscientizar os jogadores desde as categorias de base.
– Hoje em dia, por tudo o que acontece, existem julgamentos de todas as partes, é complicado falar. Entendo que pela minha posição de jogador com mais tempo de Seleção, é importante que eu fale. Dentro de uma amplitude do tema, é necessário para passar uma conscientização que parte dentro da seleção brasileira, que parte das categorias de base, no futebol brasileiro também passando pela base. Mas também gostaria de fazer reflexão de que a gente faz julgamento que acontece só no futebol. É reflexo da nossa sociedade. Nós, enquanto atletas de alto nível, temos que entender o lugar que a gente ocupa. Entender que nossas ações têm poder muito maior de influenciar negativa e positivamente. É hora de entender que nosso papel é jogar futebol, mas é também servir de exemplo de comportamento e de forma de se posicionar para a juventude – disse Danilo.
Leila escolheu se posicionar
Na última quinta-feira (21), a chefe de delegação Leila Pereira escolheu se posicionar sobre o tema e fez um pronunciamento contundente e crítico sobre a possibilidade de Daniel Alves pagar 1 milhão de euros por sua liberdade. A dirigente ainda trouxe a reboque o caso Robinho. Na noite de quarta-feira, o ex-Menino da Vila teve sua pena outorgada na Itália, também por estupro, validada pelo STJ para cumprimento no Brasil.
– Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da Seleção Brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte – disse a dirigente, nesta quinta (21), ao UOL.