Brasil

Falas de Danilo precisam iniciar debate sobre machismo na Seleção

Capitão da Seleção, Danilo fala sobre conscientização após casos de Daniel Alves e Robinho

Chefe da delegação da seleção brasileira e presidente do Palmeiras, Leila Pereira foi a única dirigente do futebol brasileiro a se posicionar criticamente sobre Daniel Alves ter comprado sua liberdade, após a prisão na Espanha. E enquanto a CBF não emite formalmente uma opinião sobre o tema, assim como sobre o mandado de prisão a Robinho, coube a Danilo falar sobre o tema como capitão da Seleção em entrevista coletiva nesta sexta-feira (22), véspera da partida contra a Inglaterra, no sábado (23), às 16h (horário de Brasília), em Wembley.

Jogador mais experiente à disposição de Dorival Júnior, o lateral merece reconhecimento por sua atitude: usar a importância e a relevância que um jogador de Seleção tem para iniciar o debate sobre o machismo e o comportamento dos homens no ambiente do futebol. Mesmo que isso seja o mínimo. Danilo não falou especificamente sobre os casos de Daniel Alves e Robinho. Mas discorreu longamente sobre a importância de tratar destes temas e conscientizar os jogadores desde as categorias de base.

– Hoje em dia, por tudo o que acontece, existem julgamentos de todas as partes, é complicado falar. Entendo que pela minha posição de jogador com mais tempo de Seleção, é importante que eu fale. Dentro de uma amplitude do tema, é necessário para passar uma conscientização que parte dentro da seleção brasileira, que parte das categorias de base, no futebol brasileiro também passando pela base. Mas também gostaria de fazer reflexão de que a gente faz julgamento que acontece só no futebol. É reflexo da nossa sociedade. Nós, enquanto atletas de alto nível, temos que entender o lugar que a gente ocupa. Entender que nossas ações têm poder muito maior de influenciar negativa e positivamente. É hora de entender que nosso papel é jogar futebol, mas é também servir de exemplo de comportamento e de forma de se posicionar para a juventude – disse Danilo.

Fala só fará sentido se tiver efeito prático na CBF

Danilo falou mais de uma vez que os jogadores precisam se conscientizar e entender que são capazes de influenciar diretamente o comportamento dos jovens. O lateral clamou que as mulheres possam ocupar os lugares que quiserem ocupar. Mas tudo isso só fará sentido se essas palavras forem colocadas em prática pela CBF.

– Eu procuro me dissociar da figura de jogador de futebol. É uma parte da minha vida. EU tenho outra parcela de vida que é importante. Dentro dessa parcela, cabe aprendizado, crescimento pessoal. Temos que entender que temos mães, irmãs, filhas, esposas, namoradas. Essas mulheres passam por provações que nós enquanto homens não passamos. Pensar com que roupa vai sair ou não, por um julgamento, por abrir suposto precedente par qualquer coisa. Eu se tem um caminhão parado na calçada, eu não passo porque fico com receio de que possa ter alguém que vai fazer mal. Nós, enquanto homens, não temos esse tipo de receio. Poder iniciar essa conscientização, trazer conversas e debates para a juventude, que é onde a gente consegue ir formando de forma genuína, reflexivo. Se colocar de forma mais empática e que as mulheres possam ocupar os lugares que elas querem ocupar – completou o lateral.

Leila escolheu se posicionar

Na última quinta-feira (21), a chefe de delegação Leila Pereira escolheu se posicionar sobre o tema e fez um pronunciamento contundente e crítico sobre a possibilidade de Daniel Alves pagar 1 milhão de euros por sua A dirigente ainda trouxe a reboque o caso Robinho. Na noite de quarta-feira, e ex-Menino da Vila teve sua pena outorgada na Itália, também por estupro, validada pelo STJ para cumprimento no Brasil.

– Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da Seleção Brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte – disse a dirigente, nesta quinta (21), ao UOL.

Foto de Eduardo Deconto

Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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