Mais do que tático e físico: Milito se prepara para enfrentar outro desafio no Atlético-MG
Novo treinador precisa implementar seu estilo tático e melhorar o time fisicamente, mas, mais do que isso, vai precisar trabalhar o mental dos jogadores
Gabriel Milito chegou ao Atlético-MG há exatamente uma semana com a missão de fazer o time jogar bem dentro de campo. Parte disso já foi visto em sua estreia no último sábado (30), quando o Galo empatou com o Cruzeiro na Arena MRV. Mas, mais do que fazer o time jogar bem e aguentar a maratona de jogos fisicamente, ele terá outro grande desafio à frente do elenco: trabalhar o aspecto mental do elenco.
O Atlético acabou sofrendo o empate para o Cruzeiro depois de abrir 2 a 0 no primeiro tempo. Para Milito, um dos motivos para isso, foi o primeiro gol cruzeirense, logo no início da etapa final, em um lance que Lemos chutou a bola em Jemerson e ela foi parar nas redes de Everson. Esse gol deu ânimo ao Cruzeiro, mas, não só isso, também afetou mentalmente o time atleticano.
Depois do primeiro gol, o Atlético foi perdendo a confiança e o ímpeto a cada minuto da partida. É claro que o físico faz diferença nesse caso, principalmente porque o time deixou a postura de marcação e precisou de mais intensidade. Mas, ficou visível que o gol abalou o foco dos jogadores, e isso não foi um fato novo.
Questionado pela Trivela sobre esse baque, Milito, que trouxe um psicólogo em sua equipe, afirmou: “Eu gostei do primeiro tempo, e temos que manter isso. Como fazer? Trabalhando. Estando cada dia vendo e analisando as situações da partida, preparando mental, tática e fisicamente a equipe. Podemos sofrer, mas sem deixar isso afetar. Ter personalidade para dizer ‘2 a 1? Tudo bem, vamos em busca do terceiro'. Mas isso é um esforço tremendo”.
Meu questionamento ao Gabriel Milito hoje: Como fazer para que os jogadores não sintam tanto um gol sofrido igual tem sempre acontecido com o Galo?
Treinador falou em trabalhar isso: “Podemos sofrer, mas sem deixar afetar. Ter personalidade para dizer ‘2 a 1? Tudo bem, vamos… pic.twitter.com/iTno2v9SE5
— Alecsander Heinrick (@alecshms) March 31, 2024
— Ver como eles sabem ganhar e perder. Falamos com os jogadores: na adversidade, busquem o melhor, não que isso diminua seu rendimento. Quando as coisas vão bem, tudo é mais fácil. Mas, é futebol, e sabemos que, nas equipes, há momentos duros, de adversidade e que não se conseguem as coisas. Aí, preciso ser valente, mas também da valentia dos jogadores — destacou o treinador em sua apresentação ao Galo.
Unir habilidade e mentalidade
O time do Atlético tem se abatido facilmente com gols sofridos de qualquer natureza. Não é algo que começou com Milito – nem com Felipão -, mas é um problema que o argentino terá que resolver. O Atlético é um time muito bom tecnicamente, e, com Milito, pode para ser também ótimo tática e fisicamente.
O treinador, inclusive, deixou boas impressões na estreia. Mas, conforme o próprio treinador ressaltou em sua chegada, todos esses aspectos precisam ser trabalhados juntos.
— Para chegar a este lugar (futebol de elite), tem se que ter talento e muita mentalidade. Se não, não chega. Pode jogar futebol, mas não neste nível. Se jogar com talento, mas sem mentalidade, não chega. Com mentalidade e sem talento, também não chega. Tem que unir os dois aspectos — Gabriel Milito
Um dado que mostra como o Atlético não consegue se recuperar mentalmente nas partidas é que ele não vira um resultado há quase um ano. A última vez foi em 23 de maio de 2023, quando saiu atrás do Athletico-PR no Mineirão e virou para 2 a 1 pela Libertadores. Desde então, não conseguiu poder de reação para vencer mais nenhum jogo.
Gabriel Milito vai precisar de tempo para implementar usas ideias táticas. Mais tempo ainda para colocar os jogadores fisicamente no nível que precisam para jogarem com o seu estilo. Mas, o que mais pode demorar, é torná-los fortes mentalmente. Sem isso, pode não adiantar jogar muito e aguentar alta intensidade do início ao fim do jogo.
Torcida do Atlético pode (e deve) fazer a diferença
Quem pode ajudar nesse processo é a torcida do Atlético. Historicamente, o torcedor atleticano é aquele que apoia do início ao fim, independente do resultado. Em momentos adversários, quando o time sofre um gol, por exemplo, sempre se ouviu a torcida do Galo cantar logo na sequência para motivar o time e não deixar a moral cair. Mas isso não tem ocorrido na Arena MRV.
O perfil do torcedor do Atlético que vai ao estádio mudou desde que a nova casa foi inaugurada, provavelmente por conta dos valores, já que agora ficou mais caro ver o Galo em casa. Com isso, a Arena MRV ainda não conseguiu se tornar a fortaleza que se esperava.
A absurda recepção para Atlético x Cruzeiro na Arena MRV. Espetáculo!@trivela pic.twitter.com/hVvJ7FX4Dh
— Alecsander Heinrick (@alecshms) March 30, 2024
Para efeito de comparação, um jogo que ficou marcado em 2023 pela superação do time, foi a vitória na penúltima rodada do Brasileirão, contra o São Paulo. Esse duelo aconteceu no Mineirão e a festa da torcida foi maior e pareceu mais barulhenta. Não à toa, o Galo pressionou até marcar seu gol, e mesmo depois de sofrer o empate no início dos acréscimos, foi empurrado pelas arquibancadas e buscou a vitória três minutos depois.
Já na Arena MRV, o gol do Cruzeiro neste sábado, por exemplo, que nem foi o de empate, já deixou o clima mais tenso e o estádio menos barulhento. Os gritos de apoio, que historicamente partem da torcida, não foram ouvidos, e o time não conseguiu achar forças para não sentir o gol sofrido.
Em resumo, é crucial que o Atlético encontre um jeito de retomar o que a torcida era antes da Arena, para colocar esse tipo dentro da sua casa própria e fazer dela a fortaleza que se espera, ajudando assim também os jogadores em campo.