Copa do Brasil

Corinthians x São Paulo: torcida troca música e evita homofobia e punição

O clássico entre Corinthians e São Paulo pela semifinal da Copa do Brasil desta vez não foi marcado pela homofobia. É uma pequena conquista

É quase uma não-notícia, um anti-acontecimento, mas os processos históricos são lentos e as pequenas conquistas precisam ser registradas: o clássico entre Corinthians e São Paulo desta vez não foi marcado pela homofobia. Os torcedores parecem ter aprendido com a punição do último caso e, ao contrário dos últimos clássicos, o Majestoso da noite desta terça-feira (25) não teve cantos homofóbicos em grande escala na Neo Química Arena.

Teve músicas diferentes e outros tipos de xingamento, mas não se ouviu o canto que, no último clássico, resultou em punição de um jogo com portões fechados. Sem gritos de “bicha”, a noite teve pedidos de “sangue no olho e tapa na orelha”, palavras de ordem mandando o São Paulo tomar no c… e muita festa depois dos gols de Renato Augusto. Os 46.517 pagantes estabeleceram o maior público da história da Neo Química Arena e embalaram a vitória com um canto novo, simples, que resumiu o orgulho alvinegro: “eu sou maloqueiro, corintiano e sofredor”. A música que marcou o último clássico não foi cantada, nem a versão original, nem a homofóbica.

O Corinthians cogitava intensificar as ações de conscientização e combate à homofobia durante o clássico, mas nem precisou veicular mensagens do tipo. O telão alertou para que torcedores não acendessem sinalizadores, nem invadissem ou jogassem objetos no campo, mas este último pedido não foi atendido.

Quando Luciano fez o gol do empate parcial e comemorou na bandeirinha de escanteio, choveu copos de plástico e outros objetos nos jogadores do São Paulo. O STJD costuma denunciar situações como esta, que geralmente terminam em multa – no mês passado, por exemplo, o Cruzeiro precisou pagar R$ 60 mil por um caso parecido.

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Corinthians ainda precisa cumprir punição

O clube ainda não cumpriu a punição que recebeu pelo último caso de homofobia. O último clássico contra o São Paulo foi em 14 de maio, e a decisão da 3ª Comissão Disciplinar do STJD saiu exatamente um mês depois, em 14 de junho. O Corinthians recorreu, conseguiu um efeito suspensivo e levou a disputa ao Pleno do Tribunal, que no último dia 6 manteve a pena de um jogo de portões fechados.

Foi a primeira vez que o STJD obrigou um clube a jogar sem torcida desde a reformulação do Regulamento Geral das Competições da CBF, que neste ano passou a punir com mais severidade os casos de homofobia. O Corinthians já era reincidente, pois em 2022 havia sido denunciado pelo mesmo problema e na ocasião teve que pagar R$ 40 mil em um acordo com o Tribunal.

O Corinthians jogou várias vezes na Neo Química Arena enquanto o processo corria no STJD, mas só uma pelo Brasileirão – foi a derrota para o Red Bull Bragantino, no último dia 2. A partida contra o Grêmio teve que ser adiada por questões de calendário, então o jogo sem torcida foi adiado. Com tudo isso, a punição será cumprida contra o Vasco da Gama, às 18h30 (de Brasília) deste sábado, pela 17ª rodada do Brasileirão.

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Próxima punição poderia ser perda de pontos

Casos de homofobia são enquadrados no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que prevê multa de até R$ 100 mil ao clube envolvido em “prática de ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”.

Qualquer clube envolvido ainda corre riscos de perder três pontos se o STJD considerar que a infração foi “praticada simultaneamente por considerável número de pessoas”. Seria uma punição inédita para casos deste tipo. Sendo a Copa do Brasil um torneio mata-mata, uma punição assim significaria eliminação.

Homofobia na Arena: Como foi da última vez

Em maio deste ano, corintianos entoaram o canto “Vamos, vamos Corinthians! Dessas bichas teremos que ganhar” antes e durante o empate em 1 a 1 entre Corinthians e São Paulo, pelo Brasileirão.

As ofensas foram gritadas em vários momentos, em uníssono, por boa parte do estádio. Começou minutos antes do próprio jogo, entre o aquecimento e o apito inicial. Depois, novamente durante a primeira etapa, e os torcedores inclusive subiram o volume quando o sistema de som e o telão da Arena anunciaram que aquilo poderia resultar em punição ao clube.

No segundo tempo qualquer sinal de constrangimento foi para o espaço, e o árbitro Bruno Arleu de Araújo precisou paralisar o jogo por conta do mesmo xingamento. O telão novamente exibiu as orientações, mas a torcida passou a cantar ainda mais forte.

Durante o segundo tempo do clássico, a conta oficial do Corinthians no Twitter chegou a postar um trecho da música que, no estádio, foi cantada com termos homofóbicos. A publicação usou os dizeres “Vamos, vamos Corinthians”. Depois, o post foi apagado – a música original tem os versos “Vamos, vamos Corinthians, nessa noite (ou esse jogo), teremos que ganhar”.

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Arthur Sandes

Arthur Sandes é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e um dos vencedores do Troféu Aceesp em 2021, na categoria Matéria do Ano. Passou por Gazeta Esportiva, UOL e atualmente está na cobertura diária do Corinthians na Trivela.
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Eduardo DecontoSetorista

Jornalista pela PUCRS, é setorista de Seleção e do São Paulo na Trivela desde 2023. Antes disso, trabalhou por uma década no Grupo RBS. Foi repórter do ge.globo por seis anos e do Esporte da RBS TV, por dois. Não acredite no hype.
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