Brasileirão Série A

Festa ao terror: as 24h da torcida no dia do histórico rebaixamento do Santos

A reportagem da Trivela traz a visão dos torcedores antes, durante e após a derrota que decretou o rebaixamento inédito do Santos no Brasileirão

Todo o clima na Vila Belmiro era de uma final. Do corredor de fogo às arquibancadas lotadas e vibrantes, a sensação de quem estava dentro do estádio era de que o Santos disputava uma decisão. E de fato disputou. No entanto, a expectativa positiva da torcida, embasada nas 27 combinações de 30 de o clube se salvar do rebaixamento, na última rodada do Brasileirão, se transformou em uma noite de terror.

A reportagem da Trivela traz a visão dos torcedores antes, durante e após a derrota do Santos para o Fortaleza por 2 a 1, que decretou o primeiro rebaixamento do clube em sua história. 

55kg de sal grosso e o último corredor de fogo

Durante a madrugada que antecedeu a fatídica partida, um torcedor fez uma barreira de 55kg de sal grosso em torno da Vila Belmiro para tentar “espantar a zica” do Peixe. 

Em conversa com a reportagem, Gustavo Rodrigues, que é integrante de uma torcida organizada, contou que fez até uma vaquinha para a ação anti-zica. 

Aliás, Gustavo é um dos idealizadores do “corredor de fogo”, que surgiu quando a equipe alvinegra enfrentava uma série de derrotas no fim do primeiro turno do Brasileirão. O projeto durou até a última rodada e contou até com a contribuição financeira de jogadores e famosos, como MC Bin Laden.

E, mesmo que o fim da noite tenha sido traumático, mais uma vez milhares de torcedores acompanharam a chegada do ônibus da delegação santista com sinalizadores, bandeirões e batucadas da bateria.  

– Tudo pelo Santos. A torcida não abandonou o time durante o campeonato todo, mesmo com essa gestão horrível, incompetente. Olha tudo o que a gente fez aqui – disse Gustavo, enquanto apontava para o espaço em frente à Vila, onde aconteceu a festa pré-jogo.

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“Nascer, viver e no Santos morrer”

Em mais uma demonstração de amor, o torcedor santista lotou a Vila para a partida contra o Fortaleza. Foram mais de 14 mil pagantes, um dos melhores públicos recentes do estádio. O barulho e o calor humano, em um dia com temperaturas superiores aos 30ºC, imperavam. 

Diante de muito suor e olhos atentos, a torcida gritava em uníssono “nascer, viver e no Santos morrer”, seguido por “vamos ganhar, Santos!”. 

Nem a concentração total na vitória impediu os presentes de distribuírem xingamentos a Marinho. O atacante, vice-campeão da Libertadores em 2020, trocou o Alvinegro da Baixada pelo Flamengo e ganhou a antipatia dos fanáticos. Atento aos gritos depreciativos, o jogador aproveitou uma falha de marcação para abrir o placar e fez o gesto de silêncio na comemoração. E a torcida se calou por alguns instantes.

O apoio continuou, mas o som já não era o mesmo. A gritaria deu espaço às cornetas, e o fim do primeiro tempo foi melancólico. Afinal de contas, toda a arquibancada queria saber quais eram os resultados dos concorrentes ao Z-4. Porém, Bahia e Vasco faziam o dever de casa, vencendo Atlético-MG e RB Bragantino, respectivamente. Os resultados obrigavam o Santos a vencer também. 

Não se pode negar que a equipe alvinegra comeu grama no segundo tempo. Foram muitas tentativas no ataque até Messias marcar de cabeça. O delírio do torcedor foi imediato, principalmente porque, no Rio de Janeiro, o Bragantino igualou o placar. Finalmente uma das 27 possibilidades de permanência na Série A estava funcionando. 

O sonho durou pouco. Minutos depois, o Vasco frustrou os planos de um empate salvador para o Peixe. Nos acréscimos, o choro e a raiva da torcida vieram acompanhados pelo gol da vitória do Fortaleza. 

Cenário de guerra

Antes do apito final já era possível ouvir e sentir os efeitos das bombas de efeito moral. A Polícia Militar conteve torcedores, que atearam fogo em carros nos arredores da Vila, com gás lacrimogêneo. E não acabou por aí. As horas seguintes foram tensas, com confrontos e vários pontos de tensão pela cidade. 

Bombas, carros e ônibus queimados… O inédito rebaixamento do Santos veio acompanhado de um rastro de destruição. Infelizmente, a festa deu lugar ao terror, e o futebol deu espaço à violência. 

Das 27 possibilidades de salvação, a torcida se deparou com o pior cenário e reagiu de forma irracional. Ou melhor, parte dela reagiu assim. Agora, resta à parcela sensata de torcedores recolher os cacos e se reerguer. O esporte é assim.

Foto de Livia Camillo

Livia CamilloSetorista

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, escreve sobre futebol há cinco anos e também fala sobre games e cultura pop por aí. Antes, passou por Terra, UOL, Riot Games Brasil e por agências de assessoria de imprensa e criação de conteúdo online.
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