Fabrício abre o jogo e fala de goleadas sobre Atlético-MG, saída do Cruzeiro e muito mais
Goleadas sobre o maior rival, abandono de campo, problemas internos que travaram uma renovação e grandes companheiros: a história de Fabrício no Cruzeiro
Um dos principais ídolos recentes do Cruzeiro, o ex-volante Fabrício viveu um período especial do clube, participando de momentos e times que ficaram marcados no imaginário do torcedor, alguns positiva e outros negativamente. Essa ligação criada fez com que o antigo camisa 5 criasse uma ligação forte com a torcida, que mesmo depois de mais de dez anos ainda enxerga o jogador como uma referência de raça, entrega e amor ao Cruzeiro.
Em entrevista exclusiva à Trivela, Fabrício falou sobre algumas de suas principais experiências como jogador do Cruzeiro. O ex-atleta relembrou goleadas inesquecíveis contra o maior rival Atlético-MG, além de eventos traumáticos, como a derrota para o Estudiantes na final da Libertadores de 2009 e o duelo direto pelo título brasileiro, em 2010, contra o Corinthians, no qual Fabrício abandonou o campo revoltado com a arbitragem de Sandro Meira Ricci.
O ex-jogador falou também sobre os jogadores com quem mais gostou de atuar no Cruzeiro e contou sobre os problemas que resultaram na sua saída, a contragosto, da Raposa. Veja os pontos que Fabrício abordou:
- As duas goleadas por 5 a o contra o Atlético-MG
- Perda da Libertadores de 2009
- Abandono de campo contra o Corinthians, em 2010
- 6 a 1 sobre o Atlético-MG
- Grandes companheiros de Cruzeiro
- Saída conturbada do clube
Veja a parte 1 da entrevista clicando aqui
Duplo 5 a 0 contra o Atlético-MG
Fabrício chegou ao Cruzeiro em 2008, se tornando rapidamente uma peça importante do time de Adilson Batista. Um ano antes de sua chegada, o time celeste havia sofrido uma pesada derrota para o rival Atlético-MG na final do Campeonato Mineiro, por 4 a 0, onde aconteceu o infame “gol de costas”, sofrido por Fábio. O resultado, apesar de passado, ainda doía no cruzeirense. Mas aquele grupo de jogadores havia chegado para mudar isso.
Já nas finais do Campeonato Mineiro de 2008, no centenário do Atlético-MG, o Cruzeiro de Fabrício devolveu a goleada com juros, 5 a 0. No estadual do ano seguinte, em 2009, a expectativa de uma revanche atleticana se tornou frustração quando a Raposa mais uma vez venceu pelo mesmo placar. O ex-volante relembrou esses momentos.
— Cheguei para colocar ordem no galinheiro, né?! Esses momentos são marcantes. Duas goleadas nos primeiros anos, num dos anos fomos campeões invictos. Isso só serviu para ratificar que a supremacia em Minas é do Cruzeiro. Foram momentos muito alegres. A gente se divertia em campo, a torcida se divertia na arquibancada. Esses dois 5 a 0 foram inesquecíveis. Zoamos o rival para caramba. Não teve muita dificuldade, foi um passeio. Nosso time era bem superior — falou, entre risos, Fabrício.
🍫 No #DiaDoChocolate relembramos do duplo 5 A 0! O Cruzeiro goleou o rival e conquistou o título do Campeonato Mineiro de 2008.
⚽⚽⚽⚽⚽ Gols de Marcelo Moreno, Ramires, Guilherme, Wagner e um gol contra.
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— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) July 7, 2023
Libertadores de 2009
O ano de 2009, que começou muito promissor com a nova goleada sobre o rival, reservava um momento de enorme frustração ao Cruzeiro. Naquele ano, o time mineiro foi derrotado na final da Copa Libertadores, em casa, para o Estudiantes de La Plata, da Argentina. Para Fabrício, essa foi a maior frustração de sua carreira.
— Foi a maior tristeza que eu vivi na minha carreira. É muito difícil. É muito raro um atleta repetir essa situação, viver esse momento mais uma vez, por isso tem que dar tudo de si. Foram dias sem uma noite de sono tranquila. Mas tem que passar, seguir em frente. Hoje em dia fica marcado, o “se”, “se fizesse isso, aquilo”, mas é sofrência, não volta mais, não tem mais jeito. Teve um baque e foi difícil voltar — falou Fabrício.
Abandono de campo contra o Corinthians
No ano de 2010, o Cruzeiro brigava pelo título brasileiro com Corinthians e Fluminense — este último viria a conquistar o troféu — quando houve confronto direto entre mineiros e paulistas, no Pacaembu. Num jogo marcado por polêmicas, Sandro Meira Ricci deu um pênalti questionável de Gil sobre Ronaldo — hoje dono da SAF celeste —, além de acontecerem outros lances, como impedimentos mal marcados contra e pênaltis não assinalados para a Raposa.
Revoltado com a atuação da arbitragem, Fabrício se recusou a ficar em campo e abandonou o gramado de jogo, indo direto para os vestiários. O ex-jogador contou o que se passou pela sua cabeça.
— Em 2010 eu já tinha batido na trave na Libertadores, nosso time era bom pra caramba, sempre um dos tops do Brasil, tanto que eu não joguei nenhum Copa do Brasil pelo Cruzeiro, sempre era Libertadores, teve um Brasileiro que a gente perdeu por cinco pontos. Aí o pior é chegar no fim do ano, ver a tabela e pensar “olha esses pontos que perdemos aqui, que bobeira”. Naquele ano a gente estava crente que ia ganhar naquele ano, o Cuca nos passava seus planos e a gente alcançava todos — começou o ex-volante.
— Aquele jogo foi complicado por isso. O pênalti é até discutível, principalmente do jeito que a arbitragem é no Brasil. Mas aquele jogo foi todo picado, uma parada ali, outra lá, impedimento mal dado aqui, aí foi minando. Foi a gota d’água. Aí eu saí fora. Sempre fui assim, muito intenso — continuou.
Encontro com Cuca nos túneis do Pacaembu
Apesar de assumir a revolta, Fabrício afirmou que saiu, também, para evitar uma situação pior. Ele ainda contou da conversa que teve com Cuca, treinador do Cruzeiro na época, que havia sido expulso por Meira Ricci, nos túneis do Pacaembu.
— Eu saí para não fazer coisa pior. Eu vi que não ia conseguir voltar. Saí de mim mesmo, perdi o controle. Fiquei revoltado e vi que alguém ia sair aí falei “não, eu é que vou sair, não aguento mais ficar aqui dentro, vai dar um problema mais sério aí” — contou.
— Aí eu entrei no túnel e lá no final estava o Cuca. Ele olha para trás e fala “Pô, tu foi expulso?”, e eu falei “Não, eu saí”, e ele “Tu saiu? volta lá”. Aí falei que já tinha saído, que tinha outro no lugar, ele me chamou de louco, foi uma confusão daquelas. Muito baixo astral no vestiário. Eu falei com o Cuca que poderíamos ficar ali até amanhã que esquece, não íamos vencer. Ali que eu vi que já era torcedor — disse Fabrício.
É importante ressaltar que esse perfil intenso de Fabrício sempre foi exaltado pelos torcedores. Algumas declarações do jogador ficaram marcadas, como quando ele questionou um jornalista que usou a expressão “Galo” para se referir ao Atlético-MG, rival do Cruzeiro. De acordo com o camisa 5, na ocasião, “Galo” era para os íntimos. Para ele, era Atlético Mineiro.
"Galo para você que tem bastante intimidade, para mim é atlético mineiro"
🗣️ Fabrício (2011) pic.twitter.com/XeVAVZ6RE6
— Cruzeiro em Vídeos (@CECemVideos) July 5, 2021
Noutra ocasião, o jogador foi irônico ao ser questionado sobre a possibilidade de Ronaldinho Gaúcho, à época no Flamengo, ser punido e ficar de fora de um jogo contra o Cruzeiro. “Flamengo, Ronaldinho, você acredita mesmo nisso?”, questionou a um jornalista.
Goleada por 6 a 1 sobre o Atlético-MG
Dentre tantos momentos marcantes de Fabrício com a camisa do Cruzeiro, talvez o principal deles tenha sido justamente em seu último jogo pelo clube. No final de 2011, o time celeste brigava para não cair e, por força do regulamento da época, o último confronto da temporada era contra o rival Atlético-MG. Se vencesse, o alvinegro poderia rebaixar o time celeste, de forma inédita, para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Além da situação difícil na tabela, o Cruzeiro não pode contar com seus dois principais jogadores: o goleiro Fábio e o meia argentino Walter Montillo. Mas nem o mais otimista cruzeirense poderia imaginar o que estava por vir. E Fabrício se tornou o rosto daquela partida, com a comemoração de seu gol, o quarto da Raposa, com a braçadeira de capitão, estampando todas as notícias sobre o acontecido.
— Foi um mix de alegria e tristeza. O 6 a 1 foi o jogo com mais pressão da minha carreira, pelo meu envolvimento com o time e torcida. Eu não queria ficar manchado na história do clube. Aquela semana foi tensa, os últimos meses foram se arrastando cada vez mais, eu tinha uma lesão no tendão de aquiles, com expectativa de melhorar, e fui me arrastando — contou.
— Foi uma semana intensa, mas eu não tenho lembrança nenhuma. Foi apagado da minha memória o que aconteceu naqueles dias. Normalmente a gente se policia para não ficar só pensando no jogo, para focar mais na véspera, mas aí foi a semana inteira. Era tratamento, treino, alimentação, dormir. Na última noite eu dormi pouco, pensei, como vou jogar sem dormir? Muito difícil cara — continuou Fabrício.
O ex-volante afirmou que houve uma mobilização muito grande entre os jogadores, muitas conversas, que conseguiram, de fato, fechar o elenco. Segundo ele, tinham muitos jogadores preocupados com aquela situação e isso possibilitou a união de todo o grupo.
— Falei com todo mundo para ficarem tranquilos, sem preocupação, que a gente ia ganhar. E foi um jogo que deu tudo certo. O apoio da torcida foi muito importante também. Se não fosse isso, não iríamos conseguir. Uma pressão deles iria dificultar ainda mais, mas os torcedores abraçaram a causa. Desde a saída da Toca 2 rumo a Sete Lagoas a gente foi acompanhado pela torcida, na chegada ao estádio. E aí foi olho no olho. A gente nem falou muito. Era todo mundo com o olho esbugalhado — revelou o jogador.
Apesar de ressaltar a “alegria imensa” daquele momento, Fabrício apontou que, por outro lado, se sentiu triste quando o jogo acabou. Ele não tinha renovado seu contrato e sabia que poderia ter sido seu último jogo pelo Cruzeiro.
Gol no 6 a 1
Fabrício falou sobre a sensação de marcar um gol no 6 a 1, em sua partida de despedida. Segundo ele, não passou nada em sua cabeça. “Foi uma loucura”, afirmou. Ele ainda revelou que os jogadores se seguraram no segundo tempo, para garantir a vitória e a permanência.
— A gente ganhando de 3 a 0 e o último contra-ataque do primeiro tempo, eu consegui fazer aquele gol ali, nossa, que alívio. Foi uma comemoração de alívio. Na verdade eu queria que já tivesse acabado ali. Para mim acabou o mundo ali. Sair com esse resultado no primeiro tempo, era difícil demais para eles reverterem, do jeito que a gente estava. Claro, tudo pode acontecer, por isso, no segundo tempo, só rezava para acabar. Dava até para forçar para sair mais gols, mas não houve relaxamento. Todo momento foi como se tivesse zero a zero, sem correr riscos. A gente deu uma pisada no freio no segundo tempo para não se arriscar, por isso só saíram mais dois gols — revelou o ex-capitão do Cruzeiro.
— A comemoração eu nem sei, só lembro que saí correndo, você não sabe para onde olhar. Foi o gol mais importante da minha vida. Extravasei tudo aquilo que estava assombrando nosso time naquele ano — disse Fabrício.
Em homenagem ao anivérsário do Fabrício, vamos relembrar um dos seus lances inesquecíveis, na goleada do 6 a 1!
O volante fez o quarto gol, no fim do primeiro tempo, na Arena do Jacaré. ⚽
Obrigado por tudo, guerreiro!
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— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) July 5, 2023
Grandes companheiros
Fabrício jogou ao lado de grandes atletas durante sua carreira, em especial no Cruzeiro, quando participou de times fortíssimos no cenário Sul-Americano. O ex-volante destacou esses elencos. Perguntado sobre seus companheiros de Toca da Raposa 2 que mais encheram seus olhos, ele cravou com rapidez: o meia argentino Walter Montillo e Gilberto, lateral-esquerdo e meia, com passagens pela Seleção Brasileira e Copa do Mundo no currículo.
— Eu gostei muito de jogar com o Montillo e o Gilberto, na parte técnica. Sempre foram caras que me safaram. Jogar com esses caras, você rouba a bola, e eles são opção, nunca se esconderam. O Montillo chegou nos primeiros treinos e eu falei “Caramba, vai dar problemas para os adversários”. Como volante, minha satisfação era correr para eles, deixá-los à vontade para criar — falou Fabrício.
O ex-volante contou que dizia para os jogadores mais técnicos apenas cercarem, que ele ficaria com as funções defensivas. Apesar de entender que o futebol mudou, Fabrício acredita que as características de cada atleta tem que prevalecer. Que se os jogadores de frente tiverem que marcar até o fim, eles terão dificuldade para atacar.
Quando o assunto é personalidade marcante, Fabrício não teve dúvidas ao cravar que Kléber Gladiador era um destaque nesse aspecto.
— O Kléber Gladiador tinha uma personalidade absurda. Em todos os jogos podíamos contar com ele. Mas tinha que segurá-lo por causa das tretas. Esses três aí eram fera. O time era fera — relembrou o ex-volante.
— Quando a gente ganhava a gente amassava, conseguíamos ser superiores em campo. O time inteiro gostava de jogar bola. O Cruzeiro sempre teve essa característica, a torcida ficou acostumada. Lembro uma vez que estávamos ganhando de 3 a 0, começamos a tocar de lado, gastar tempo, e a torcida chiou com a gente. É algo cultural. É a característica de cada time, não adianta querer mudar. Quem chega no clube tem que conhecer a história, se aproximar dos torcedores, de quem é raiz — elogiou Fabrício.
Saída de Fabrício do Cruzeiro
Fabrício deixou o Cruzeiro ao final de 2011, rumo ao São Paulo. A despedida desagradou os torcedores e foi contra o que queria o jogador. Ele contou alguns dos bastidores dessa saída.
— A coisa não andou. Internamente eu tinha uns atritos, via umas coisas erradas acontecendo e eu nunca fiquei muito calado, sempre bati de frente com algumas pessoas. Acabou rolando um atrito com um diretor da época e a coisa não andou muito bem para o meu lado. Na saída do Cuca, nas últimas semanas da temporada, aconteceram alguns desentendimentos também e aí não conseguimos resolver essas tretas — contou Fabrício.
— Eu fui proibido de falar publicamente de renovação, pois tinha uma pressão da torcida pela minha continuidade, para não gerar problemas numa situação de risco de rebaixamento e eu sempre respeitei, fiquei na minha — revelou.
O ex-volante contou, ainda, que tentou um esforço final para ficar no Cruzeiro, mas que isso não foi possível.
— Mesmo com a proposta do São Paulo eu tentei ver com os caras novamente, ligava de casa, dizia que queria ficar, e aí não aconteceu. Mas faz parte. Infelizmente foi ruim para mim e para minha família. Mas eu não podia ficar chorando. Tive que virar a página rapidamente — concluiu Fabrício.