Atlético-MG: especialista explica o que afeta péssimo gramado da Arena MRV
Próximo a completar um ano, Arena MRV nunca conseguiu ter um gramado de boa qualidade
A Arena MRV foi inaugurada já com problemas no gramado, com a ideia de trocar para grama sintética antes mesmo do primeiro jogo. Praticamente um ano depois da inauguração, o campo da casa do Atlético-MG segue sendo uma grande dor de cabeça.
O problema de gramado da Arena MRV é tão grande que, o jogo que antecede a celebração do primeiro ano da casa do Galo acontecerá no Mineirão, justamente por conta do péssimo gramado da Arena, que recebeu críticas públicas dos jogadores atleticanos.
O Atlético enfrenta o Fluminense neste sábado (24), às 21h30, no Mineirão, visando dar um descanso e trabalhar na melhora do gramado da Arena MRV.
🏟️🫱🏻🫲🏼 Trabalho contínuo: o gramado da Arena MRV está passando por um tratamento intensivo de nutrição, cortes e nivelamento, além da utilização de luz artificial.
Todos os recursos disponíveis estão sendo empregados para fortalecer a resposta do gramado ao tratamento. pic.twitter.com/YGusD2DLmJ
— Arena MRV (@ArenaMRV) August 23, 2024
O que explica o gramado da Arena MRV?
Problema é só falta de luz?
Pelo que o Atlético afirma, o principal problema é a falta de luz solar no campo. Já que a Arena MRV é muito fechada, não há incidência do sol por tempo necessário em várias partes.
A Trivela entrou em contato com Lucas Pedrosa, diretor técnico da Greenleaf Gramados, empresa que cuida do campo de alguns estádios do Brasil, para tentar chegar a uma resposta sobre as condições do gramado da Arena MRV.
Lucas explicou que, no caso da luz, é uma questão básica de biologia, já que a grama natural precisa de fotossíntese, que acontece através do sol:
— Sem luz, não temos desenvolvimento nem crescimento (da grama), porque elas não conseguem obter energia para sua sobrevivência — disse especialista.
Diante desse cenário, a Arena MRV comprou várias máquinas que simulam a luz solar. Lucas disse que, com o uso frequente desse equipamento, é possível “desenvolver excelência” nas áreas que recebem pouco sol. No entanto, isso não acontece na casa do Galo.
Tem máquina nova entrando em campo na Arena MRV. As luzes responsáveis pelo tratamento do gramado já estão no aquecimento e deixando tudo pronto para o Lendas do Galo. No total só 8 máquinas, 6 maiores e 2 menores. pic.twitter.com/ArAlEPWKaU
— Arena MRV (@ArenaMRV) June 26, 2023
Base do gramado é o ponto principal?
O Atlético nunca conseguiu resolver o problema do gramado, mesmo trocando ele ainda em 2023, depois para 2024 e agora mais uma vez. O problema, então, pode estar na base do terreno.
Segundo Lucas Pedrosa, é fundamental acertar na preparação do solo para chegar a um gramado de boa qualidade. Escolher o topsoil (camada abaixo da grama onde ocorrem a maioria das atividades biológicas do solo) certo, por exemplo, faz toda a diferença.
As operações precisam do melhor material e de uma execução perfeita. Se algo estiver fora do padrão, as consequências são visíveis na parte de cima do gramado — Lucas Pedrosa, Greenleaf Gramados.
Tipo de base influência
A Arena MRV tem grande maioria da base do gramado de areia, mas ainda tem algumas partes de argila, e isso influência na qualidade do campo.
Além da mistura não ser adequada, o solo de areia sempre foi visto como melhor para gramado. Ter parte argilosa pode ser uma das respostas para tantos problemas no campo da Arena.
— A base da grama, seja arenosa ou argilosa, faz uma grande diferença no desenvolvimento, vida útil e fatores de jogabilidade dos campos de futebol de alta performance — disse Lucas, que explicou as diferenças.
Solos Argilosos | Solos Arenosos |
Têm maior retenção de água devido as suas partículas menores, levando a uma compactação mais rápida e intensa. Isso exige uma manutenção mais rigorosa, e os jogadores costumam relatar desconforto em campo. A drenagem pode ser um fator limitante nesses solos, pois as raízes têm mais dificuldade em se desenvolver e avançar. Em áreas sombreadas, a combinação de sombra com solo argiloso torna a recuperação e o crescimento da grama ainda mais difíceis. | Oferecem uma maior capacidade para formar um sistema radicular mais volumoso e profundo, já que a barreira para o crescimento é menos dura e compactada. Esses solos permitem uma melhor permeabilidade da água, facilitando a drenagem. Além disso, a vida útil do gramado tende a ser maior em solos arenosos, pois eles promovem a formação de matéria orgânica ao longo dos anos. |
Troca de gramado foi feita no tempo certo?
A última troca no campo da Arena foi realizada em apenas 10 dias, e o tempo curto virou questionamento da torcida se era suficiente. O resultado foi um gramado ainda pior, com várias falhas e desnivelamento, o que aumentou as críticas.
A @trivela já está na Arena MRV para o confronto entre Atlético x Cuiabá, pelo Brasileirão.
Gramado foi trocado, mas segue, visualmente, muito feio. A área do lado da Galoucura, que não recebeu troca, tem um buraco de areia (foto 4).
Provável Galo misto hoje, chance pra muitos… pic.twitter.com/ZHF2o8TPEU
— Alecsander Heinrick (@alecshms) August 17, 2024
À Trivela, Lucas Pedrosa disse que, usando a grama “ready to play”, que foi a utilizada pelo Galo, é possível fazer uma troca de excelência de todo o campo entre 10 e 12 dias — na Arena, 60% da extensão foi trocada.
— Para concretizar todas essas etapas com muito cuidado, um campo de área total pode ser plantado em 10 a 12 dias. Se houver um prazo melhor, é possível dedicar mais atenção aos detalhes. — afirmou Lucas Pedrosa.
A troca exige um trabalho cuidadoso em várias etapas, como a retirada do material do estádio, o transporte da grama nova, que não pode, de forma alguma, chegar ao local “estressada ou fermentando”. Por fim, o plantio, que precisa do cuidado minucioso para ficar nivelada.
Qual a solução para o gramado da Arena MRV?
Diante de tantos problemas com a grama natural que o Atlético não consegue manter em boa qualidade, a solução mais lógica e provável no momento é uma troca para gramado sintético.
No entanto, há dois problemas nessa mudança. O primeiro é que os jogadores preferem a grama natural e não gostam muito do sintético, além de terem “medo”, pois alguns afirmam que esse tipo de campo causa mais lesões.
O segundo problema é bem mais complicado e exige mudança de legislação na Prefeitura de Belo Horizonte, que tem uma lei que exige um percentual de taxa de permeabilidade no terreno da Arena. O sintético não é permeável, por isso é um problema no momento.
Nesse caso, o Atlético já trabalha junto a Prefeitura para tentar resolver essa questão e instalar o sintético para 2025. Sobre os jogadores, o clube entende, e os atletas, em sua maioria, também, que é melhor um sintético de ótima qualidade do que um natural ruim.