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Atlético-MG: especialista explica o que afeta péssimo gramado da Arena MRV

Próximo a completar um ano, Arena MRV nunca conseguiu ter um gramado de boa qualidade

A Arena MRV foi inaugurada já com problemas no gramado, com a ideia de trocar para grama sintética antes mesmo do primeiro jogo. Praticamente um ano depois da inauguração, o campo da casa do Atlético-MG segue sendo uma grande dor de cabeça.

O problema de gramado da Arena MRV é tão grande que, o jogo que antecede a celebração do primeiro ano da casa do Galo acontecerá no Mineirão, justamente por conta do péssimo gramado da Arena, que recebeu críticas públicas dos jogadores atleticanos.

O Atlético enfrenta o Fluminense neste sábado (24), às 21h30, no Mineirão, visando dar um descanso e trabalhar na melhora do gramado da Arena MRV.

O que explica o gramado da Arena MRV?

Problema é só falta de luz?

Pelo que o Atlético afirma, o principal problema é a falta de luz solar no campo. Já que a Arena MRV é muito fechada, não há incidência do sol por tempo necessário em várias partes.

A Trivela entrou em contato com Lucas Pedrosa, diretor técnico da Greenleaf Gramados, empresa que cuida do campo de alguns estádios do Brasil, para tentar chegar a uma resposta sobre as condições do gramado da Arena MRV.

Lucas explicou que, no caso da luz, é uma questão básica de biologia, já que a grama natural precisa de fotossíntese, que acontece através do sol:

— Sem luz, não temos desenvolvimento nem crescimento (da grama), porque elas não conseguem obter energia para sua sobrevivência — disse especialista.

Diante desse cenário, a Arena MRV comprou várias máquinas que simulam a luz solar. Lucas disse que, com o uso frequente desse equipamento, é possível “desenvolver excelência” nas áreas que recebem pouco sol. No entanto, isso não acontece na casa do Galo.

Base do gramado é o ponto principal?

O Atlético nunca conseguiu resolver o problema do gramado, mesmo trocando ele ainda em 2023, depois para 2024 e agora mais uma vez. O problema, então, pode estar na base do terreno.

Segundo Lucas Pedrosa, é fundamental acertar na preparação do solo para chegar a um gramado de boa qualidade. Escolher o topsoil (camada abaixo da grama onde ocorrem a maioria das atividades biológicas do solo) certo, por exemplo, faz toda a diferença.

As operações precisam do melhor material e de uma execução perfeita. Se algo estiver fora do padrão, as consequências são visíveis na parte de cima do gramado — Lucas Pedrosa, Greenleaf Gramados.

Tipo de base influência

A Arena MRV tem grande maioria da base do gramado de areia, mas ainda tem algumas partes de argila, e isso influência na qualidade do campo.

Além da mistura não ser adequada, o solo de areia sempre foi visto como melhor para gramado. Ter parte argilosa pode ser uma das respostas para tantos problemas no campo da Arena.

— A base da grama, seja arenosa ou argilosa, faz uma grande diferença no desenvolvimento, vida útil e fatores de jogabilidade dos campos de futebol de alta performance — disse Lucas, que explicou as diferenças.

Solos Argilosos Solos Arenosos
Têm maior retenção de água devido as suas partículas menores, levando a uma compactação mais rápida e intensa. Isso exige uma manutenção mais rigorosa, e os jogadores costumam relatar desconforto em campo. A drenagem pode ser um fator limitante nesses solos, pois as raízes têm mais dificuldade em se desenvolver e avançar. Em áreas sombreadas, a combinação de sombra com solo argiloso torna a recuperação e o crescimento da grama ainda mais difíceis. Oferecem uma maior capacidade para formar um sistema radicular mais volumoso e profundo, já que a barreira para o crescimento é menos dura e compactada. Esses solos permitem uma melhor permeabilidade da água, facilitando a drenagem. Além disso, a vida útil do gramado tende a ser maior em solos arenosos, pois eles promovem a formação de matéria orgânica ao longo dos anos.

Troca de gramado foi feita no tempo certo?

A última troca no campo da Arena foi realizada em apenas 10 dias, e o tempo curto virou questionamento da torcida se era suficiente. O resultado foi um gramado ainda pior, com várias falhas e desnivelamento, o que aumentou as críticas.

À Trivela, Lucas Pedrosa disse que, usando a grama “ready to play”, que foi a utilizada pelo Galo, é possível fazer uma troca de excelência de todo o campo entre 10 e 12 dias — na Arena, 60% da extensão foi trocada.

— Para concretizar todas essas etapas com muito cuidado, um campo de área total pode ser plantado em 10 a 12 dias. Se houver um prazo melhor, é possível dedicar mais atenção aos detalhes. — afirmou Lucas Pedrosa.

A troca exige um trabalho cuidadoso em várias etapas, como a retirada do material do estádio, o transporte da grama nova, que não pode, de forma alguma, chegar ao local “estressada ou fermentando”. Por fim, o plantio, que precisa do cuidado minucioso para ficar nivelada.

Qual a solução para o gramado da Arena MRV?

Diante de tantos problemas com a grama natural que o Atlético não consegue manter em boa qualidade, a solução mais lógica e provável no momento é uma troca para gramado sintético.

No entanto, há dois problemas nessa mudança. O primeiro é que os jogadores preferem a grama natural e não gostam muito do sintético, além de terem “medo”, pois alguns afirmam que esse tipo de campo causa mais lesões.

O segundo problema é bem mais complicado e exige mudança de legislação na Prefeitura de Belo Horizonte, que tem uma lei que exige um percentual de taxa de permeabilidade no terreno da Arena. O sintético não é permeável, por isso é um problema no momento.

Nesse caso, o Atlético já trabalha junto a Prefeitura para tentar resolver essa questão e instalar o sintético para 2025. Sobre os jogadores, o clube entende, e os atletas, em sua maioria, também, que é melhor um sintético de ótima qualidade do que um natural ruim.

Foto de Alecsander Heinrick

Alecsander HeinrickSetorista

Jornalista pela PUC-MG, passou por Esporte News Mundo e Hoje em Dia, antes de chegar a Trivela. Cobriu Copa do Mundo e está na cobertura do Atlético-MG desde 2020.
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