Iniesta prefere seguir em campo mesmo aos 39 anos e a honra de tê-lo será do Emirates
Depois de se despedir do Vissel Kobe, Iniesta tinha alguns destinos especulados e vai jogar nos Emirados Árabes

Andrés Iniesta está afastado dos holofotes há algum tempo. Lá se vão cinco anos desde que o craque se despediu do Barcelona para embarcar numa jornada pelo Japão. O veterano se tornou ídolo do Vissel Kobe: conquistou a Copa do Imperador, levou o time à Champions Asiática e brindou a torcida com seus lances geniais, mesmo que o desempenho da equipe pudesse ser mais consistente. No entanto, Iniesta deixou a J-League recentemente, pela falta de espaço no time na atual temporada. Não tinha a melhor relação com o técnico, mas recebeu enorme homenagem em seu ato final. E, sem desejar a aposentadoria, o espanhol seguirá em frente nos Emirados Árabes. Nesta terça, o Emirates Club confirmou a contratação do astro, que será apresentado na quarta-feira. Chega a um clube relativamente modesto no cenário local, que acabou de subir da segundona.
Iniesta assina com o Emirates Club por uma temporada, em transferências sem custos. Aos 39 anos, o craque sente o impacto da idade em seu rendimento. Entretanto, não desejava pendurar as chuteiras. O meia parecia uma boa alternativa à Major League Soccer, especialmente pela conexão com os velhos companheiros no Inter Miami. Don Andrés também tentou flertar com o Barcelona, mesmo se virasse apenas mais um no elenco. Entretanto, a situação financeira ainda delicada do clube poderia sequer permitir a inscrição do veterano. Alguns sonhadores imaginaram o ídolo no Albacete, clube no qual começou na base, antes de se mudar à Catalunha. No Emirates, ganhará um bom dinheiro.
De certa maneira, a continuidade de Iniesta nos gramados se assemelha à de Gianluigi Buffon. As duas lendas se mostram apaixonadas pelo esporte, mesmo distante dos holofotes. Não querem se afastar da rotina de treinos e jogos, mesmo num cenário mais modesto. Em comum, o meia e o goleiro lidaram com a depressão durante fases importantes de suas carreiras. A fidelidade à bola indica como preferem manter a vida como atletas, por mais que não tenham o brilho de outrora. Pelas entrevistas de Iniesta, é uma motivação.
Iniesta também não deixa de ganhar um bom dinheiro nestas empreitadas, de fato. Durante a passagem pelo Japão, o veterano valorizou a cultura local e a vida mais pacata com a família. Para tanto, ganhava um dos maiores salários do mundo no Vissel Kobe. A oferta do Emirates Club não é a mais suntuosa, em comparação ao que se nota na Arábia Saudita. Contudo, Don Andrés se torna um garoto-propaganda da liga local e poderá desfrutar a vida num novo país.
Welcome #iniesta in #emiratesclub ??? @andresiniesta8 @fabriziorom @liveherewego_ pic.twitter.com/Ak52cyEvNY
— شركة نادي الامارات لكرة القدم (@Emirates_FC) August 7, 2023
O que Iniesta encontrará no Emirates Club
O Emirates Club é um clube sem tanta expressividade no Campeonato Emiratense. A equipe fica sediada em Ras Al Khaimah, sexta maior cidade do país, com 190 mil habitantes. Os alviverdes foram fundados em 1969 e, a partir dos anos 1970, variaram entre as duas primeiras divisões da liga local. O acesso mais recente aconteceu justamente em 2022/23. Já os únicos troféus de elite conquistados pelo Emirates vieram em competições secundárias, com a Copa do Presidente e a Supercopa erguidas em 2009/10.
O Emirates é treinado por Fathi Labidi, tunisiano de trabalhos em outros clubes árabes. Já o elenco possui um número razoável de estrangeiros. O zagueiro Uros Vitas chegou do Vojvodina nesta temporada, enquanto o volante Franck Kom atuou pela seleção de Camarões no passado. A massa de estrangeiros se divide principalmente entre africanos e brasileiros. A lista de atletas do Brasil, aliás, é ampla: O principal nome é do atacante Diogo Acosta, formado pelo Palmeiras, que chegou a disputar a Série B com Avaí e Oeste. O capitão do Emirates consolidou sua carreira nos últimos anos no Oriente Médio. O atacante Lithierry, formado na base do Corinthians, também aparece na linha de frente. Os laterais Luan Alemão (ex-Portuguesa) e Roger Mendonça (ex-Vila Nova) são outros à disposição.
Iniesta será o principal astro do Campeonato Emiratense, mas outros nomes conhecidos estão presentes na liga. Alfred Schreuder (Al Ain), Frank de Boer (Al Jazira) e Pitso Mosimane (Al Wahda) são os treinadores mais badalados. Já a lista de jogadores estrangeiros inclui uma leva de famosos que chegou na atual janela de transferências. O investimento na Arábia Saudita, de certa maneira, também faz os clubes emiratenses buscarem visibilidade. Além de Iniesta, entre os novatos da atual janela estão Munas Dabbur, Manolo Gabbiadini e Haris Seferovic.
Estrangeiros de destaque no Campeonato Emiratense
- Kaku (Al Ain)
- Alejandro Pozuelo (Al Jazira)
- Adel Taarabt (Al Nassr)
- Manolo Gabbiadini (Al Nassr)
- Allan (Al Wahda)
- Omar Khribin (Al Wahda)
- Haris Seferovic (Al Wasl)
- Daniel Bessa (Kalba)
- Munas Dabbur (Shabab Al Ahli)
- Paco Alcácer (Sharjah)
- Miralem Pjanic (Sharjah)
- Kostas Manolas (Sharjah)
Como foi a passagem de Iniesta pelo Japão
A transferência de Iniesta rumo ao Vissel Kobe aconteceu em 2018, após sua quarta Copa do Mundo e o ponto final com a seleção espanhola. O meia optava por buscar um ambiente no qual teria menos pressão e pudesse curtir mais à família, depois de uma carreira bem sucedida em alto nível e também na qual chegou a lidar com a depressão. O Vissel Kobe, cujos donos também eram patrocinadores do Barcelona, oferecia um salário astronômico na casa dos €25 milhões anuais e um novo projeto. Outro atrativo ao veterano era a própria cultura japonesa, como um confesso aficionado pelo desenho Supercampeões e pelo personagem Oliver Tsubasa.
Iniesta teve bons números pelo Vissel Kobe ao longo dos cinco anos em que defendeu o clube, mesmo que viesse em clara queda física. Foram 26 gols e 25 assistências em 134 partidas, uma média de participação em gols até superior à que registrou ao longo de sua passagem pelo Barcelona. Não foram poucos os lances em que o velho craque apresentou sua qualidade técnica inegável e a superioridade em relação aos companheiros. A conquista da Copa do Imperador se tornou um marco na história do clube, com o espanhol como capitão. Da mesma forma, o Vissel fez bons papéis na Champions Asiáticas, com uma campanha até as quartas de final e outra às semifinais. Todavia, só não houve um salto tão grande na J-League, mesmo com o craque sendo eleito para a seleção do campeonato em 2019 e em 2021.
Durante a primeira temporada com Iniesta, o Vissel Kobe terminou na décima colocação na J-League, mas o astro chegou no meio da campanha. A oitava colocação de 2019 escondia o risco de rebaixamento vivido na transição dos turnos, enquanto o time foi apenas o 14° em 2020. O melhor desempenho ocorreu em 2021, com a terceira colocação. O Vissel não brigou exatamente com o Kawasaki Frontale pelo título, mas foi bastante consistente para entrar no G-3 e registrar o melhor desempenho de sua história. Porém, em 2022 o time voltou a correr riscos de rebaixamento e ocupava a lanterna no início do segundo turno, até se safar no 13° lugar. Por mais que o clube tenha trazido outros nomes tarimbados, como David Villa e Lukas Podolski, teve dificuldades para montar times funcionais. Também não houve estabilidade, com diversas trocas de técnicos no período.
O Vissel Kobe ocupou a liderança da J-League em boa parte da atual temporada. Iniesta, entretanto, pouco atuou. Por mais que os problemas físicos se tornassem mais comuns, quatro partidas em campo era pouquíssimo ao astro. A falta de espaço indicou o conflito com o técnico Takayuki Yoshida e o meia não escondeu seu descontentamento, ao declarar que a falta de minutos em campo foi um dos motivos para sua decisão de não renovar o contrato. Seu único jogo como titular foi exatamente o da despedida. Ganhou uma gigante homenagem.
Foi emocionante a homenagem a Iniesta em seu adeus ao Vissel Kobe https://t.co/PWH6xec2jF
— Trivela (@trivela) July 3, 2023