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Governo vai assumir oficialmente o controle dos quatro maiores clubes da Arábia Saudita para fortalecer a liga

Public Investment Fund (PIF), fundo de investimento do governo saudita, irá assumir o controle dos clubes para investir pesado e tentar potencializar a liga saudita com a chegada de estrelas

O governo da Arábia Saudita resolveu agir de forma ainda mais evidente para fortalecer a liga de futebol profissional do país. O ministro do esporte saudita anunciou que o Public Investment Fund (PIF), fundo de investimento controlado pelo governo do país do golfo, vai assumir o controle dos quatro maiores clubes do país: Al Ahli, Al Ittihad, Al Hilal e Al Nassr. A ideia é fortalecer esses clubes e a liga como um todo, em mais uma tentativa de fazer manchetes e usar o futebol como soft power para ganhar força – incluindo aí os planos de sediar futuramente uma Copa do Mundo, em projeto de sportswashing muito maior.

O PIF irá controlar 75% dos clubes da Saudi Pro League, com outros 25% sendo de duas organizações sem fins lucrativos. As diretorias desses clubes serão formadas por sete membros, sendo cinco deles escolhidos pelo PIF e outros dois pelas organizações sem fins lucrativos.

O ministro do esporte afirma que as organizações serão cada uma “uma instituição que inclui os atuais membros da assembleia geral do clube e os novos membros, e dois membros serão nomeados por eles na diretoria do clube, sendo que um deles será o presidente da diretoria”.

O governo da Arábia Saudita anunciou planos nesta segunda-feira que são parte do projeto “Vision 2030”, que envolve, entre outras coisas, sediar a Copa do Mundo de 2030. Como uma das candidaturas para 2030 é de Portugal, Espanha e Marrocos e o fundo de investimentos saudita fez um grande acordo para patrocinar a Superliga Africana, os sauditas já estudam serem candidatos apenas em 2034, com o apoio dos países africanos, e apoiar a candidatura que tem Marrocos para 2030. Isso, porém, não está definido. Os sauditas ainda podem decidir ser candidatos.

Segundo o governo saudita, os planos de assumir os quatro clubes foram feitos para “promover oportunidades de investimento e um ambiente de investimento atrativo no setor esportivo; promover o profissionalismo, a governança e a sustentabilidade financeira dos clubes esportivos; e aumentar a competitividade e infraestrutura dos clubes”. Leia-se: vamos despejar dinheiro para atrair alguns dos melhores jogadores possíveis e tentar obrigar o mundo a nos assistir.

Esse tipo de tentativa não é inédita. O Japão, com investimento privado, e não massivamente público, fez isso nos anos 1990 e levou diversas estrelas importantes do futebol mundial para lá. A China, mais recentemente, fez o mesmo, este sim, com investimentos do governo, combinado com fundos de empresas privadas chinesas (ajudadas pelo governo, em grande parte). Nenhuma das duas ligas conseguiu se transformar em uma potência e concorrer com as principais ligas europeias, embora tenha tirado muitos jogadores delas para enfileirar em seus clubes.

Além dos quatro grandes clubes sauditas que serão controlados pelo governo, outros quatro clubes serão reestruturados em relação a quem serão seus donos. A Aramco, empresa de petróleo do país, irá assumir uma parcela do Al Qadsia, o Diriyah Gate Development Authority, que gerencia o patrimônio histórico do país, irá investir no Al Diriyah Club, a Comissão Real do governo de Al-Ula assumirá o Al Ula Club, enquanto o Neom, uma cidade inteligente planejada em construção no norte do país, assumirá o Al Suqoor FC. Com isso, oito clubes estarão, em maior ou menor escala, com investimentos governamentais. São 16 clubes atualmente na primeira divisão saudita.

O governo saudita afirma que os investimentos têm como projeto aumentar as receitas comerciais da liga dos atuais 450 milhões de riyals (algo em torno de US$ 120 milhões) em 2022 para 1,8 bilhão de riyals (US$ 480 milhões) anualmente, além de gerar investimentos privados e oportunidades crescentes na liga dos atuais três bilhões para algo como oito bilhões em 2030. Um projeto ambicioso e que exigirá bem mais do que contratar estrelas.

O Al Hilal e o Al Nassr ficam na capital do país, Riade, enquanto Al Ahli e Al Ittihad ficam em Jedá.

O crescente poder da Arábia Saudita no futebol

A Arábia Saudita se tornou um agente importante no futebol mundial nos últimos anos, trabalhando de forma muito próxima da Fifa e aumentando gradualmente a sua importância – majoritariamente com investimentos enormes, seja em patrocínio, seja como financiador de ideias, como o Mundial de Clubes turbinado com 32 equipes. Também se tornou uma patrocinadora importante da Fifa no próprio Mundial de Clubes. A edição 2023 do torneio, aliás, será na Arábia Saudita.

Foi o PIF que comprou 80% do Newcastle em outubro de 2021 e é quem manda no clube inglês atualmente. Logo após a Copa do Mundo 2022, o governo saudita foi fundamental para que o Al Nassr contratasse o astro Cristiano Ronaldo, em janeiro de 2023. E a ideia do governo assumir os principais clubes do país é para fazer de Cristiano Ronaldo apenas o primeiro.

O governo quer fortalecer esses clubes com estrelas de peso para dar ainda mais relevância à liga. O nome que está encaminhado é o de Karim Benzema, que anunciou a saída do Real Madrid e deve fechar com o Al Ittihad em uma proposta indecorosa de € 200 milhões por temporada.

Outros nomes são especulados, como Sergio Busquets, que deixou o Barcelona, e o principal deles: Lionel Messi, que deixa o PSG e tem uma proposta absurda de € 400 milhões por temporada para atuar no Al Hilal – algo em torno de 10 vezes o valor que o argentino recebe por ano no PSG. O argentino ainda não respondeu se aceita, mas fica cada vez mais próximo de ir para a Arábia Saudita, já que o Barcelona, que quer levá-lo de volta, está com problemas financeiros.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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