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Benzema passou por fases diferentes no Real Madrid antes de chegar à final: uma lenda

O clube merengue anunciou neste domingo que Karim Benzema rescindiu contrato, após 14 anos, 25 títulos, 353 gols e 648 jogos

O Real Madrid sabia que estava mudando a sua história no mercado que antecedeu a temporada 2009/10. Ou esperava. Ou torcia. Se tudo desse certo, dois jogadores teriam uma longa carreira no Santiago Bernabéu e a terminariam no topo da lista dos principais jogadores do clube. No fim, foi isso que aconteceu. Cristiano Ronaldo sempre foi um dos candidatos. A surpresa, talvez, é que o segundo não tenha sido Kaká, mas Karim Benzema. Ao longo de 14 anos, o atacante francês passou por fases diferentes, de reserva a escudeiro, de escudeiro a craque, e todas elas combinadas culminaram em uma lenda que se despediu neste domingo.

A saída de Karim Benzema, confirmada pelo Real Madrid em um comunicado publicado na manhã deste domingo, foi esperada e também um pouco surpreendente, se é que é possível. Os jornais europeus haviam publicado que ele havia balançado com uma proposta indecorosa da Arábia Saudita. Segundo o El País, os escritórios dos merengues davam como certa a saída do quinto jogador que mais vezes defendeu o clube e seu segundo maior artilheiro. No entanto, no mesmo dia, ele afirmou em um evento do Marca que “a realidade não é a internet”, uma declaração bem vaga e suficiente para tornar tudo mais confuso.

Benzema tinha mais um ano de contrato, mas, como afirmou o Real Madrid em sua nota oficial, ganhou o direito de decidir o próprio futuro. “O Real Madrid e nosso capitão Karim Benzema chegaram a um acordo para encerrar a sua brilhante e inesquecível etapa como jogador do nosso clube”, disseram os merengues. “O Real Madrid quer mostrar seu agradecimento e todo carinho a quem já é uma das nossas maiores lendas. Benzema chegou a nosso clube em 2009, com apenas 21 anos, e foi um jogador fundamental nesta época dourada da nossa história”.

O francês, que fará seu último jogo neste domingo, contra o Athletic e se despedirá oficialmente em uma cerimônia na próxima terça-feira, conquistou 25 títulos pelo Real Madrid: cinco Champions League, cinco Mundiais de Clube, quatro edições de La Liga e três Copas do Rei. Ele vestiu a camisa branca 648 vezes, atrás de Raúl, Iker Casillas, Manolo Sanchís e Sergio Ramos. Apenas Cristiano Ronaldo supera sua marca de 353 gols. “Também é o quarto goleador da história da Champions League e o quarto da história de La Liga. A trajetória de Karim Benzema no Real Madrid foi um exemplo de comportamento e profissionalismo e representou os valores do nosso clube”, continuou. “Os madridistas e todos os torcedores do mundo desfrutaram de seu futebol mágico e único que o converteram em um dos grandes mitos do nosso clube e em uma das grandes lendas do futebol mundial. O Real Madrid é e sempre será sua casa”.

Benzema havia sido um ótimo atacante para o Lyon quando foi contratado em 2009. A sua primeira temporada trouxe pouco tempo em campo, atrás de Gonzalo Higuaín na briga pelo posto de centroavante. Eles passaram quatro anos juntos no Santiago Bernabéu, com uma minutagem parecida. Gerou aquela brincadeira de que um era sempre substituído pelo outro. Ele foi efetivado como camisa 9 quando o argentino saiu para o Napoli, antes da temporada da histórica décima conquista europeia. Benzema contribuiu com cinco gols e cinco assistências àquela campanha, mas teve apenas uma participação direta depois das oitavas de final, contra o Schalke 04. Os seus próximos cinco anos seriam meio estranhos.

Ele teve grandes temporadas também em números, como em 2015/16, quando anotou 24 gols no Campeonato Espanhol, mas sua principal função era trabalhar para Cristiano Ronaldo, uma dobradinha que funcionou muito bem e entregou quatro títulos da Champions League. Ao mesmo tempo, houve momentos em que se contestou se era um centroavante à altura do Real Madrid. Na temporada em que fez aquela jogada mágica contra o Atlético de Madrid, na semifinal europeia, discutia-se se Zidane deveria dar mais espaço para Álvaro Morata ou antecipar a transferência de Ronaldo para o centro. Benzema estava com problemas extracampo, envolvido no processo de chantagem contra o companheiro de seleção francesa, Mathieu Valbuena, e fez 19 gols. Na campanha seguinte, apenas 12.

Mesmo os maiores defensores de Benzema, os que valorizavam o trabalho tático que fazia apesar de números às vezes modestos, não poderiam imaginar no que ele se transformaria quando passou a ser foco do ataque do Real Madrid. A saída de Cristiano Ronaldo para a Juventus deixou um vácuo de referência técnica e poder midiático, que o presidente Florentino Pérez queria preencher com Eden Hazard, contratado apenas um ano depois. Digamos que não deu certo. E não precisou dar certo porque Benzema tornou-se o craque que o seu time precisava em um período de transição, um elo entre a geração que foi tetracampeã europeia e jovens que começavam a ganhar espaço, como Federico Valverde, Rodrygo e Vinícius Júnior.

Benzema continuou a se movimentar bastante e preparar as jogadas para os companheiros, mas não havia mais hierarquia. Ou melhor: ele rapidamente se colocou no topo dela. Encontrou a veia artilheira que cobravam dele, com temporadas de 30, 27, 30, 44 e 30 gols. Foi o principal responsável por um título espanhol que nem estava tanto na conta, no retorno de Zidane, e teve uma Champions League mágica na temporada passada, anotando hat-tricks contra Paris Saint-Germain e Chelsea e marcando pelo menos uma vez em cinco dos sete jogos do mata-mata. Todas as reviravoltas que o Real Madrid conseguiu naquela campanha passaram pelos seus pés. Merecidamente, ganhou a Bola de Ouro da revista France Football de melhor jogador do mundo e subiu de patamar na história do futebol.

E também na história do Real Madrid. Sem essa última fase, provavelmente ainda seria considerado um jogador importante que participou de uma era dourada do clube merengue. A longevidade lhe deu os números. Mas foi o período em que tudo girou em torno dele que o catapultou ao status de lenda. A atual temporada não foi tão boa. Teve problemas físicos, passou pelo estranho corte da seleção francesa e, no geral, o Real Madrid coletivamente não esteve muito azeitado. A sua saída mais do que qualquer outra (desse pacote recente) marca o fim de uma era no Santiago Bernabéu que, se dessa vez não precisará buscar uma estrela porque já conta com Vinícius Júnior, provavelmente terá um ataque completamente diferente na próxima temporada.

Em 24 horas, quatro jogadores ofensivos se despediram do Real Madrid – no último sábado, Marco Asensio, Mariano Díaz e Eden Hazard. Sobraram Vinícius e Rodrygo. Há muito espaço na folha salarial, necessidade e desejo para ir ao mercado agressivamente, então tranquem as portas: nenhum atacante no mundo está seguro. Não se sabe para onde ele irá. Não se sabe quem será contratado para o seu lugar. O que se sabe com certeza é que será muito, muito difícil encontrar uma reposição à altura de Karim Benzema.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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