Expulso da Copa da Ásia por comemoração, iraquiano teve pai morto pela Al-Qaeda
Aymen Hussein, expulso por "comemoração excessiva", cresceu em meio a ataques terroristas e controle do Estado Islâmico

Expulso de forma surreal nas oitavas de final da Copa da Ásia, o atacante do Iraque Aymen Hussein protagonizou o momento que marcou negativamente a atual edição da competição. Na eliminação para a Jordânia, ele foi expulso simplesmente por comemorar um gol. No entanto, o capítulo digno dos livros de história do futebol não é nada comparado trágico enredo de sua vida. Nascido em família de militares, o jogador teve o pai e o irmão mortos em confrontos no seu país de origem.
Na última segunda-feira (29), o Hussein levou o segundo amarelo e, na sequência, o vermelho, após comemorar a virada parcial contra os adversários por 2 a 1 – exatamente da mesma forma que eles haviam feito pouco tempo antes. O camisa 18 correu em direção à torcida e, ao retornar ao gramado, sentou no chão e fingiu que estava comendo com as mãos.
حكم المباراة يوجه إنذاراً أصفر ثانياً لأيمن حسين ويطرده بسبب الاحتفال بالفوز بالهدف الثاني#الرابعةtv pic.twitter.com/qSX21V6vuu
— قناة الرابعة – Al Rabiaa TV (@alrabiaatv) January 29, 2024
A atitude foi considerada “comemoração excessiva” pelo árbitro iraniano Alireza Faghani, segundo consta no site oficial da Copa da Ásia. Por conta disso, Faghani puniu o atacante com os cartões. Com um a menos em campo, o Iraque sofreu a virada por 3 a 2, já nos acréscimos da partida, e foi eliminado da competição.
– Num torneio como este, para expulsar um jogador tem que ser algo sério… E especialmente quando se tem dois critérios para arbitrar – lamentou o técnico espanhol Jesús Casas, que comanda a seleção iraquiana desde 2022.
Hussein perdeu o pai e irmão em ataques terroristas
O episódio de injustiça vivido por Hussein chamou a atenção para a história de vida do atleta de 27 anos, que convive com as injustiças sociais fora das quatro linhas desde a infância. O atual artilheiro da Copa da Ásia, com seis gols em quatro jogos, cresceu em Hawija, distrito controlado pelo Estado Islâmico (ISIS), sob constantes ataques e explosões.
A guerra já fazia parte de seu cotidiano, mas a violência atingiu em cheio a família de Aymen. Em 2008, o pai do atleta, que era oficial do exército iraquiano, foi assassinado pela Al-Qaeda durante um ataque a Bagdá, capital do país. Depois disso, o drama seguiu. Seu irmão, policial local, foi sequestrado por forças terroristas e tem o paradeiro desconhecido até os dias atuais.
– Ninguém sabe exatamente o que aconteceu com ele. Não é a primeira história da minha família e provavelmente não será a última – desabafou Hussein em entrevista à Associated Press, agência internacional de notícias.
Entre 2014 e 2017, a área foi alvo de bombardeios da “Coligação Internacional contra o Estado Islâmico”, liderada pelos EUA, em territórios do Iraque e da Síria. Por conta disso, a família de Hussein, autor do gol que classificou o Iraque para as Olimpíadas do Rio em 2016, teve que fugir para Kirkuk logo no início do período de confrontos, tornando-se refugiados.
– Se eu abandonasse o futebol, não mudaria nada. Não recuperaria nenhuma das coisas que perdi. Além do mais, agradeço a Deus pela minha situação. Tenho paredes em minha casa. Muitos dos iraquianos refugiados vivem em tendas – afirmou o atacante do Al-Quwa Al-Jawiya, clube mais antigo do Iraque.
Hussein continuou perseguindo o sonho e, de certa forma, usou o sofrimento como combustível. Pela seleção iraquiana, à qual tem orgulho de vestir a camisa profissional desde 2015, ele soma 23 gols em 72 jogos. Ele é o segundo maior artilheiro da equipe.