Destaque na Europa, ‘Messi Jordaniano’ quer título da Copa da Ásia e abrir fronteiras para compatriotas
Mousa Al-Tamari é o camisa 10 e melhor atleta da Jordânia durante campanha inédita
Prosperar no futebol é o sonho de muitos jovens e adultos em diversas partes do mundo. Mas certamente as oportunidades podem ser menores para provenientes de países pouco tradicionais com a bola nos pés. E mesmo contra todas as adversidades, Mousa Al-Tamari atravessou fronteiras, superou tabus e agora, está próximo de um capítulo histórico para ele e a amada Jordânia, que neste sábado (10) encara o Catar pela inédita final da Copa da Ásia, no estádio Lusail.
Mais do que o camisa 10 e astro da equipe do Oriente Médio, o atacante do Montpellier é também o único jogador de sua seleção a atuar na Europa, e o único até agora na história da Jordânia a atuar em uma das cinco maiores ligas do Velho Continente.
Nascido na capital Amã, Al-Tamari sempre foi apaixonado por futebol, e começou a atuar nas categorias de base do Shabab Al-Ordon ainda com 8 anos de idade. Mesmo sonhando em trilhar o caminho da bola desde cedo, ele contou que a família tinha o pé atrás, por conta da falta de desenvolvimento do futebol no país, seja na liga local, seja de jogadores fora do país.
– Desde muito pequeno, eu sonhava em ter uma carreira no futebol e jogar nas maiores ligas da Europa, mas minha mãe queria que eu me concentrasse nos estudos. Não é que ela não acreditasse em mim, mas ela me disse que seria complicado viver do meu sonho na Jordânia -, afirmou o jogador em entrevista ao site oficial da Ligue 1, logo depois de desembarcar no Montpellier, em agosto de 2023.
❝Thank you for the support today, Jordan fans.
This win is a gift to you, thank God and we will see you in the final at Lusail Stadium!❞
🇯🇴 Mousa Al-Tamari#AsianCup2023 | #HayyaAsia | #JORvKOR pic.twitter.com/UawX4FmCPz
— #AsianCup2023 (@afcasiancup) February 6, 2024
Mesmo assim, ele se destacou nas categorias de base, e aos 19 anos estreou como profissional da equipe que o revelou, além de na mesma época, também ter vestido pela primeira vez o camisa da seleção adulta de seu país. Com tamanho destaque, ele foi emprestado um ano depois ao Al-Jazira, e seguiu trilhando seu caminho na seleção, que o fez receber o convite para atuar no APOEL, o clube mais tradicional do Chipre.
O Messi Jordaniano
É de se imaginar que apesar de não ser um time dos mais tradicionais, o APOEL intimidaria Al-Tamari, mas o contrário aconteceu. Ao todo, o ponta direita foi titular absoluto nas duas temporadas em que atuou lá, fazendo 13 gols e ganhando o apelido de ‘Messi Jordaniano' por parte dos cipriotas. Canhoto, habilidoso e jogando pela ponta-direita, de fato o jogador possui semelhanças com o argentino guardadas às devidas proporções. Entretanto, o apelido não é algo do qual o jogador goste.
– Sei que algumas pessoas me chamam assim, mas não gosto do apelido (risos). Na verdade, quando cheguei ao APOEL, o presidente havia vendido muitos jogadores importantes e o time não estava tão bem como de costume, mas como dei tudo em campo e fiz tantos gols, a torcida me adorou e inventou uma música que me referia como o Messi jordaniano.
– Às vezes sinto falta deles e este clube terá sempre um lugar especial no meu coração porque foi o clube que me trouxe para a Europa e é o maior clube do Chipre -, afirmou Al-Tamari, que deixou o APOEL rumo ao OH Leuven, da Bélgica.
Por mais desafiador que fosse o novo desafio, mais uma vez o jogador surpreendeu por sua qualidade, apesar das diferenças culturais e linguísticas. Durante as três temporadas em que atuou no time belga, ele foi o jogador com maiores tentativas de dribles (384) e mais dribles completos (174), de acordo com o Opta, site especializado em estatísticas esportivas.
– Eu gosto de jogar um contra um, driblo bem e sou rápido com a bola nos pés. Mas também gosto muito de fazer tabelas e jogar pela equipe. Na Bélgica, começava a jogar aberto pela ponta-direita e sempre volta atuando pelo meio de campo. Sempre farei o que o treinador me pedir, o que for mais útil para a equipe.
Sua habilidade e principalmente os 6 gols na última temporada fizeram com que o Montpellier contratasse o Al-Tamari ao fim de seu contrato com os belgas. Titular da equipe francesa desde a sua chegada no início da temporada 2023/2024, o atacante marcou 3 gols e deu 3 assistências em 16 jogos. Pode parecer pouco, mas sua ausência é sentida na equipe do sul da França, que amarga a 13ª colocação em uma campanha bastante irregular neste início de ano pela Ligue 1.
Sonho e realidade próximos
Mas isso ocorre por um bom motivo. Artilheiro da equipe com três gols na Copa da Ásia, Al-Tanari vem sendo a principal esperança de uma seleção que eliminou Iraque e Tadjiquistão, além de também ter sido o grande herói na semifinal contra a favorita Coreia do Sul, fazendo um gol e dando uma assistência na justa vitória por 2 a 0. E segundo o próprio jogador, tem muito a ver com o técnico marroquino Hussein Ammouta, que assumiu o time em 2023.
– Damos tudo em campo. E acima de tudo, jogamos bola agora. Há alguns anos o jogo era mais longo, mas as coisas estão mudando, principalmente graças ao novo treinador. E está dando frutos. Temos um bom time que joga bem e permanece unido.”
A união e amor pela nação é o que move Al-Tamari. Segundo o próprio, seria possível ver mais atletas da Jordânia brilharem em ligas maiores caso sejam dadas oportunidades a eles.
– Eu amo o meu país e sei que eles têm orgulho de mim, mas ser o primeiro jordaniano a jogar na França não é o meu objetivo. Eu quero mais. Se os clubes europeus verem mais jogos nossos, eles contratariam mais jogadores da Jordânia. Temos muitos bons atletas e minha missão é mostrar do que nós somos capazes.
E é justamente esse o grande objetivo de Al-Tamari e seus companheiros neste sábado, no estádio Lusail. Além de se eternizar no coração de um país que convive com uma sangrenta e interminável há décadas, Al-Tamari poderá literalmente transformar o seu sonho em realidade.
– Há um mês eu sonhei que ganharíamos a Copa da Ásia, e agora isso é quase real. É um momento de muito orgulho para mim, meu país e meu clube. O apoio que estou recebendo da Jordânia e do Montpellier são inexplicáveis.