Mais que Chelsea, River e Flamengo: Boca é o maior desafio do Palmeiras de Abel
Palmeiras chega como favorito, mas tem time desfigurado, encara histórico negativo e equipe acostumada a decidir nos penais

Mais do que as duas finais de Libertadores, que a final do Mundial de Clubes, que as quartas contra o São Paulo, em 2021, e os dois confrontos decisivos com o Atlético-MG, em 2021 e 2022. E sim, mais até que a traumática semifinal da Libertadores de 2020, contra o River Plate.
Os 180 minutos do confronto das semifinais da Libertadores deste ano, contra o Boca Juniors, são o maior desafio da Era Abel Ferreira no Palmeiras.
São vários os motivos que levam a essa conclusão. Que tem a ver com a natureza dos dois jogos, com o histórico do confronto e com os momentos presentes de ambos.
Palmeiras é favorito, e isso pode ser um problema
Não há porque esconder a verdade. O Palmeiras é um clube mais rico, tem um time mais bem qualificado, vive um momento melhor, decide em casa e fez a melhor campanha da competição. E isso tem um peso.
Contra Chelsea, River e Flamengo, o Palmeiras era azarão. Contra o Galo, o confronto era equilibrado. Contra o São Paulo, pesava o histórico negativo de três eliminações para o rival na competição e o fato de se tratar de um clássico.
Contra o Santos, na época, também havia um equilíbrio de forças. Talvez, apenas contra o Athletico-PR de Felipão, o Palmeiras fosse tão favorito quanto hoje. E o resultado foi o que foi.
Ser favorito contra uma camisa pesada acaba sendo uma vantagem traiçoeira. Porque permite ao adversário jogar sem a obrigação. Ser eliminado, é o caminho natural para esse Boca. Fazer história será seu combustível.
A obrigação da classificação é toda do time de Abel Ferreira.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
O histórico joga contra
Por três vezes, o Palmeiras se encontrou com o Boca em fases eliminatórias do torneio. Em 2000, perdeu a final nos pênaltis, em um Morumbi com quase 70 mil pessoas.
Em 2001, nova derrota nos pênaltis, no Palestra Itália, na semifinal – depois de uma arbitragem para lá de questionável no jogo de ida em Buenos Aires. E em 2018, o futuro campeão brasileiro sucumbiu no Allianz Parque.
Como disse Abel na época em que encarou o São Paulo em condições semelhantes, não foi este Palmeiras atual quem construiu esse histórico. Mas ele pesa para esse grupo, não há como negar.
Boca joga a la Boca e tem a “vantagem do empate”
“O Boca joga a la Boca”, disse um motorista de Uber, torcedor do River, enquanto dirigia para a sede do clube Xeneize, para onde a reportagem da Trivela ia buscar sua credencial para o jogo.
Mesmo na Argentina, onde todas as equipes são conhecidas por saberem travar o jogo com faltas, reclamações e cera, o Boca se destaca.
Nenhuma equipe na América do Sul sabe agir tão bem para que um jogo simplesmente não aconteça. Faz parte da cultura do clube, independentemente do elenco.
O Boca chegou à semifinal sem ganhar nenhuma das quatro partidas. E, com quatro empates, chegou à semi calcado no talento do goleiro Sergio Romero para defender cobranças.
Os números são históricos. Romero nunca foi derrotado em disputas de pênaltis jogando pelo clube. De 19 pênaltis, pegou 10: quatro de sete no tempo regulamentar. Seis de doze em definições por penais.
Mais até do que Romero, vencer disputas por pênaltis também é algo cultural para o clube. Ao longo de sua história, o clube do bairro de La Boca somou 39 vitórias em 55 disputas – 71% de aproveitamento.
Palmeiras vai jogar com equipe que ainda não se encontrou
Ainda que tenha um time melhor que o do Boca, em que pese os argentinos terem um jogador do quilate de Cavani, sem Dudu, o Palmeiras vai entrar na semifinal longe de uma formação ideal. Nenhuma das tentativas de Abel funcionou de fato, mas existe uma tendência.
Mayke na ponta-direita já teve bons momentos antes. Atualmente, está apenas razoável. E sua entrada faz ainda com que o atual melhor lateral-direito do elenco jogue fora de sua posição.
Quem também deve jogar fora de sua posição é Artur. Muito bom pela ponta direita, o canhoto não tem tal rendimento na esquerda.
Endrick poderia ser uma solução, mas sua entrada tiraria Rony de seu lugar favorito. Breno Lopes funciona muito melhor quando entra com o jogo em andamento. E Kevin, o único com características semelhantes às de Dudu, não tem nem duas partidas inteiras como profissional.