Alemanha

Deus no céu e Xabi Alonso na Terra: a crença quase religiosa que move o Leverkusen

O Bayer Leverkusen é o melhor time da Europa até aqui na temporada e muito disso está ligado a Xabi Alonso

Quando Xabi Alonso assumiu o Bayer Leverkusen, em outubro de 2022, tinha em seu currículo passagens apenas pelo infantil do Real Madrid e pela equipe B da Real Sociedad. Ele encontrou um time em péssima fase, vice-lanterna da Bundesliga com apenas uma vitória em oito rodadas e uma defesa frágil, vazada 16 vezes. Para reverter esse cenário com pouca experiência, só um poder de mobilização enorme, quase como uma crença religiosa, que fez o time da zona de rebaixamento em 22/23 ser o melhor futebol praticado na Europa na temporada 2023/24.

– Todos seguimos as instruções de Xabi, as suas táticas. Acreditamos no que ele faz. O acompanhamos em todos os aspectos! Todos nós confiamos nele, isso é o mais importante – disse o centroavante Patrik Schick, agora titular da equipe com a lesão de Victor Boniface.

Os méritos táticos são enormes. Desde o primeiro dia, implementou o esquema 3-4-3, que rege até agora, de muita posse de bola, intensidade e velocidade. Essa formação é o ponto de partida porque, durante o jogo, há muito movimento, principalmente dos alas Alejandro Grimaldo e Jeremie Frimpong, que viram atacantes no momento ofensivo e desandaram a marcar gols e distribuir assistências. Somados, têm 16 tentos e 18 passes para gols.

Frimpong, rápido e habilidoso, quase sempre está bem colocado à linha lateral direita, dando a amplitude necessária ao estilo de jogo de Alonso (algo que deve ter aprendido muito bem quando foi treinado por Pep Guardiola, no Bayern de Munique), mas Grimaldo, melhor passador, tem liberdade para flutuar para dentro em alguns momentos e brilha como nunca, recebendo uma inédita (e merecida) convocação para Seleção Espanhola.

Guardiola também deixou um legado importante em Xabi: a necessidade de respeitar a cultura e se comunicar no idioma local. Espanhol nascido no País Basco, deve ter entrado dificuldades, mas aprendeu bem a falar alemão e trazer seriedade ao trabalho – outro fator que ajuda a motivar o grupo de jogadores.

Em Xabi Alonso não há só influência de Guardiola, há muito nele de José Mourinho e Carlo Ancelotti, dupla que trabalhou no Real Madrid, seja pela boa gestão do grupo ou, dentro de campo, pela velocidade e verticalidade que seu time impõe ao atacar. O veloz Boniface (e, em menor escala, Schick) virou uma máquina de gols, potencializado pelos passes mágicos de Florian Wirtz – este, extremamente promissor, recuperando a boa fase após sofrer uma grave lesão no joelho que o tirou 272 dias dos gramados.

O Bayer Leverkusen mostra que não é apenas o time titular que compreende as ideias do técnico, mas também os reservas, que jogaram por praticamente toda a fase de grupos da Liga Europa e, apesar de escalado em um 4-2-3-1, virava um 3-2-5 no momento com a posse de bola, como atuam os principais jogadores. E deu resultado: 100{62c8655f4c639e3fda489f5d8fe68d7c075824c49f0ccb35bdb79e0b9bb418db} de aproveitamento, classificação direta às oitavas de final, desempenho repetido na Copa da Alemanha, na qual estão nas quartas.

Os números na temporada 2023/24 traduzem tudo de absurdo que o hoje líder invicto da Bundesliga (único sem perder nas cinco grandes ligas da Europa) faz: 26 jogos, 23 vitórias e três empates, com 82 gols marcados – média espetacular de 3,15 por partida – e 18 sofridos.

A crença está no grupo de jogadores, que para conquistar a Bundesliga apostam no “jogo a jogo”, como diz Xabi Alonso

Passado um turno completo, o Leverkusen de Xabi Alonso é o líder absoluto da Bundesliga, ocupando essa posição desde a terceira rodada. Soube, como um time supercampeão (que não é), segurar a pressão de um sempre chato Bayern, empatando com o rival em setembro – o confronto decisivo pelo returno acontece em 10 de fevereiro, na BayArena. A vantagem atual é de quatro pontos, mas os Bávaros tem uma partida a menos.

O técnico espanhol, vencedor de tudo na carreira como jogador (Copa do Mundo, Champions League, Eurocopa), busca passar tranquilidade ao grupo de jogadores e adotar o lema ‘jogo a jogo'.

– Não veremos até maio [o campeão da Bundesliga]. Vamos partida a partida. Queremos cumprir o nosso plano e alcançar pequenos objetivos – disse o calmo Alonso, em coletiva, reiterado por seu jogador Granit Xhaka:

– Para um sonho você tem que trabalhar todos os dias. Fim de semana após fim de semana, jogo após jogo. Faremos todo o possível para conseguir isso – disse o suíço.

A crença em Xabi faz total sentido. Pegou um time em frangalhos, transformou em sexto colocado do Campeonato Alemão e semifinalista da Liga Europa na primeira temporada antes de fazê-lo ser o melhor em desempenho na Europa em 23/24. Há muito pelo caminho, bons meses que o testarão e podem mudar, definitivamente, o patamar de sua carreira como treinador – e há gente grande monitorando isso, como Liverpool, Real e Bayern.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
Botão Voltar ao topo