Robinho só foi preso por que mulheres não deixaram o crime ser esquecido
Podcast Papo de Mina debate o papel das jornalistas no desenrolar dos casos de Robinho e Daniel Alves, além do impacto da condenação do ex-jogador para a sociedade
Robinho foi preso pelo crime de estupro e vai cumprir pena de nove anos no Complexo do Tremembé. Após um longo período de impunidade, o ex-jogador, que se refugiou no Brasil para não ter que se entregar à Justiça italiana, é mais um exemplo de que os tempos mudaram. E essa mudança está totalmente ligada ao movimento liderado pelas mulheres, que não deixaram que esse e outros crimes e violências de gênero fossem esquecidas.
No episódio desta semana, o podcast Papo de Minaanalisa o papel das jornalistas no desenrolar dos casos de Robinho e Daniel Alves, além do impacto da condenação do ex-jogador para a sociedade.
— O STJ quis dar uma resposta. O Robinho partiu para o ataque, quis manipular a opinião pública. A defesa deve ter o entendimento que muitas pessoas sequer sabiam que não estava sendo julgado mérito da questão, se ele praticou o estupro ou não. Ele tentou manipular mais ainda a opinião pública a favor dele. E a Alicia Klein (jornalista) trouxe isso em uma coluna dela: ele iria conseguir se não fosse o nosso barulho, de todas as mulheres. Nós nunca estivemos tão unidas. E se não fosse por nós, ele conseguiria manipular a opinião pública. Isso choca. É o que as pessoas pensam, que “é um grande ídolo”, mas não pode ter espaço mais para relevar coisas desse tipo — afirmou Denise Bonfim, editora na Trivela e integrante do podcast.
Um dos pontos mais curiosos da cronologia dos fatos envolvendo o caso de Robinho foi a mudança de postura da própria imprensa na cobertura. É importante relembrar que, em 2020, ele chegou a ser contratado pelo Santos, mas pela repercussão negativa teve seu vínculo suspenso. Isso só foi possível graças à ocupação feminina na imprensa esportiva.
— Há quatro anos, o mundo era tão diferente que é até difícil de acreditar. Quando eu me coloquei contra isso, sofri tantos tipos diferentes de violência e agressão que passa um filme na cabeça só de lembrar. Hoje, acho que as pessoas estão mais convencidas que esse é o certo, de que ele cumpra a pena dele, que ele não jogue futebol, ao menos enquanto não cumprir a pena que cabe a ele — ponderou Anita Efraim, jornalista, comentarista e torcedora do clube alvinegro.
— Se a gente for olhar 10 ano para trás, quantas mulheres estavam no jornalismo esportivo? Três? Sei lá, acho que era por aí. Dava para contar nos dedos de uma mão tranquilamente. Só que o tempo foi passando, e a gente brigando tanto, insistindo tanto, que a gente acabou conseguindo ocupar mais espaços — analisou.
Prisão de Robinho abre precedente importante no Brasil
Daniel Alves pagou R$ 800 mil à Justiça da Espanha como atenuante para diminuição da pena e, na última semana, foi estipulada uma fiança de 1 milhão de euros (cerca de R$ 5,4 milhões) para que ele aguarde o trânsito em julgado em liberdade. Ambas as situações fazem parte da Constituição do país europeu e fazem parte dos processos legais, ainda que eles sejam dolorosos.
No entanto, o que se viu com o resultado da homologação da pena de Robinho, em solo brasileiro, abre um precedente importante e que traz esperança para futuros casos.
— Ouso dizer que é inédita a situação. Temos a Lei da Migração, que foi utilizada pelo STJ, a fonte pela qual tribunal italiano entrou com o pedido de execução da pena aqui no Brasil. Via de regra, se for seguir o código penal, o código não prevê a execução de uma pena assim. O fato de uma pena assim ter sido homologada pelo STJ, de fato foi algo que eu não esperava. Posso dizer que fiquei surpresa — afirmou a Dr.ᵃ Juliana Saraiva, advogada criminalista, especialista em casos de violência contra a mulher.