Seleção brasileira foi ridícula ao descumprir protocolo e não vestir agasalho do Time Brasil no pódio
Atletas devem vestir o agasalho oficial do comitê olímpico do seu país na cerimônia de premiação e seleção brasileira masculina descumpriu acordo

Uma das cenas mais importantes da Olimpíada é o momento que o atleta recebe a medalha. É um momento de glória e há um protocolo que todos devem cumprir: o atleta deve estar com o agasalho do comitê olímpico do seu país. Todos os atletas brasileiros que ganharam medalha fizeram isso, de Rayssa Leal e Rebeca Andrade a Isaquías Queiroz. Menos a seleção brasileira de futebol masculino ao receber a medalha de ouro após a vitória contra a Espanha neste domingo. A CBF orientou os atletas a amarraram o agasalho na cintura. Assim, descumpriram um acordo estabelecido com todos que vão à Olimpíada. O COB afirmou que vai à Justiça contra a CBF pela atitude.
O agasalho do Time Brasil é da Peak, empresa chinesa com contrato de fornecimento de material esportivo no COB. A CBF, que comanda a seleção brasileira de futebol, tem contrato com a Nike. Isso não é problema e acontece em várias outras modalidades. Durante as disputas, os atletas podem vestir o uniforme do patrocinador da sua confederação, mas no pódio precisam vestir o uniforme do Time Brasil.
O skate e o atletismo, por exemplo, têm contrato com a Nike e vestem esse uniforme durante as competições; o judô usa material da Mizuno; o vôlei tem contrato com a Asics; a ginástica com a GK; a natação tem vínculo com a Speedo; entre tantos outros. Na hora do pódio, porém, é obrigatório vestir o uniforme do Time Brasil, da Peak. Todos que receberam medalhas fizeram isso. A seleção masculina de futebol, orientada pela CBF, tentou driblar a regra com o agasalho na cintura e fizeram pouco caso da orientação dos voluntários.
Segundo Demétrio Vecchioli, do UOL, a discussão sobre isso acontecia há dias. A CBF queria levar a Nike, sua patrocinadora, ao pódio. Bateu o pé para fazer isso, algo que, segundo o COB, é vetado pelo Comitê Olímpico Internacional, o COI. O descumprimento poderia gerar punição ao Time Brasil, ou seja, ao COB, e não à confederação de quem descumpriu, a CBF. Por isso, formalmente o COB já tinha feito o pedido para que a CBF fizesse o que fez. Uma atitude como essa reforça um ranço que muitos têm do futebol masculino na Olimpíada por ser soar como alienado, distante do esporte olímpico, como se não se importasse.
As outras seleções vestiram os agasalhos dos seus comitês olímpicos. No caso da Espanha, o fornecedor esportivo do Comitê Olímpico Espanhol é a Joma, enquanto o fornecedor da seleção espanhola é a Adidas. Os jogadores vestiram o agasalho da Joma, sem problemas. Não o Brasil. A CBF ignorou o protocolo e a empresa que é a patrocinadora do esporte olímpico brasileiro. Protocolo que tinham obrigação contratual de cumprir.
Isso pode virar um problema sério para o COB, que pode sofrer um processo da Peak por descumprimento de um contrato que os próprios atletas se comprometem a cumprir quando vão à Olimpíada. Criou uma saia justa entre o COB e a Peak e é difícil imaginar que isso foi por acaso. Até porque os atletas foram instruídos no caminho do pódio a vestirem o uniforme. Os organizadores japoneses chamaram a atenção dos jogadores para isso, que foram solenemente ignorados. Havia outra orientação, vinda da CBF, para que a Nike ganhasse espaço.
A atitude é mesquinha e ridícula. Falta senso coletivo. Foi uma situação em que o futebol masculino reforçou uma sensação que não liga para nada do esporte olímpico brasileiro, ou não faz parte dele. A CBF preferiu valorizar o seu próprio patrocinador a seguir o protocolo e as regras do Time Brasil e da Olimpíada e deram de ombros para o esporte olímpico brasileiro.
É uma atitude condenável, porque a Peak patrocina todos os esportes olímpicos brasileiros, o que inclui fornecimento de material para as modalidades e/ou atletas que não tiverem contratos com outra marca esportiva. É o que acontece com o boxe, por exemplo, que usa todo o material da Peak, a canoagem, de Isaquías Queiroz, o levantamento de peso, o pentatlo moderno, tênis de mesa e tiro com arco. Você pode ver todos os fornecedores das delegações que foram a Tóquio pelo Time Brasil nesta matéria do Poder 360.
Ao esconder a marca do Time Brasil, o futebol masculino privilegia o próprio patrocinador, quebra um protocolo estabelecido e previamente acordado, e que só interessa à CBF. É, além de tudo, antiprofissional. Porque isso joga contra o esporte brasileiro, que fica com mais dificuldade de negociar um acordo de fornecimento esportivo se os próprios atletas não cumprem o mínimo que é acordado.
Esse problema não aconteceu na Rio 2016, porque lá o contrato do COB para o Time Brasil era com a Nike, mesma fornecedora do material esportivo da CBF. Não houve problemas. Desta vez, o futebol se colocou acima das outras modalidades descumprindo algo simples sem qualquer motivo justificável.
Richarlison divulgou uma carta linda ao Time Brasil, falando com atletas olímpicos e com o povo brasileiro. Faltou à CBF o pensamento coletivo, respeitar um protocolo que todos os atletas cumprem. Parece um pensamento mesquinho e pequeno de uma federação que se mostra enorme apenas no orçamento. No pensamento, é minúscula. Isso não deveria acontecer. A CBF precisa ser cobrada por isso. Até a Nike deveria dar esclarecimentos se tem participação nisso. Porque ela pode não ser patrocinadora agora do COB, mas já foi, como em 2016, e patrocina outras dezenas de países. Certamente não gostaria que uma confederação passasse por cima de um acordo assim.