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Seja na África, Ásia ou Europa: casos de racismo explodem no futebol e a sensação é que tudo vai piorar

A Copa Africana de Nações, a Copa da Ásia e os campeonatos nacionais protagonizam cenas lamentáveis de racismo dentro e fora de campo

Janeiro ainda nem acabou, mas 2024 já começou com casos e mais casos de racismo no futebol. O novo ano trouxe velhos preconceitos para dentro – e fora – de campo. Em meio às disputas da Copa Africana de Nações, da Copa da Ásia, e dos próprios campeonatos nacionais, os casos de discriminação racial explodiram no futebol. E a sensação é que tudo vai piorar se ações efetivas não forem tomadas.

Seja na África, na Ásia ou na Europa – sem excluir as Américas e a Oceania, que também não passam batidas -, as cenas lamentáveis de racismo se tornaram comuns nos últimos dias na comunidade no futebol. Chancel Mbemba, capitão da RD Congo, Mike Maignan, goleiro do Milan, e Zion Suzuki, arqueiro do Japão, são apenas algumas das vítimas de preconceito.

(Alguns dos) casos de racismo no futebol no início de 2024

Mbemba é atacado nas redes sociais

No empate entre RD Congo e Marrocos por 1 x 1 no último domingo (21), pela 2ª rodada do Grupo F da CAN, que está sendo disputada na Costa do Marfim, Mbemba foi atacado nas redes sociais. O zagueiro do Olympique de Marseille viu seu perfil no Instagram ser tomado por comentários de teor preconceituoso, além de emojis de gorila e macaco.

Além disso, o capitão dos Leopardos deu a entender que foi insultado por Walid Regragui, técnico do Marrocos. Chancel Mbemba estava ajoelhado dentro de campo em um momento de agradecimento após o apito final quando foi abordado pelo treinador rival. Pensando que o comandante marroquino queria cumprimentá-lo, o zagueiro congolês estendeu sua mão de forma amigável.

Contudo, Regragui não soltou a mão de Mbemba e disse alguma coisa para ele, o que rendeu uma reação furiosa na tentativa de se desvincilhar do técnico dos Leões dos Atlas. Por conta disso, uma confusão entre as duas seleções acabou se estendendo até o túnel que liga o estádio aos vestiários.

A Federação Congolesa de Futebol prometeu que iria acionar as autoridades disciplinares da Confederação Africana de Futebol referente ao racismo sofrido por Chancel Mbemba, classificando o episódio de discriminação racial como uma atitude antidesportiva.

Suzuki sofre preconceito racial

Zion Suzuki sofreu preconceito racial após a vitória sobre Vietnã (4 x 2), no dia 14 de janeiro, e a derrota do Japão para o Iraque (2 x 1), na última sexta-feira (19). O goleiro de 21 anos nasceu no Arkansas, Estados Unidos, e é filho de um pai ganês-americano e uma mãe japonesa. O jovem arqueiro apresentou erros nos gols de ambas partidas da Copa Asiática, porém, acabou sendo vítima de racismo também em suas redes sociais.

Por conta disso, Suzuki desativou os comentários de suas publicações. O técnico dos Samurais Hajime Moriyasu usou sua entrevista coletiva para declarar que estava “envergonhado e chocado” com o racismo sofrido pelo goleiro, deixando claro que iria dar “todo o apoio” antes da decisão da seleção japonesa no Grupo D da Copa da Ásia, oned enfrentará a Indonésia precisando pelo menos empatar para se classificar:

“Acho que isso (racismo) não pode acontecer de forma alguma. Eles deveriam respeitar os direitos humanos, isso não pode acontecer num mundo diverso. Vivemos numa sociedade onde essas coisas acontecem, mas, através do futebol, temos que nos unir”, disse Moriyasu.

O arqueiro do Japão está emprestado ao Sint-Truiden, da Bélgica, cedido pelo Urawa Red Diamonds, de seu país natal. Recentemente, Zion Suzuki entrou na mira do Manchester United. Em pronunciamento após ser vítima de racismo na Copa Asiática, o goleiro dos Samurais avisou aos preconceituosos que “não vai deixar” se vencer pelo caso de discriminação racial.

Maignan é vítima de discriminação

Na Itália, Maignan também foi vítima de discriminação durante a vitória do Milan por 3 x 2 sobre a Udinese, no sábado (20), pela Serie A. O arqueiro dos Rossoneri avisou ao árbitro que ouviu barulhos de macaco vindo das arquibancadas atrás de seu gol.

Por conta disso, a partida chegou a ser brevemente interrompida, pois o goleiro francês, visivelmente abalado, retirou suas luvas e caminho em direção ao túnel que liga aos vestiários do estádio. Mike Maignan acabou retornando aos gramados para dar sequência ao jogo, mas não escondeu sua indignação com mais um caso de racismo no futebol:

“Isso não deveria existir no mundo do futebol, mas infelizmente há muitos anos, é algo recorrente. Todos temos que reagir, temos que fazer alguma coisa porque não se pode jogar assim”, Maignan.

O que a Fifa diz a respeito do racismo no futebol?

Diante dos inúmeros casos recentes de racismo no futebol, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, demonstrou seu apoio às vítimas, no que parecia ser mais uma nota de repúdio que levaria a lugar nenhum. Contudo, ele elevou o tom em comunicado divulgado em seu perfil, defendendo a derrota automática dos times cujos torcedores protagonizarem cenas de preconceito racial:

“Além do processo de três etapas (partida interrompida, partida interrompida novamente e partida abandonada), nós temos que implementar a derrota automática para o time cujos torcedores cometeram racismo e causaram abandono da partida, bem como banimento mundial de estádios e acusações criminais para racistas”, Infantino.

Agora, resta saber se a medida punitiva realmente entrará em vigor. Fato é que o racismo não pode ter vez em lugar nenhum da sociedade, o que inclui o futebol. Se os preconceituosos se recusam a mudar de comportamento, ações efetivas se mostram mais do que necessárias para coibir qualquer tipo de preconceito. E não somente algo escrito no papel ou nas telas dos dispositivos.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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