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O Shakhtar Donetsk retomou a taça na Ucrânia, num campeonato simbólico em meio à guerra

O Shakhtar Donetsk conquistou mais uma edição do Campeonato Ucraniano, com a competição realizada mesmo com o país em guerra

O Shakhtar Donetsk conquistou o seu 14° título pelo Campeonato Ucraniano neste final de semana, mas nenhum outro possui o simbolismo da nova taça. Com a liga retomada mesmo em meio à guerra, os Mineiros conseguiram provar sua força independentemente das limitações e dos talentos perdidos no mercado de transferências. Não seria uma campanha tão simples para o Shakhtar, que sofreu a ameaça do Dnipro-1 durante parte da caminhada. Apesar disso, na reta final, os multicampeões impuseram sua força e confirmaram o primeiro troféu em três anos – após o título do Dynamo Kiev em 2021 e o cancelamento do torneio em decorrência da invasão russa em 2022.

Por causa da guerra, o Campeonato Ucraniano se concentrou principalmente nos estádios localizados a oeste do território, sobretudo em Kiev e Lviv. Além disso, existia um protocolo de segurança a se seguir. Não foram raras as ocasiões em que as partidas precisaram ser interrompidas por conta de alarmes ou mesmo adiadas. Apesar disso, a realização da liga era vista como algo importante para a retomada da sociedade local. Os jogos foram naturalmente realizados sem público, enquanto as partidas por competições internacionais continuaram levadas para países vizinhos.

Desde o estouro da guerra, o Shakhtar lidou com a saída de vários de seus principais jogadores, sobretudo os brasileiros. Nomes como David Neres, Dodô e Tetê procuraram novos destinos. O elenco para a atual temporada se concentrou em talentos ucranianos, em especial Mykhaylo Mudryk. No entanto, o impacto que o ponta causou na fase de grupos da Champions League também culminou em sua venda para o Chelsea. O técnico Igor Jovicevic, que substituiu Roberto De Zerbi, tem grandes méritos pela maneira como contornou os problemas.

O Shakhtar assumiu a liderança ainda no primeiro turno, com uma sequência invicta que durou 13 partidas, incluindo dez vitórias. O problema é que o Dnipro-1 fazia uma campanha equivalente e assumiu a primeira posição em novembro, pouco antes da Copa do Mundo, com a vitória por 2 a 1 no confronto direto. Desde então, o Shakhtar deslanchou e só soube o que era vencer. Consolidou a primeira colocação com 12 vitórias nas 15 partidas seguintes, enquanto o Dnipro-1 perdeu fôlego. O título se confirmou exatamente na revanche, com a vitória do Shakhtar por 3 a 0 sobre os vice-líderes neste domingo. Artem Bondarenko, Danylo Sikan e Taras Stepanenko anotaram os gols. O jogo ainda terminou em confusão, com dois expulsos para cada lado.

O resultado deste domingo deixou o Dnipro-1 oito pontos atrás do Shakhtar, restando apenas mais uma rodada para a conclusão da liga. A equipe soma 64 pontos, igualada ao Zorya Luhansk. Ambos disputam a segunda vaga às preliminares da Champions, enquanto o terceiro colocado vai à Liga Europa. Já o Dynamo Kiev ficou na quarta posição e terá que se contentar com a Conference League. Foi uma temporada conturbada, em que o técnico Mircea Lucescu precisou deixar o cargo em abril para se submeter a uma cirurgia.

Não há como dissociar a boa temporada do Shakhtar e o ótimo trabalho realizado pelo técnico Igor Jovicevic. O croata também foi capaz de uma campanha heroica na Champions, com a terceira colocação do grupo, e a caminhada até as oitavas de final da Liga Europa – apesar dos 7 a 1 sofridos contra o Feyenoord. Mesmo com a missão dura de substituir Roberto De Zerbi, Jovicevic teve extrema sensibilidade para conduzir os Mineiros com todas as limitações ao redor.

Dentro de campo, muitos jogadores jovens assumiram o protagonismo no Shakhtar. Nomes como o centroavante Danylo Sikan, o meia Artem Bondarenko, o meia Georgiy Sudakov e o goleiro Anatoliy Trubin estiveram entre os melhores do time, mesmo sem passar dos 22 anos. O volante Taras Stepanenko e o zagueiro Yaroslav Rakitskyi foram as referências de outros tempos, enquanto o veteraníssimo goleiro Andriy Pyatov segue no banco. Só seis estrangeiros compuseram o elenco, com destaque ao lateral brasileiro Lucas Taylor e ao atacante burquinense Lassina Traoré.

O Shakhtar Donetsk confirma seu lugar na fase de grupos da Champions League, com o título. A competição segue importante não apenas pelas possibilidades competitivas e pelo dinheiro que agrega, mas também pela visibilidade que oferece aos ucranianos em meio à guerra. De novo, os Mineiros deverão servir de símbolo ao seu país dentro dos gramados. Uma boa campanha também poderá garantir novos saltos aos talentos que surgem no clube, mesmo em condições tão extremas.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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