Copa da Rússia tem problemas mais sérios que o calor
Dificilmente a Fifa conseguira ter escolhido dois países mais complicados para receber as próximas edições da Copa do Mundo. Depois de uma centena e meia de polêmicas envolvendo o Catar, sede de 2022, que vão de calor a acusações de trabalho escravo, a Rússia também começa a enfrentar problemas. O racismo causou uma ameaça de boicote realizada por um dos principais jogadores do Manchester City.
O clube inglês foi para Moscou jogar contra o CSKA. O meia Yaya Touré, capitão do time na ausência de Vincent Kompany, alega ter sido alvo de ofensas racistas da torcida russa durante o jogo inteiro. Ele relatou o caso ao árbitro Ovidiu Hategan, que não fez nada, além de relatar na súmula – e está sendo criticado por isso. Pelo novo regulamento, o romeno deveria ter paralisado o jogo e pedido pelo sistema de som da Khimki Arena que os torcedores parassem com os gritos.
Touré foi perguntado se a Rússia deveria resolver seus problemas de racismo antes do Mundial. “Claro que sim. É muito importante. Se não nos sentirmos confiantes, não vamos vir para a Copa do Mundo da Rússia”, afirmou. Ficou feio para a Uefa, que está investigando o caso, porque o período entre 15 e 27 de outubro foi declarado como a 10ª Semana de Ação Contra o Racismo no Futebol da Europa.
“Eu sei que estamos lutando contra o racismo, mas não somos crianças e precisamos que isso acabe imediatamente. A Uefa tem que reagir. Quero parar isso. É sempre a mesma coisa. Estou triste porque a reação dos torcedores foi inacreditável. Houve na Ucrânia (Touré começou a carreira no Metalurh Donetsk), mas eram duas, três pessoas, não grupos como esses. Sempre dizemos que vai haver ações, blá, blá, blá, coisas assim, mas precisamos fazer alguma coisa mesmo. Espero que ela (a Uefa) faça alguma coisa, suspenda o clube ou o estádio por dois anos”, sugeriu.
O CSKA Moscou negou as ofensas dos seus torcedores e emitiu um comunicado no qual o atacante Seydou Doumbia, companheiro de seleção marfinesa de Touré, afirma que o colega está “claramente exagerando”.
O Comitê Organizador Local respondeu imediatamente. Lembrou que todos os acionistas do futebol russo deixaram claro que não há espaço para nenhum tipo de discriminação no país e que o futebol está em “posição única” para educar os torcedores a combater esse problema global. “A Copa de 2018 particularmente pode servir como um catalisador para mudar mentes e comportamentos ao redor do futebol russo nos próximos quatro anos”, disse um comunicado.
O Mundial de Atletismo de Moscou já foi polêmico por causa de uma legislação que proíbe qualquer tipo de propaganda homossexual para menores. Até a Yelena Isinbayeva apoiou. Por outro lado, as russas Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova beijaram-se no pódio do revezamento 4×400 metros. A sueca Emma Green-Tregaro competiu com as unhas pintadas nas cores do arco-íris.
Esse preconceito começou uma conversa sobre um possível boicote à Olimpíada de Inverno de 2014, em Sochi. Agora, o racismo atrapalha a Copa do Mundo de 2018. Se o calor, mais até do que as acusações de trabalho escravo, ameaçam tirar a Copa de 2022 do Catar, a Fifa precisa tomar uma posição firme em relação ao racismo na Rússia, país que não parece pronto para sediar eventos esportivos.