Leste Europeu

A última dança: há 30 anos o CSKA Moscou surpreendia ao vencer o derradeiro título soviético

O CSKA Moscou encerrou um jejum de 21 anos e superou inclusive uma tragédia no último título soviético

A derradeira temporada do campeonato de futebol da União Soviética conheceu seu campeão há exatos 30 anos. Num contexto de desmonte do regime socialista (tanto do ponto de vista geopolítico quanto do econômico) que levaria à dissolução do país, quem surpreendeu ao levar a melhor naquele canto do cisne da competição foi a coesa equipe do CSKA Moscou, resgatada da segunda divisão dois anos antes pelo técnico Pavel Sadyrin para quebrar um jejum nacional que já durava três décadas. E tendo de enfrentar até o luto no meio do caminho que a conduziu à glória congelada no tempo.

Os anos de ouro

Fundado em 1911 como a seção de futebol dentro de um clube de esqui, o CSKA foi absorvido pelo exército soviético no fim da década seguinte. Mas nas primeiras edições da liga nacional, entre 1936 e 1941 (quando da interrupção dos jogos em meio à entrada do país na Segunda Guerra Mundial), a equipe registrou alguns resultados um tanto modestos, chegando a terminar na lanterna no certame de 1937. Após o fim do conflito, porém, os moscovitas se converteriam na equipe mais poderosa do país.

Conduzido pelos talentos do goleador Grigory Fedotov e do técnico Boris Arkadiev, o CSKA (então denominado CDKA e mais tarde CDSA) enfileirou conquistas. Venceu cinco das seis edições do campeonato soviético entre 1946 e 1951, terminando como vice-campeão atrás do Dínamo de Moscou em 1945 e 1949. E faturou ainda a copa nacional por três vezes, em 1945, 1948 e 1951. Assim, o status de potência avassaladora fez do time a base da seleção soviética de futebol nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952.

Foi sua perdição. Aquele torneio marcava a primeira participação da União Soviética numa grande competição de seleções. E após eliminar a Bulgária com certa dificuldade na fase preliminar, ela teria pela frente a Iugoslávia, num duelo que transcendia as quatro linhas e ganhava inescapáveis contornos políticos: quatro anos antes os líderes das duas nações socialistas, Josef Stalin e Josip Broz, “Tito”, haviam rompido, levando os balcânicos a adotarem seu próprio modelo do regime, fora da órbita soviética.

No primeiro jogo, os iugoslavos chegaram a abrir 5 a 1, mas os soviéticos foram buscar um incrível empate em 5 a 5. Dois dias depois, as equipes voltaram ao estádio Ratina, em Tampere, e a União Soviética chegou a abrir o placar, mas não resistiu e cedeu a virada, perdendo por 3 a 1. A queda, considerada politicamente desastrosa, teve consequências duríssimas para o CDSA: foi expulso da liga e em seguida dissolvido. E Arkadiev, que também comandava a seleção, teve retirado seu título de Mestre dos Esportes.

Comenta-se que as medidas extremas teriam sido tramadas nos bastidores por Lavrentiy Beria, chefe da KGB (o serviço secreto soviético) e presidente honorário do Dínamo, então o maior rival do CDSA no cenário nacional. Mas o clube renasceria em 1954, o ano seguinte à morte de Stalin, por obra do ministro da Defesa, Nikolai Bulganin. Porém, pelo resto da existência da União Soviética, nunca mais voltaria a ser tão hegemônico no país quanto havia sido naqueles primeiros anos após a Segunda Guerra.

O CSKA Moscou campeão em 1970

Entre 1951 e 1991, o CSKA só levantaria um título da liga: o de 1970, ao superar o Dínamo em dois jogos-desempate disputados em dias consecutivos em Tashkent, no Uzbequistão. Após um 0 a 0 na primeira partida, o clube do exército venceu o segundo numa virada incrível por 4 a 3 depois de estar em desvantagem por 3 a 1. A conquista rendeu a primeira participação em um torneio continental, a Copa dos Campeões de 1971/72, na qual eliminou o Galatasaray e caiu nas oitavas diante do Standard Liège.

O declínio e a queda

De 1971 em diante, no entanto, o clube viveria um prolongado declínio, acostumando-se a ficar abaixo do décimo lugar na liga. Até culminar na campanha fraquíssima que levou ao seu primeiro rebaixamento em 1984: o CSKA foi o lanterna num torneio com 18 equipes, vencendo apenas cinco de seus 34 jogos, tendo o pior ataque da competição (24 gols) e somando parcos 19 pontos, seis a menos que o penúltimo colocado (e também rebaixado) Pakhtakor Tashkent. Teria início uma das piores fases de sua história.

O CSKA viveu um período de “clube ioiô”: depois de perder a chance do retorno imediato ao ficar em terceiro num quadrangular de acesso e descenso disputado entre novembro e dezembro de 1985, o CSKA levaria o título da segunda divisão em 1986. Mas essa nova passagem pela elite duraria uma única temporada, ao terminar na penúltima colocação em 1987, seguindo o caminho de volta à segundona juntamente do mesmo Guria Lanchkhuti com quem compartilhara o acesso na campanha anterior.

Aquela queda teve ares anedóticos. Vigorava na época a esdrúxula regra do “limite de empates”, instituída pela federação para tentar coibir os resultados arranjados. Segundo ela, cada time só poderia empatar até dez partidas. A partir da 11ª, o ponto não seria mais contabilizado. Quando recebeu o Zenit, na penúltima rodada, em duelo direto contra o rebaixamento, o CSKA já somava sua dezena de igualdades, contra apenas nove do rival. E no confronto de ida, em Leningrado, o Zenit havia vencido por 1 a 0.

O empate em 1 a 1 em Moscou decretou a queda do CSKA, que ainda venceria o Kairat Almaty por 2 a 0 na última rodada, ao passo que o Zenit seria batido pelo Dínamo (2 a 1) na capital. Com esses resultados e sem os descontos da regra do limite de empates, o clube do exército teria terminado com 25 pontos, um a mais que o de Leningrado – e, portanto, salvo da degola. Com o ponto descontado, acabou com os mesmos 24 do rival, ficando em desvantagem no critério de desempate pelo confronto direto.

O CKSA Moscou de 1991

Em 1988 mais uma vez o CSKA perderia a oportunidade de retorno imediato à categoria principal ao terminar em terceiro na segunda divisão, um ponto atrás do Rotor Volgogrado e dois do Pamir Dushanbe, ambos promovidos. O fracasso motivou mudanças no comando: o veterano Sergei Shaposhnikov – que substituíra Yuri Morozov enquanto este ocupava o cargo de auxiliar de Valery Lobanovski na seleção – foi demitido, e o clube buscou seu novo treinador em um pequeno clube ucraniano da terceira divisão.

Pavel Sadyrin dirigia então o Kristall Kherson, mas suas carreiras de jogador e treinador tinham sido sempre ligadas ao Zenit. Como meio-campo, fez mais de 300 jogos pelo clube de Leningrado em um período de dez anos, entre 1965 e 1975. Algum tempo após pendurar as chuteiras, seguiu por lá e logo se tornou auxiliar do mesmo Yuri Morozov, assumindo o cargo de treinador em 1983. No ano seguinte, enquanto o CSKA amargava seu primeiro descenso, Sadyrin levava o Zenit a um então inédito título soviético.

O prestígio do técnico em São Petersburgo, no entanto, começaria a ficar abalado no início de novembro de 1985, com a eliminação tida como vexatória do Zenit para o finlandês Kuusysi Lahti na Copa dos Campeões ainda nas oitavas de final. O desgaste no relacionamento com os atletas pouco a pouco também minaria seu trabalho, que chegaria ao fim em julho de 1987, com o Zenit brigando contra a degola – da qual se salvaria às custas do CSKA, em mais um momento no qual os destinos dos dois clubes se cruzaram.

O jovem Sadyrin diferia muito do perfil comum dos treinadores soviéticos, rígidos e carrancudos, obcecados com disciplina e hierarquia e colocando o sistema de jogo e a repetição de situações acima da expressão individual. Gentil, aglutinador, por vezes brincalhão, mas sempre sincero no trato com os atletas, o técnico foi bastante direto ao se apresentar, no início de 1989: “Quem quiser pode ir embora, não vou segurar ninguém. Com quem ficar, vamos tentar subir esse ano. Se gostarem, continuaremos a trabalhar”.

Novos ventos no Leste

Sob seu comando havia um elenco jovem e promissor, mas que sofria com a instabilidade a qual o clube atravessava naqueles anos – algo também vivido pelo país naquela década. Perdendo terreno no contexto da Guerra Fria, em especial após as mortes de três chefes de Governo num curto espaço de tempo – Leonid Brejnev (novembro de 1982), Yuri Andropov (fevereiro de 1984) e Konstantin Chernenko (março de 1985) – a União Soviética tentou uma cartada revigorante ao apontar Mikhail Gorbachev como novo líder.

As reformas orientadas à abertura política e econômica do país promovidas por Gorbachev (como as famosas “perestroika” e “glasnost”) impulsionaram, entretanto, a deflagração de movimentos separatistas em várias das repúblicas que compunham a união a partir do fim de 1986. Esses atos se intensificaram ao longo de 1987 e mais ainda em 1988, sendo mais expressivos nas repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) e, com violência, nas do Cáucaso, em especial na Geórgia. E prenunciariam o desmantelamento do país.

Em novembro de 1988, a Estônia se declararia soberana em relação à União Soviética, sendo seguida em 1989 por Lituânia (em maio) e Letônia (em julho). E a partir de março de 1990 viriam as declarações unilaterais de independência, iniciadas pelos lituanos – ainda que só reconhecidas pelo governo central soviético em setembro do ano seguinte. Naturalmente, o impacto daquelas transformações também alcançaria o futebol soviético, cuja dissolução também começaria pelas repúblicas bálticas e pela Geórgia.

As mudanças tiveram início na virada de 1989 para 1990 quando os clubes georgianos deixaram a federação soviética para se filiarem à da nova nação independente. Logo eles seriam seguidos pelas equipes das repúblicas bálticas – que num primeiro momento organizaram um torneio “tampão”, a Liga Báltica. Com isso, as retiradas do lituano Zalgiris Vilnius e dos georgianos Dinamo Tbilisi e Guria Lanchkhuti (este, recém-promovido) reduziram de 16 para 13 o número de clubes na primeira divisão soviética em 1990.

O capitão Dmitri Kuznetsov e o técnico Pavel Sadyrin

O número original retornaria em 1991 com a promoção dos três primeiros colocados da segunda divisão (Spartak Vladikavkaz, Pakhtakor Tashkent e o estreante Metalurh Zaporizhzhia), mais a do Lokomotiv Moscou, vencedor do playoff de acesso/descenso contra o Rotor Volgogrado, lanterna da divisão de elite em 1990. Assim, no mapa da bola da última edição do campeonato, eram seis as repúblicas representadas entre as 16 equipes da primeira divisão. Destas 16, entretanto, nada menos que 12 eram russas ou ucranianas.

Além das consequências geopolíticas da abertura do regime, o futebol também sentiu o impacto econômico. A venda do meia Sergei Shavlo pelo Torpedo Moscou ao Rapid Viena em junho de 1987 foi um marco: era a primeira transferência de um atleta soviético para além da chamada Cortina de Ferro. E a debandada se intensificaria após a Eurocopa de 1988, com a saída de astros como o goleiro Rinat Dasaev (do Spartak Moscou ao Sevilla) e o meia-atacante Aleksandr Zavarov (do Dinamo Kiev para a Juventus).

Dentro de um ano e meio após aquele torneio de seleções (na qual a União Soviética seria vice-campeã), nada menos que 19 dos 20 convocados já haviam se transferido não só para clubes de Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha (Ocidental) e França, como também Escócia, Suécia, Grécia, Turquia e Israel. O único a não ter deixado o país até aquele momento – o veterano lateral Anatoli Demianenko – o faria já em 1991, ao trocar o Dynamo Kiev pelo ex-alemão-oriental Magdeburgo, numa Alemanha agora reunificada.

O resgate dos “Koni”

O impacto da chegada de Pavel Sadyrin ao CSKA foi imediato: o time fez valer todo o seu potencial represado e nadou de largas braçadas na segunda divisão em 1989, conquistando o acesso e o título com folga e tendo ainda o goleador do certame em Valeriy Masalitin, autor de expressivos 32 gols. E o embalo seguiu por 1990, numa campanha na elite que foi além de consistente: a equipe surpreendeu ao brigar pelo título, ponteando a tabela por várias rodadas, especialmente na primeira metade da competição.

Naquela campanha, os Koni (“cavalos”, apelido do clube) largaram goleando o Shakhtar Donetsk por 4 a 0 e a oito rodadas do fim da competição tinham desempenho muito bom, dividindo a liderança com o Dynamo Kiev e somando nove vitórias e apenas duas derrotas nos 16 jogos até ali. Mas uma derrota por 4 a 0 sofrida na visita ao Ararat precipitou a queda brusca de rendimento que nem mesmo a goleada arrasadora de 7 a 0 sobre o Rotor Volgogrado (a maior do campeonato naquele ano) conseguiu estancar.

Na antepenúltima rodada, o CSKA foi a Kiev e acabou batido por 4 a 1 pelo Dynamo, no jogo que garantiu matematicamente o título aos ucranianos. Os moscovitas, entretanto, venceriam suas duas últimas partidas e terminariam num honroso segundo lugar, sua melhor colocação desde a conquista de 1970 – e a primeira vez que o clube terminava naquela posição desde 1949. Mesmo mantendo a mesma base do ano anterior, praticamente sem reforços, os Koni de Pavel Sadyrin retornavam para brigar no topo.

Embora, ao contrário do perfil comum dos treinadores soviéticos das gerações anteriores, Sadyrin não utilizasse esquemas rígidos, a disposição tática de seu time era bastante semelhante ao que se tornara o padrão do futebol do país nos anos 1980, com um líbero atrás de uma linha de três defensores (dois laterais – geralmente um mais apoiador e outro mais contido – e um zagueiro central), um volante distribuidor, dois meias de lado e um ponta-de-lança ligando o meio ao ataque e municiando a dupla de frente.

O CSKA Moscou posado

Não havia, porém, uma equipe de 11 titulares bem definidos, uma vez que alguns atletas podiam desempenhar mais de uma função, fazendo com que outros nomes circulassem pela escalação. De todo modo, os nomes mais frequentes na escalação começavam pelo goleiro Mikhail Yeremin, um dos nomes mais promissores daquele time: alto sem perder a agilidade e os ótimos reflexos, um líder do elenco apesar da pouca idade (apenas 23 anos), foi apontado por Lev Yashin como um futuro melhor do mundo na posição.

Na defesa, o líbero costumava ser Dmitri Bystrov, trazido do Lokomotiv em 1986, atuando atrás do central Sergei Fokin, um dos mais veteranos do elenco, prestes a completar 30 anos ao início daquela temporada de 1991. No clube desde 1984, o zagueiro havia integrado como reserva as seleções soviéticas que disputaram os Jogos Olímpicos de Seul em 1988 (levando o ouro ao bater o Brasil na final) e a Copa do Mundo de 1990, na Itália (caindo ainda na primeira fase, com arbitragens bastante controversas).

O lateral-direito era Dimitri Galiamin, o jogador há mais tempo no clube, ao qual se juntara em 1981, vindo de uma curta passagem pelo Spartak, no qual sequer chegou a atuar pela liga. Sólido na defesa e competente no apoio. Já sua contraparte pelo lado esquerdo era Sergei Kolotovkin, um dos vários nomes do elenco a ter passagem pelo Zenit, onde já havia trabalhado com Sadyrin. Outra peça utilizada com frequência no setor era o versátil Oleg Malyukov, lateral e zagueiro vindo do Pamir Dushanbe em 1986.

No quarteto do meio-campo, um jogador com lugar cativo era o meia-esquerda Valery Broshin, o maestro do setor e que também liderara o Zenit rumo ao título de 1984, pouco antes de se desentender com Pavel Sadyrin e seguir para o CSKA. A relação entre atleta e treinador, porém, foi recuperada ao se reencontrarem em Moscou, fazendo o armador se destacar a ponto de ser convocado pela seleção para a Copa do Mundo de 1990. No ano seguinte, ele atuaria em todas as partidas da liga pelo CSKA.

Outro nome certo, ainda que flutuando por várias posições, era o do capitão Dimitri Kuznetsov, meia polivalente que podia atuar como volante, armador pelo lado direito ou até na defesa, no miolo de zaga ou na lateral direita, sempre com a mesma eficiência e liderança. E apesar de atuar em posições em geral defensivas, era um jogador com boa chegada ao ataque: seria nada menos que o artilheiro da equipe com 12 gols na campanha vitoriosa de 1991. Era ainda um dos nomes há mais tempo no elenco: desde 1984.

Outro titular na faixa central do setor, fosse mais recuado ou mais avançado, era o dinâmico e talentoso Igor Korneev, um dos mais jovens da escalação (23 anos ao início da campanha). Havia ainda o meia-direita Mikhail Kolesnikov, que só atuou pelo CSKA em toda a carreira, e o talentoso, porém um tanto rebelde Vladimir Tatarchuk, campeão olímpico em 1988 nos Jogos de Seul e o “quinto titular” do quarteto do meio-campo, podendo atuar tanto pelo lado direito como atrás dos dois atacantes, municiando-os.

Na frente, o titular durante toda a campanha foi Oleg Sergeev, outro entre os mais jovens do time e vindo do Rotor Volgogrado em 1989. Além de jogar no ataque, também sabia fazer a função de ponta-de-lança. De início, seu companheiro de setor era Valery Masalitin, que havia despontado como um goleador imparável, sendo o artilheiro da segunda divisão pelo CSKA em 1989 e agora retornava após rápida passagem pelo futebol da Europa Ocidental, vestindo a camisa do Vitesse no primeiro semestre de 1990.

A disparada no início da campanha

Marcado para se desenrolar entre março e o início de novembro, o campeonato tinha de início seus três maiores vencedores como os favoritos: o Dynamo Kiev (cuja 13ª conquista, em 1990, permitiu se isolar novamente na liderança do ranking dos campeões), o Spartak Moscou (que em 1989 levantara seu 12º caneco) e o Dínamo Moscou (que não vencia a competição desde 1976, mas somava respeitáveis 11 taças). O CSKA, quarto na lista com sua meia dúzia de troféus, corria por fora, tentando surpreender.

Havia, porém, uma grande vantagem pesando em favor dos Koni: a coesão. Sua equipe e elenco eram os mesmos da temporada anterior, ao contrário do trio de camisa pesada que havia sofrido diversas baixas importantes – em especial os ucranianos, que de um ano para outro perderam um punhado generoso de titulares para o futebol da Europa Ocidental. E essa diferença entre um time montado e outros que teriam de se reconstruir ou readaptar a novas realidades foi sentida logo na primeira rodada.

Enquanto o CSKA trucidava um defensivo Metalist Kharkov por 4 a 0 com dois gols de Sergeev, um de Kuznetsov e outro de Korneev, dando-se ao luxo de desperdiçar um pênalti – o goleiro Valery Dudka pegou a cobrança de Korneev – ainda na primeira etapa, o Dínamo Moscou parava num empate em casa com o Shakhtar Donetsk (1 a 1), o Spartak era derrotado por 2 a 1 na visita ao estreante Metalurh Zaporizhzhia e o Dynamo Kiev era humilhado diante de sua torcida ao cair para o Torpedo Moscou por 3 a 1.

Embalado, o time de Sadyrin venceu seus seis primeiros jogos. Na segunda rodada, fez 2 a 1 no Dínamo Moscou no Estádio Olímpico com gol de Korneev nos minutos finais. Na terceira, outra goleada: 5 a 1 no Lokomotiv. Em seguida, um gol de cabeça de Broshin valeu o 1 a 0 fora de casa sobre o Dínamo Minsk. No começo de abril foi a vez de bater o Dnepr, também por 1 a 0, gol de Masalitin. E na sexta partida, um eletrizante 4 a 3 no Chernomorets fez do CSKA um líder ainda mais isolado, numa largada muito forte.

Igor Korneev

Em seus quatro jogos como mandante naquela sequência inicial, o CSKA havia usado seu pequeno estádio coberto com campo de grama sintética para 4 mil torcedores, em virtude dos resquícios do rigoroso inverno do país. Após esse período, o time voltaria a mandar seus jogos no portentoso Estádio Central Lenin (atual Luzhniki), de 81 mil lugares, o qual dividia com o Spartak. Mas, fora de casa, o time perderia seu primeiro ponto na visita ao Shakhtar – num jogo em que poderia ter perdido também a invencibilidade.

Em Donetsk, um bonito gol de Sergei Shcherbakov abriu o placar para os ucranianos e teria dado a vitória aos donos da casa não tivesse o árbitro Rustam Rahimov marcado, nos minutos finais, um pênalti inexistente em Korneev, convertido por Kuznetsov. O jogo seguinte – o clássico contra o Spartak – também teve arbitragem controversa, mas nem ela evitou a derrota do CSKA, que saiu atrás no placar, perdeu um pênalti (outra vez mal marcado) e acabou levando o 2 a 0 em um contra-ataque concluído por Vasily Kulkov.

Após tropeçar em dois jogos seguidos e perder os 100% de aproveitamento e a invencibilidade, o CSKA se recuperou batendo o Ararat em Yerevan por 2 a 1 – mas não sem dificuldade: os locais abriram o placar no começo do segundo tempo e envolveram os visitantes em boa parte do jogo. Mas Sergeev empatou de cabeça e Broshin, em belíssima cobrança de falta, decretou a virada que mantinha os Koni com certa folga na liderança (15 pontos ganhos contra 12 do Shakhtar, que tinha uma partida a mais).

Depois dessa vitória a equipe seguiria uma rotina de empates como visitante intercalados por triunfos como mandante. Um 0 a 0 com o Metalurh Zaporizhzhia foi seguido por um 2 a 1 sobre o Spartak Vladikavkaz. E um 2 a 2 diante do Pamir Dushanbe (no qual o time em desvantagem de dois gols) antecedeu duas tranquilas vitórias por 3 a 1 sobre o Pakhtakor Tashkent e o Torpedo Moscou (contra este, Yeremin ainda defendeu um pênalti). Uma sequência que fez o CSKA abrir frente ainda maior na liderança.

Os Koni somavam 23 pontos em 14 jogos, contra 16 em 13 do vice-líder Shakhtar e 15 em 14 do Ararat, o terceiro colocado, quando enfim foram a Kiev enfrentar o Dynamo (que ocupava apenas a sétima posição) debaixo de chuva torrencial na noite de quarta-feira, 19 de junho. O jogo também marcava a estreia de dois reforços repatriados pelo CSKA na janela de transferências da Europa Ocidental: o zagueiro Viktor Yanushevsky, vindo do Aldershot inglês, e o atacante Sergei Dimitriev, que estava no Xerez espanhol.

Os dois entrariam no segundo tempo de uma partida em que o CSKA abriu o placar com Masalitin, sofreu o empate com Sergei Yuran, desperdiçou um pênalti com o goleiro Igor Kutepov salvando o chute de Kuznetsov, levou a virada num incrível gol contra do mesmo Kuznetsov, mas foi buscar um ponto logo no minuto seguinte graças ao gol de Broshin, definindo a contagem em 2 a 2. Um bom resultado antes de a equipe encarar sua primeira decisão da temporada: a da Copa da União Soviética, diante do Torpedo Moscou.

A conquista seguida do luto

Ao contrário da liga, disputada no correr do ano, a Copa Soviética seguia desde o princípio dos anos 1980 o modelo da Europa Ocidental, de um verão no hemisfério norte a outro. Às vezes até com certo exagero: a edição 1990/91 teve sua primeira fase preliminar, disputada por clubes de divisões inferiores, realizada ainda em abril de 1990, enquanto a final só aconteceria mais de um ano depois, em 23 de junho de 1991. O CSKA, como equipe da elite, entrou na disputa na fase de 16-avos de final, no fim de julho de 1990.

Nessa etapa em que entraram, os Koni não tiveram problemas para superar o Neftyanik Fergana, da terceira divisão, por 5 a 1 no agregado. Nem nas oitavas de final, quando golearam o Dnepr por 4 a 1 em casa na partida de ida e confirmaram a passagem com um 2 a 2 na volta. Nas quartas, disputadas em jogo único e já em março de 1991, a vaga também foi obtida com goleada: 4 a 1 em casa sobre o Dínamo Minsk. E na semifinal, a história se repetiu: um fácil 3 a 0 no Lokomotiv fora de casa colocou o CSKA na decisão.

O Torpedo, adversário na final, passou com tranquilidade pelo Zenit e pelo Karpaty Lvov nas duas primeiras etapas, mas precisou dos pênaltis para superar o Spartak Moscou e o Ararat nas quartas e na semifinal, após empates em 0 a 0. Porém, o time dirigido pelo lendário Valentin Ivanov (ex-meio-campista da seleção nas décadas de 1950 e 1960) reunia um punhado de bons jogadores, vinha fazendo campanhas consistentes na liga e chegava à sua quarta final na taça em seis anos, tendo levantado o caneco em 1986.

Numa ensolarada tarde de domingo no Estádio Central Lenin, o Torpedo fez 1 a 0 com o atacante Yuri Tishkov aos 43 do primeiro tempo, mas não levaria a vantagem para o intervalo: Korneev deixou tudo igual na última volta do ponteiro. Na volta para a etapa final, a história começou de maneira inversa: o mesmo Korneev colocaria os Koni em vantagem aos 22 minutos, mas Tishkov empataria aos 30. Até que, a dez minutos do fim, Sergeev marcaria o gol da vitória do CSKA por 3 a 2, a qual encerrava um jejum de 36 anos.

Poucas horas após a conquista, uma tragédia encurtou as comemorações. Ao voltar para casa, o goleiro Mikhail Yeremin sofreu um grave acidente rodoviário quando um dos pneus do carro em que viajava estourou, fazendo o veículo perder o controle e entrar na pista em sentido contrário, colidindo de frente com um ônibus. Um amigo de Yeremin que dirigia o automóvel morreu na hora. O arqueiro foi levado a um hospital, onde ficou internado por uma semana, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu aos 23 anos.

Mikhail Yeremin

Os jogadores do CSKA receberam a notícia do acidente na manhã seguinte. Dali a três dias havia o importante duelo com o Shakhtar, vice-líder, em Moscou. O elenco pediu o adiamento do jogo, mas não foi possível. Na emergência, o goleiro reserva Aleksandr Guteyev foi escalado na meta, mas o time não dispunha do menor ânimo para atuar. Ainda assim o jogo foi parelho: os Koni foram buscar o empate duas vezes após estarem atrás por 2 a 0 e 3 a 2. Mas no fim, os visitantes marcaram de novo e venceram por 4 a 3.

No dia seguinte à morte de Yeremin seria a vez de enfrentar o Dnepr fora de casa. Os jogadores do CSKA queriam a vitória para homenagear o goleiro. Mas o resultado começou a ser decidido nos bastidores. Na véspera do jogo o técnico do adversário foi procurado por homens do governo com a proposta do empate, o que acabou acontecendo em campo. O primeiro tempo terminou com o placar de 2 a 1 para os moscovitas, mas depois que Mykola Kudritsky fez o 2 a 2 aos 38 do segundo tempo, o jogo estagnou.

Naqueles minutos finais, os jogadores dos dois times se limitaram a trocar passes no meio-campo sob vaias dos 14 mil espectadores (incluindo os torcedores visitantes do CSKA). Aquela forma de “homenagem” não foi bem recebida. E, compreensivelmente, os Koni atravessaram então seu período mais oscilante da campanha, chegando a ficar cinco jogos sem vencer, após ter de buscar o empate em 1 a 1 diante do Chernomorets em Odessa e de perder o outro clássico para o Spartak por 1 a 0, gol de Aleksandr Mostovoi.

A má fase só se encerrou quando o clube decidiu recrutar no rival Dínamo um novo goleiro para assumir a titularidade. Um jovem promissor, prestes a completar 23 anos, que defendera a seleção campeã olímpica em Seul, em 1988, mas que estava na reserva em seu clube e não vinha recebendo chances. Seu nome era Dmitri Kharine e sua adaptação foi muito rápida e satisfatória: “Ele entrou como se tivesse jogado com a gente a vida toda”, lembrou o capitão Dmitri Kuznetsov em entrevista de 2014 ao site Sports.ru.

A acirrada reta final

Kharine estreou num jogo marcante da campanha pelos incidentes em seu desfecho: em Yerevan, o CSKA venceu por 1 a 0 (gol de Sergeev num contra-ataque a seis minutos do fim) um Ararat que jogava com a bandeira da Armênia independente estampada na camisa. O clima político na região do Cáucaso era pesado, especialmente em Nagorno-Karabakh, para onde um contingente expressivo das forças de segurança soviéticas havia sido deslocado. O parco policiamento não foi suficiente para conter a fúria da torcida local.

Após o apito final, uma multidão arremessou pedras na direção dos atletas do CSKA e em seguida invadiu o campo, agredindo um dos bandeirinhas e o técnico Pavel Sadyrin, além de perseguirem os jogadores visitantes, que se trancaram por duas horas nos vestiários até que a situação fosse contornada. A vitória manteve o time na liderança, mas a sequência oscilante anterior fez com que a gordura de pontos acumulada fosse se queimando e permitiu a perigosa aproximação de um tarimbado concorrente: o Spartak.

A arrancada dos alvirrubros veio com os pontos somados nos vários jogos atrasados que tinham por cumprir. Entre a partida do CSKA contra o Ararat, em 19 de julho, e o jogo seguinte dos Koni contra o Metalurh, em 2 de agosto, o Spartak jogou e venceu três vezes: 3 a 1 no Shakhtar, 3 a 2 no Dynamo Kiev e 2 a 0 no Dnepr (as duas últimas como visitante). Temporariamente chegou a assumir a ponta da tabela, um ponto à frente do CSKA, mas com um jogo a mais. De todo modo, apresentava-se como postulante ao título.

Com a taça, o capitão Dmitri Kuznetsov e o meia-atacante Igor Korneev

Assim, a reta final se tornaria uma verdadeira perseguição de gato e rato entre os dois rivais de Moscou. Graças a um tropeço do Spartak ao empatar em casa com o Chernomorets em 1 a 1, o CSKA ainda consegue se manter na ponta por um tempo ao golear o Metalurh por 4 a 0, empatar na visita ao Spartak Vladikavkaz (1 a 1) e vencer apertado o Pamir Dushanbe por 2 a 1 na capital. Mas quando parou num 0 a 0 fora de casa contra o Patakhor, os alvirrubros assumiram a ponta ao golearem o Dínamo Minsk por 4 a 0.

Enquanto o CSKA parecia jogar no limite, empatando em casa em 0 a 0 com o Dynamo Kiev e vencendo o Torpedo fora de casa por 2 a 1 nos minutos finais, o Spartak obtinha seus resultados bem mais facilmente: após um tranquilo 2 a 0 na visita ao Lokomotiv, a equipe treinada por Oleg Romantsev aplicou uma surra histórica no rival Dínamo Moscou: 7 a 1. Faltavam quatro rodadas para o fim do campeonato. E por algumas semanas, em meio a aquela disputa, o CSKA precisou virar a chave: a Recopa europeia o aguardava.

De cara, o adversário era nada menos que a Roma de Giuseppe Giannini, Aldair, Rudi Völler e Thomas Hässler. Derrotado por 2 a 1 no jogo de ida em Moscou em 18 de setembro, o CSKA jogou tudo na partida de volta duas semanas depois na capital italiana. Fez 1 a 0 aos 13 minutos com Dmitriev e deixou a torcida giallorossa em suspense. Nos minutos finais, Sergeev (que viera do banco de reservas) chegou a marcar o segundo, anulado sem motivo aparente pelo árbitro. Teria sido o gol da classificação que não veio.

Entre as duas partidas pela copa continental, os Koni seguiram vivos na briga pelo título soviético ao vencerem o Lokomotiv em casa por 3 a 1 em 27 de setembro. Já o Spartak, curiosamente após o massacre sobre o Dínamo entraria em declínio, deixando pontos nas visitas ao Pamir Dushanbe (empate em 2 a 2) e ao Pakhtakor (derrota por 1 a 0). O CSKA, que derrotou o Dínamo Minsk por 3 a 1 em casa pela 28ª rodada, abriu dois pontos de vantagem sobre os alvirrubros com os dois tendo somente um par de jogos por fazer.

E foi assim que ambos chegaram àquela que se revelaria a rodada na qual se conheceria o último campeão soviético da história, em 27 de outubro, um domingo. Como os dois clubes que dividiam o Estádio Central Lenin teriam, pela tabela, de jogar como mandantes simultaneamente, a partida do CSKA contra o Dínamo Moscou foi transferida para o estádio do Torpedo – que, por coincidência, seria o adversário do Spartak naquela tarde. Mas mesmo com essa vantagem, os alvirrubros foram surpreendidos logo de saída.

A televisão estatal soviética ainda exibia as primeiras trocas de passes entre os defensores do Dínamo quando teve de abrir o sinal do Estádio Central Lênin: o Torpedo teria um pênalti para bater contra o Spartak no primeiro minuto. Andrei Kalaychev não desperdiçou, deixando o CSKA indiretamente muito perto da conquista. Mas quando Mostovoi empatou para os alvirrubros aos 18 minutos, a definição voltava à estaca zero. E assim seguiria pelo resto da primeira etapa: os dois jogos chegariam empatados ao intervalo.

Mas na volta, o CSKA não teria de esperar muito para abrir o placar: aos quatro minutos, um belo passe por elevação de Broshin encontrou Galiamin entrando na área. Com desenvoltura, o lateral dominou já tirando do marcador, driblou o goleiro Andrei Smetanin e ainda fintou outro defensor caído antes de tocar para as redes: 1 a 0. No outro jogo, o Spartak teve aos 28 a chance de passar à frente quando Dmitri Radchenko caiu na área e o árbitro apitou pênalti. Mas Valery Karpin bateu mal e Aleksandr Podshivalov defendeu.

Para não haver mais dúvidas de que o título ficaria com o CSKA, o Torpedo ainda chegou à virada aos 36 minutos, numa cobrança de falta em dois toques que Yuri Tishkov mandou às redes, sem dar chance a Stanislav Cherchesov na meta alvirrubra. E ao apito final, a celebração dos campeões foi embalada pelos torcedores com o mesmo cântico que o técnico havia se acostumado a ouvir em seu tempo de Zenit: “O melhor treinador do mundo, Pavel Sadyrin”. Enquanto isso, os atletas jogavam o comandante para o alto.

Uma nova realidade

“Pavel encontrou uma abordagem individual para cada jogador. Ao chegar ao clube, ele rompeu com o sistema anterior e fez com que os dirigentes parassem de interferir no trabalho da equipe, e passassem apenas a apoiá-lo em qualquer objetivo. A atmosfera no time era incrível”, relembra Galiamin, o autor do gol do título. “E essa temporada foi especial, porque entendemos que o futebol do país não seria mais o mesmo. Em setembro/outubro já sabíamos com certeza que este era o último campeonato soviético”.

Aquele também era um campeão que vivenciou o colapso estrutural decorrente do desmonte do regime. Sem muito investimento, os atletas com frequência utilizavam uniformes emprestados pela equipe de handebol do clube, dormiam num alojamento em que as camas afundavam no chão e, após o desastre automobilístico que matou Yeremin, tiveram de trocar os deslocamentos de ônibus pelo país por aviões cargueiros, onde o elenco viajava para as partidas fora de casa dividindo espaço com caixotes de frutas.

Nem mesmo essas condições impediram a equipe de encerrar o jejum de 21 anos e levantar seu sétimo título da liga, completando a terceira dobradinha nacional de sua história. Curiosamente, ambos os títulos conquistados naquele ano valeram vagas europeias: além de disputar a Recopa de 1991/92 graças ao caneco da copa soviética, o CSKA também disputaria a Copa dos Campeões de 1992/93 (já que, devido ao calendário, o desfecho da liga só acontecia já com a temporada europeia de 1991/92 em andamento).

Pavel Sadyrin é jogado para o alto pelo elenco

Na principal competição continental, aliás, o CSKA protagonizaria a maior surpresa da temporada ao eliminar simplesmente o Barcelona, detentor do título, na segunda fase eliminatória com um empate em 1 a 1 em Moscou e uma sensacional vitória por 3 a 2 no Camp Nou. Porém na fase de grupos, rebatizada “Liga dos Campeões”, a campanha seria fraca: tendo de mandar seus jogos na Alemanha, os Koni somaram só dois pontos na chave com o timaço do Olympique de Marselha, um forte Glasgow Rangers e o Club Brugge.

Naquela temporada, a equipe não era mais dirigida por Pavel Sadyrin, que em julho de 1992 foi apontado como o primeiro técnico da nova seleção da Rússia. Antes, sob o nome de Comunidade dos Estados Independentes, a ex-União Soviética havia disputado a Eurocopa na Suécia, levando no elenco o goleiro Dmitri Kharine e os meias Dmitri Kuznetsov e Igor Korneev – além deles, Galiamin, Tatarchuk e Sergeev haviam participado das Eliminatórias e da fase de preparação, mas não figuraram na lista final.

Na época do torneio de seleções, no entanto, Korneev, Galiamin e Kuznetsov (que chegou a ser sondado por Everton, Blackburn e Verona, mas recusou) já não integravam o elenco do CSKA, todos os três negociados com o Espanyol. Outros nomes, no entanto, sequer tiveram a sorte de seguir para uma liga mais competitiva da Europa Ocidental: Broshin e Fokin foram atuar no futebol finlandês, Dmitriev se transferiu para o pequeno Stahl Linz, da Áustria. E Tatarchuk, por sua vez, foi defender o Slavia Praga.

Em 1994, quando Pavel Sadyrin enfrentou uma crise de comando na seleção russa, em que vários dos astros da equipe se recusaram a disputar a Copa do Mundo nos Estados Unidos, ele recorreria a Kharine, Galiamin, Korneev e Dimitri Kuznetsov, alguns de seus atletas dos tempos do CSKA, para a formação do time. Porém, o insucesso da seleção, que caiu ainda na primeira fase do Mundial, levou à queda do técnico, que anos depois voltaria a dirigir os Koni em duas passagens, antes de falecer em 2001, aos 59 anos.

Nos primeiros anos após a dissolução da União Soviética (decretada em 26 de dezembro de 1991) o CSKA voltou a cumprir campanhas apenas medianas, num cenário em que o Spartak recuperou a hegemonia. Nos primeiros anos do novo século, no entanto, os Koni emergiram como a nova potência do país, em grande parte graças a talentos brasileiros. A partir de 2003, levantaria seis títulos russos (quase o mesmo número que havia vencido na era soviética) e sete copas (mais que as cinco que conquistara no período anterior).

Como se não bastasse, ainda se tornaria o primeiro clube russo a conquistar um título europeu, o da Copa da Uefa (atual Liga Europa) de 2005, ao bater o Sporting dentro do Estádio José Alvalade por 3 a 1, com uma equipe que incluía os brasileiros Daniel Carvalho e Vágner Love e o patrocínio da Sibneft, corporação de petróleo e gás do bilionário Roman Abramovich. Panorama bastante distinto do daquele time que teve de superar diversos percalços – e até a tragédia – para levantar o derradeiro caneco da União Soviética.

Foto de Emmanuel do Valle

Emmanuel do Valle

Além de colaborações periódicas, quinzenalmente o jornalista Emmanuel do Valle publica na Trivela a coluna ‘Azarões Eternos’, rememorando times fora dos holofotes que protagonizaram campanhas históricas.
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