Pirlo volta à Itália para encabeçar a reconstrução da Sampdoria na Serie B
Queimado na Juventus e sem emplacar no Campeonato Turco, Pirlo foi escolhido para ser o técnico da Sampdoria num momento de recuperação do clube após o rebaixamento

Andrea Pirlo retomará sua carreira como treinador no futebol italiano. Porém, desta vez o velho craque recomeçará num ambiente mais modesto, com a missão de reconstruir um clube histórico em apuros. Nesta terça-feira, Pirlo foi anunciado como novo treinador da Sampdoria. Os blucerchiati foram rebaixados com sobras na Serie A 2022/23 e tentam se reerguer de um momento também instável em seus bastidores, inclusive com troca de proprietários. Pirlo servirá como um nome forte no Estádio Luigi Ferraris e tentará recobrar a grandeza da Samp, enquanto também busca estabelecer sua carreira como técnico. O ex-volante não deixou saudades quando assumiu uma Juventus em declínio, queimado pela diretoria do clube. Desde então, teve uma curta e apagada passagem pelo futebol turco.
A Sampdoria assinou com Pirlo por duas temporadas, em contrato válido até junho de 2025. O novo treinador chega acompanhado por Nicola Legrottaglie, seu antigo companheiro nos tempos de jogador, que será o novo chefe de desempenho dos blucerchiati. A apresentação oficial da nova comissão técnica da Samp acontecerá nesta quarta-feira.
Pirlo ainda tenta emplacar como treinador
Desde os tempos de jogador, Andrea Pirlo indicava sua aptidão para se tornar treinador. A visão de jogo exibida dentro de campo respaldava o meio-campista em sua nova empreitada. E a primeira ideia de começo na Juventus parecia adequada ao velho maestro: duas temporadas após pendurar as chuteiras no New York City FC, Pirlo assumiria o time sub-23 da Velha Senhora. Já tinha realizado sua formação como treinador e teria uma experiência inicial com jogadores jovens, na terceira divisão do Campeonato Italiano. Estaria num ambiente ao qual também estava acostumado, após quatro temporadas bem sucedidas com a camisa bianconera.
Entretanto, a Juventus preferiu acelerar o processo e trocou os pés pelas mãos. Uma semana depois de seu anúncio como técnico do time sub-23, Pirlo foi oficializado como novo comandante do time principal. A decisão precipitada do presidente Andrea Agnelli se dava logo após a demissão de Maurizio Sarri, com a eliminação na Champions League 2019/20. O dirigente sequer deu tempo para especularem um substituto, ao anunciar a promoção de Pirlo. Preferiu não gastar muito com seu novo técnico, diante da pesada rescisão de Sarri. Como se suspeitava, porém, o ex-volante não estava tão preparado para o tamanho do problema.
Pirlo encontrou uma Juventus em declínio na temporada 2020/21. A Velha Senhora lidava com o envelhecimento do elenco e uma transição de protagonistas que não emplacou. Era uma equipe que seguia dependente de Cristiano Ronaldo, mas que não exibia um conjunto tão forte para manter seu patamar. Resultado: depois de oito títulos consecutivos, a Juve perdeu o Scudetto, longe de competir com a Internazionale pelo topo da Serie A. A Copa da Itália serviu de prêmio de consolação, mas nada suficiente para sustentar o cargo de Pirlo. A mesma pressa que existiu para promovê-lo também se repetiu para queimá-lo, sem qualquer paciência em seu desenvolvimento na nova função. O treinador acabou demitido com apenas um ano no posto, diante da volta de Massimiliano Allegri já engatilhada.
Desempenho de Pirlo como técnico da Juve em 2020/21:
- Quarto colocado na Serie A, com 78 pontos, 13 a menos que a campeã Inter
- Eliminado nas oitavas de final da Champions League pelo Porto
- Campeão da Copa da Itália, ao vencer a Atalanta na decisão
- Aproveitamento de 72% dos pontos, com 34 vitórias em 52 jogos
O que alivia um pouco a barra para Pirlo é que, nas duas últimas temporadas, a Juventus deixou mais claro como o problema não se limitava à escolha do treinador. Massimiliano Allegri não conseguiu dar um jeito nos problemas do clube, com o enfraquecimento ainda mais expresso na tabela da Serie A. Além disso, os entraves financeiros atravancam mais à Velha Senhora, bem como o episódio de fraude que culminou na saída do presidente Andrea Agnelli e na perda de pontos na última temporada.
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A aventura na Turquia não deu frutos
Sem muito respaldo para assumir um clube de primeira prateleira, Pirlo resolveu aceitar uma proposta do futebol turco após ficar um ano sem equipe. Em junho de 2022, o italiano chegou ao comando do Fatih Karagümrük, um time que retornara à primeira divisão local fazia pouco tempo e tentava se fortalecer a partir da contratação de medalhões – como tão comum na Süper Lig. Pirlo teve à sua disposição uma pequena legião italiana, incluindo o goleiro Emiliano Viviano e o ponta Fábio Borini. Outras figuras tarimbadas eram Mbaye Diagne, Sofiane Feghouli e Colin Kazim-Richards. Todavia, o investimento não deu o resultado esperado.
Em sua terceira temporada consecutiva na primeira divisão, o Fatih Karagümrük terminou na sétima colocação do Campeonato Turco. Ficou uma posição acima das duas campanhas anteriores, mas não conseguiu alcançar as copas europeias. Pirlo demorou a engrenar e a equipe frequentou a parte inferior da tabela no início da Süper Lig. Os resultados melhoraram na virada dos turnos, o suficiente para livrar os riscos de rebaixamento, mas não ainda para aliviar a barra de Pirlo. O treinador foi demitido a três rodadas do fim da competição, após uma goleada sofrida diante do Trabzonspor. A justificativa era de que ele não ficaria para 2023/24, com o planejamento redirecionado.
Depois de 34 partidas, Pirlo conquistou apenas 11 vitórias com o Fatih Karagümrük. O treinador teve um aproveitamento de 43% dos pontos disputados. Além da campanha insuficiente para as pretensões no Campeonato Turco, o time caiu nas oitavas de final da Copa da Turquia, eliminado nos pênaltis pelo Istambul Basaksehir. O italiano não apresentou grandes predicados na casamata.
A Sampdoria será uma bomba para Pirlo desarmar
A Sampdoria foi, com sobras, o pior time da Serie A nesta temporada. Os blucerchiati somaram míseros 19 pontos em toda a campanha, a 12 pontos de escaparem do rebaixamento. Marco Giampaolo iniciou o campeonato no comando técnico e, em outubro, foi substituído por Dejan Stankovic. O sérvio se indicava como uma boa escolha, não apenas pelo histórico vitorioso como jogador na Serie A, como também pelo trabalho recente à frente do Estrela Vermelha. Nem ele conseguiu dar jeito nas dificuldades da Samp.
Entretanto, o caos interno da Sampdoria não era limitado ao que acontecia dentro de campo. O clube vinha de meses bastante turbulentos, que incluíram até mesmo a prisão do presidente Massimo Ferrero, investigado por fraudes financeiras em outras empresas das quais é dono. Enquanto isso, a situação da Samp ficava à deriva, com os imbróglios envolvendo seu acionista majoritário. Existia um risco real de falência por conta das dívidas, enquanto Ferrero tentava bloquear um processo de venda. Isso poderia levar o clube a ter que recomeçar sua caminhada na Serie D.
Os piores temores da Sampdoria não se cumprirão. A compra do clube está encaminhada. O novo proprietário será Andrea Radrizzani, responsável pelo retorno do Leeds United à Premier League, apesar da queda recente. A chegada do empresário italiano a Gênova ainda não foi oficializada, mas há um acordo com Massimo Ferrero desde o fim de maio. Neste ínterim, Radrizzani vendeu sua participação no Leeds para uma empresa americana, embora continue como dono de Elland Road – e usou o estádio como garantia bancária para adquirir a Samp.
A Sampdoria também teve seu balanço financeiro aprovado e está confirmada na próxima edição da Serie B. A primeira missão de Pirlo será a de orientar a remontagem do elenco, entre a chegada de reforços e a saída de nomes que não seguraram a barra na primeira divisão. Será um processo longo, com a Samp pressionada depois do acesso do rival Genoa nesta temporada e das próprias dificuldades internas. Se conseguir ter sucesso na empreitada, ao menos, o velho maestro poderá realmente se projetar como um técnico de futuro – o que não ficou provado na Juventus ou no Fatih Karagümrük.