Mourinho resume seu pensamento: “Vencer é o mais importante, não vender filosofia ou desculpas”
Um dos treinadores mais marcantes da sua geração, Mourinho deu entrevista falando sobre a sua forma de pensar o futebol e a gestão de um time de futebol

José Mourinho é um dos nomes mais badalados do futebol nos últimos 20 anos e não é por acaso. Seus títulos falam por si, desde os continentais com o Porto, incluindo uma Champions League, até o sucesso que teve por Chelsea, Inter de Milão, Real Madrid e mais recentemente na Roma, onde conquistou o primeiro título continental do clube com a Conference League. O treinador deu uma entrevista bastante interessante ao Gameplan A, da Adidas, em que falou sobre o seu estilo e também a sua história.
O tradutor que virou técnico
A primeira incursão de José Mourinho no mundo profissional não foi nada relacionado ao que ele faz hoje. Ele tentou um curso de administração na universidade. “Eu era um estudante muito bom. Então, eu consegui um lugar na Universidade de Economia e fui para as aulas, mas depois de algumas semanas, decidi que isso não era para mim”, contou.
O então jovem José foi estudar outra coisa: ciência do esporte. Mudou o seu curso e o destino que ele queria para si mesmo. Mas o lugar ao sol não aparece para todo mundo e para o aspirante a treinador, a oportunidade veio de um jeito curioso: como tradutor. Não por acaso: Mourinho sabia falar inglês, espanhol, francês e, obviamente, o português, sua língua mãe.
Foi quando Bobby Robson, lendário ex-jogador e técnico, foi contratado pelo Porto, em 1994, que a chance de Mourinho surgiu. Robson era um nome dos mais importantes daquela época, mas não sabia falar português. Mourinho, então, se tornou o seu tradutor. Não demorou para que o seu conhecimento o fizesse se tornar um auxiliar do técnico inglês, o acompanhando inclusive ao Barcelona. Depois disso, fez o seu próprio caminho como treinador.
“Ele precisava da minha ajuda naquele nível e um assistente tem que ser um assistente. Mesmo agora, eu digo aos meus assistentes: você tem que fazer tudo pelo seu chefe, como eu fiz”, declarou Mourinho. “De trabalhar com Sir Bobby Robson em Portugal, eu fui com ele para Barcelona em 1996, o que para um cara jovem como eu foi uma experiência incrível. Então eu fui assistente de (Louis) Van Gaal, que era um técnico completamente diferente do Sir Bobby e isso me fez ter consciência de duas filosofias completamente diferentes”, contou ainda o técnico.
Desde o começo da carreira, Mourinho valorizou a sua capacidade de comunicação. Não por acaso ele foi autor de grandes frases. “Não é possível ser um técnico do mais alto nível sem falar diferentes línguas. O futebol se tornou universal. No vestiário, você tem caras de diferentes nacionalidades e é claro que você tem que aprender a língua do país que você está. No final, você tem que ter mais empatia e para comunicar melhor com as pessoas com quem você está trabalhando, você tem que ser muito bom em diferentes línguas”, explicou Mourinho.
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Vencer não é só sobre ganhar títulos
O verbo vencer é algo que está muito presente no vocabulário de José Mourinho. E ele foi muito bem na carreira nesse sentido, com 24 títulos ao longo de toda a sua trajetória, inclusive dois da Champions League. Mas vencer não se trata só de ganhar títulos, como o próprio Mourinho explica.
“Quando vejo colegas lutando contra o rebaixamento e conseguindo manter seus times na divisão, para mim, isso é vencer. Vencer não é necessariamente sobre ser quem leva o título. Ganhar não significa levar para casa uma medalha ou uma taça”, disse. “Eu tenho colegas que não ganharam um único título em suas carreiras. Para mim, eles são vencedores porque eles alcançam seus objetivos”.
O modo de pensar de Mourinho tem muito a ver com vencer. Mesmo que a vitória não seja necessariamente o título, a mentalidade é vencer, sempre. “Isso é a coisa mais importante no nosso esporte, que é o futebol: vencer, não vender filosofia. Não é vender desculpas. É ser um vencedor”, diz.
Gerenciamento de pessoas: saber ouvir é fundamental
“Você tem que ter uma personalidade forte para dizer: ‘Eu sou o chefe, eu tomo as decisões. Isso não é negociável’. Se o treinamento começa às 10h, não espere um minuto sequer. Nem se você for Diego Maradona, que eu nunca tive o prazer de treinar, começar às 10h é começar às 10h”, explicou o técnico.
“O time é o mais importante. Mesmo se você é o melhor jogador do mundo. Um jogador com o maior status no clube: o time é a coisa mais importante”, continuou Mourinho, sempre dando muita importância ao coletivo, algo que é fácil de perceber em seus times em campo.
O treinador ainda explicou um pouco da sua abordagem dizendo que é importante ouvir os jogadores. “Como técnico, você tem que ser suave e forte. Talvez suave não seja a palavra certa, você tem que ser aberto, muito aberto para o que os jogadores pensam, o que os jogadores sentem, e não apenas ficar com suas próprias ideias, porque você trabalha com um grupo”, afirmou o português. “O grupo precisa ter uma voz. Precisa ter uma opinião, precisa compartilhar. E você precisa estar aberto com os jogadores para fazê-los trabalharem como time”.
A experiência que ajuda a ter equilíbrio
Mourinho ainda comentou sobre a importância de equilíbrio e isso ganha ainda mais peso em um ambiente de tanta paixão quanto é a Roma, conhecida pelos seus torcedores sempre participativos e muito intensos — algo que ele mesmo sentiu quando chegou à cidade, assim como estrelas que vieram depois dele, como Paulo Dybala e Romelu Lukaku.
“Você ganha três partidas seguidas, mas não é o paraíso, porque uma derrota está chegando. Você perde duas, três partidas seguidas, também não é o inferno, porque você vai sair desse momento ruim, você vai vencer de novo”, explicou.
“É muito importante manter o equilíbrio e isso é algo que aprendi muito com a experiência. Acho que quanto mais experiente você fica, mais equilibrado você é — e os jogadores, eles te olham e veem uma rocha, assim como alguém que eles podem confiar”.
“Sabe, empatia significa que todo mundo está no mesmo projeto. Um clube é feito de muitas pessoas. Donos, diretores, técnicos, jogadores. Todo mundo. E empatia para mim significa que todo mundo está indo na mesma direção”.